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Aquecimento Olímpico: Rugby Sevens - entrevista com Beatriz Futuro

Mão, bola, chão: Baby Try

Focada em um objetivo, é assim que a atleta de Rugby, Beatriz Futuro Mühlbauer encaminha sua vida. Acompanhando a irmã Cristiana Futuro Mühlbauer, ex-jogadora e atualmente árbitra do esporte, a pequena "Baby", menina de 13 se encantou pelo dinamismo apresentado no jogo, a necessidade de entrega total e a própria cultura a fizeram se apaixonar. Em 2016, mais experiente, o seu objetivo principal é a Olimpíada no Rio de Janeiro.


Heptacampeã sul-americana, Baby busca a medalha olímpica em 2016 (Foto: Estadão)
Para os Jogos Olímpicos é necessário um preparo psicológico e um consciente trabalho da parte física e técnica dos jogadores.  Todo o clima observado no Pan-Americano de Toronto foi considerado uma experiência para agosto, assim como o Evento-Teste, as viagens e recentes competições. Com o ciclo olímpico e o retrospecto de vitórias, o time brasileiro feminino é um dos favoritos a conquista de uma medalha nos Jogos.

“A medalha olímpica é um sonho. Acreditamos que existe uma possibilidade de sairmos medalhistas, mas temos os pés no chão e sabemos onde estamos no cenário mundial. Não estamos participando de todas as etapas do Circuito Mundial e isso nos prejudica um pouco na soma de pontos, tanto que caímos da 9° colocação para a 11° do Circuito Mundial por causa dessa ausência na última etapa, assim fica muito difícil de manter o Brasil no Top 10 do esporte, porém temos um desafio de chegar entre o TOP 6, talvez o TOP 4. O jogo de Sevens proporciona isso, ele é um esporte muito traiçoeiro, onde qualquer piscada de olho pode mudar a partida. O dinamismo do Sevens faz com que seleções menores possam ganhar de outras seleções mais tradicionais, essas coisas acontecem e o tempo é muito curto para permitir erros. Nossos treinamentos estão fortes para sabermos aproveitar todos os vacilos que os adversários derem, e conseguir manter o foco nos dois tempos para poder errar o mínimo possível”, explicou a Pilar da seleção medalhista de bronze no Pan de 2015.

Após 92 anos de um hiato, o Rugby retornou ao calendário olímpico, porém ele apresentou algumas mudanças, como a alteração na modalidade disputada. “O Rugby Seven tem algumas diferenças para o XV, o campo tem as mesmas medidas, porém a quantidade de jogadores jogando e o tempo de jogo são bem diferentes. No XV são 15 atletas para cada time e são dois tempos de 40 minutos. Já no Sevens são apenas sete atletas para cada time e o tempo de partida é mais curto, são dois tempo de sete minutos. Existem algumas peculiaridades também dentro de campo, o chute inicial, a maneira que se marca pontos de bonificação, mas no geral são adaptações que são feitas para que o jogo possa manter o mesmo padrão, porém de forma mais reduzida. Por exemplo o Scrum que é uma formação fixa, no XV são oito jogadores para cada lado, e no Sevens são só três disputando. Existem algumas diferenças, mas o jogo mesmo tem o mesmo modo, passe somente para trás e a bola só pode ser avançada com chutes, o esporte não muda muito da modalidade tradicional”, disse a jogadora do Niterói Rugby sobres as experiências com as diferentes modalidades.

Foi na busca da prática da modalidade tradicional do esporte, o Rugby XV que a jogadora Beatriz Baby cresceu e decidiu passar um tempo aprendendo outra cultura do esporte. “Tive uma passagem de um ano e três meses na Austrália. Foi uma experiência muito boa, estar sozinha em outro país jogando o esporte que amo em outra modalidade, porém foi um desafio enorme, pois tinha que trabalhar, estudar e aprimorar o meu inglês. E o que também foi um desafio grande foi quando eu retornei para o Brasil, por estar longe da seleção tinha que buscar meu espaço novamente, fui barrada da seleção pelo treinador na época pois a filosofia dele era que o grupo já estava fechado e que teria que lutar pela convocação. Tive bons resultados físicos e demonstrei minhas qualidades e consegui reconquistar minha vaga tranquilamente.”


Sua experiência e agilidade agregam ao grupo brasileiro (Foto: Betho Alves/Rugby Mania)
Praia, trilha e música MPB equilibram a rotina da atleta de Rugby Beatriz Futuro. Visto como um esporte de muito contato físico, para a Baby, é considerado mais um jogo de evasão. “A ideia do Rugby não é entrar em um combate físico com o adversário, mas a ideia é totalmente ao contrário. É mais estratégico, onde quem está com a bola tenta ultrapassar a defesa e já os defensores tentam controlar essas invasões e dominar a bola para si. No Brasil jogamos somente a modalidade olímpica, como ela é muito mais dinâmica e com pouca quantidade de atletas, aumenta os espaços para fugir do confronto físico. Dizem ser um esporte mais masculino, porém como disputamos o esporte com outras mulheres não existem essa diferença”, ela ainda ressalta como o Rugby é um esporte bacana que atrai adeptos de outros desportos, como judô, atletismo e futebol, o importante é não ter medo, é ter coragem, ainda mais que as regras existem. 



Na cidade olímpica, no Rio de Janeiro, em 1891 havia mais de 60 mil praticantes de Rugby, agora em 2016, o maior legado é conquistar as crianças, pois quando a futura geração começar a jogar, o esporte crescerá. “O desenvolvimento, também, é graças a projetos sociais temos um crescimento significativo e eles vêm dando muito resultado. Atualmente temos muitos projetos espalhados pelo Brasil, o VOR (Vivendo o Rugby) em Curitiba é um dos maiores da Região Sul, temos também o projeto do São José Rugby, o "Projeto Aprendendo e Jogando Rugby" onde eles levam o esporte para as regiões do interior de São Paulo e que hoje contam com cerca de 800 crianças praticando Rugby. Temos na capital paulista  o Bandeirantes Rugby e o SPAC Rugby que tem seus projetos também, sem falar no Sesi que em parceria com o URA Rugby tem levado o esporte para dentro dos colégios municipais. Já aqui no Rio de Janeiro estamos com alguns projetos um pouco menores na região de Niterói, mas que já contam com 50 crianças participando frequentemente.  Creio que todos esses projetos estão entrando gradativamente no cotidiano de todas as crianças e fazendo assim crescer o Rugby nas categorias de base, com isso teremos um crescimento bem grande que chega até a preocupar com a quantidade de locais adequados para a prática do esporte. Hoje o Rugby tem espaço para todos, é um esporte bem democrático em que todos podem se encaixar, desde a setores mais burocráticos ou até mesmo na arquibancada torcendo e disseminado a paixão pelo esporte.”

Devido a volta aos Jogos Olímpicos, o esporte atraiu apoio e patrocínio. A estrutura dos locais de treinamento e jogos elevou o rendimento e possibilitou aumentar o nível de competitividade, porém, ainda há muito que desenvolver e atrair mais pessoas para se encantarem pelo esporte, assim como a jogadora Beatriz Futuro se emociona “Graças a esse esporte ele me proporcionou momentos únicos na minha vida, e por isso eu estou nele e sou completamente apaixonada.”

Ismael Schönardie | @Ismahsantos
Cássia Moura | @cassinha_moura



Agradecimentos: Beatriz Futuro, Ronald Ricardo e Nymue de Medeiros

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