Faça Parte

Marcionílio Pinheiro: uma década de saudade

Domingo, 4 de dezembro de 2005, Botafogo e Fortaleza jogavam pela última rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano. No duelo, a disputa por uma vaga na Copa Sul-Americana do ano seguinte. A partida foi vencida pelo alvinegro carioca por 2 a 0. Cerca de 20 torcedores do Leão se deslocaram até a cidade maravilhosa para assistir ao jogo.

Entre eles, estava Marcionílio Pinheiro Gomes, de 28 anos, presidente da Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF). Totalmente contrário a qualquer tipo de violência, Marcionílio era bastante conhecido pelo seu comportamento. Uma pessoa simples, cuidadosa e simpática. Como comecei a frequentar estádio naquele ano, tenho algumas recordações que pretendo levar para minha vida inteira.

Falei com Marcionílio pela primeira vez numa tarde de domingo, enquanto ele preparava a TUF para o jogo daquele dia. Tinha apenas 9 anos de idade na época. Quando cheguei até ele, fez questão de largar tudo para me cumprimentar e perguntar o meu nome. Em seguida, respondeu: "Rafael? O meu é Marcionílio". Logo, eu falei: "Marci... Como?". "Marcionílio!" - completou-o em tom de bom humor. Assim começava minha admiração pelo presidente.

Outra recordação que encaro como um dos maiores aprendizados que tive ocorreu numa manhã de domingo, quando eu e alguns componentes da TUF nos reunimos na antiga sede social para conversar e organizar a torcida para o jogo da tarde. Tudo ia bem, até chegar à notícia de que uma senhora estava passando mal bem próximo de onde estávamos. Marcionílio, num gesto quase automático, largou tudo e foi ajudá-la. Assim que a mesma se recuperou, foi até a sede para conversar com o nosso presidente.

Marcionílio decidiu ir ao Rio de Janeiro após receber um resultado positivo na faculdade. Seu irmão, Addler Pinheiro, chegou a pedir para ele não ir, mas o sentimento pelo Tricolor de Aço falou mais alto. A viagem foi tranquila na ida. Após o apito final, o pior aconteceu.

O ônibus onde estavam Marcionílio e os demais torcedores foi cercado por criminosos. Armados, atacaram o veículo e dispararam contra o mesmo. Dois tiros atingiram o presidente, sendo um na barriga e outro no pescoço. Infelizmente, ele não resistiu. Não resistiu ao que ele tanto era contra. Não resistiu por uma atitude covarde.

Banner de homenagem a Marcionílio Pinheiro (Foto: GRES Leões da TUF)
Dez anos se passaram. A saudade só cresce. Entre seus familiares e amigos, restam as boas lembranças de um homem totalmente dedicado a tudo. Sim, é triste saber que não podemos contar com sua presença física, mas a popular frase reflete no nosso comportamento nos estádios: "No peito de cada TUF bate o seu coração".

"Morre um homem, nasce uma lenda"

Postar um comentário

0 Comentários