James Tavernier comemora o gol que deu a vitória |
Quando a
jogada é iniciada com uma trama de toque de bola, chega aos pés do meia Harry
Forrester, toca na ultrapassagem de Jason Holt que, na linha fundo, cruza
rasteiro para que James Tavernier, como um autêntico centroavante que não é
(pois é simplesmente o lateral direito da equipe) tocar de prima para o fundo
do gol de Jamie Erwings, do Dumbarton, aos 5 minutos do 2º tempo, a história do
futebol começa a ser recontada sobre a ótica de um dos maiores times da
história. Não digo maiores em relação a títulos importantes ou de jogadores
consagrados, mas sim da história de um esporte que surgiu em meados do século
XIX na península da Grã Bretanha (ou como alguns gostam de chamar, de Reino
Unido).
Pois é, caros
amigos leitores deste blog, estamos deparando com mais um ano histórico para o
esporte mais popular do planeta. Aquele que, em uma Copa do Mundo, pode
mobilizar mais de três bilhões de pessoas a assistir jogos das melhores
seleções em um mês de competição.
Hoje foi a vez
do gigante Rangers F.C (mais conhecido tradicionalmente pelos amantes do
futebol como Glasgow Rangers) de pagar uma dívida histórica com o esporte,
depois de um dos momentos mais difíceis e de um dos golpes mais duros de sua
história ao longo de seus 144 anos de história. Uma equipe de tradição
internacional e que polariza, ao lado do Celtic, como um dos maiores campeões
do país, não poderia amargar mais uma temporada fora da elite.
A equipe que
já contou com grandes nomes, como Colin Hendry, Claudio Canniggia, Tore Andre
Flo, Ally McCoist, Ronald de Boer, Giovanni Van Bronckhorst, Claudio Reyna e
Paul Gascoigne em seu plantel durante todos estes anos, jamais poderia ficar
tanto tempo fora da elite do futebol europeu. Infelizmente más administrações
são a causa dos problemas vividos por muitas equipes e que conta com vários
pedidos de falência já registrada, como o caso do Napoli e do Racing, para ser
mais geral.
Durante estes
anos difíceis que a equipe de Glasgow passou fora da elite nacional, o próprio
futebol escocês teve que amargar, por algum tempo, uma falta maior de
representatividade no cenário europeu, uma vez que todas as forças se
concentravam somente no outro gigante da cidade, o Celtic, que por fim, não
conseguiu dar conta de fazer campanhas tão contundentes no cenário europeu,
como em seu passado.
Tudo começou
no ano de 2012 quando algumas acusações sobre supostas irregularidades
envolvendo o clube, no período em que David Murray era o presidente e grande
acionista do clube. Desde investidas ilegais em ações na Bolsa de Valores até
outros atos mais ilícitos foram apuradas pela justiça escocesa e, durante a
reunião entre os clubes pertencentes da Premiership, a instituição foi
declarada culpada e o Rangers foi expulso da Liga. Em outra votação, envolvendo
os clubes da Championship, League One e League Two, decidiram que o Rangers
poderia retornar a competir, mas como pena sobre o ocorrido, deveria começar da
4ª divisão escocesa. Tudo isso ocorreu após o time se tornar vice-campeão da
edição 2011/2012 e, com isso, perde também a sua vaga na fase preliminar da
Uefa Champions League 2012/2013.
Na temporada
2012/2013, com um desmanche significativo de sua equipe, o Rangers começou o
seu calvário na última divisão profissional do futebol de seu país. Jogando
contra times bem mais inexpressivos e, com isso, terminou a liga com 77% de
aproveitamento e campeão absoluto, com apenas três derrotas em 36 jogos. Mas na
Challenge Cup (que reúne os times das divisões inferiores) foi eliminado nas quartas
pelo Queen Of The South nos pênaltis, além de ser eliminado pelo Iverness em
casa por 3X0 na mesma fase pela League Cup e ser eliminado pelo Dundee United,
também por 3X0 na Scottish Cup.
Na temporada
2013/2014, ainda no estágio de recuperação após o baque sofrido, a equipe
novamente sagrou-se campeã no torneio de pontos corridos, só que pela 3ª
divisão, só que com incríveis 94,5% de aproveitamento, ou seja, seis pontos
perdidos em 108 disputados e com um ataque de 106 gols e uma defesa que sofreu
18. Na mesma temporada, a equipe amargou uma eliminação prematura para o Forfar
Athletic, na primeira fase da League Cup, alem da derrota na semifinal para o
Dundee United, em casa, por 3X1 e o vice-campeonato contra o Raith Rovers,
perdido no final da prorrogação por 1X0 em Edinburg. Mas, ainda sim, significou
uma temporada mais positiva para a equipe e deu ainda mais esperança no acesso
a divisão de elite no ano seguinte.
Na temporada
2014/2015, com uma equipe de mais confiança para chegar a Premiership, começou
uma forte campanha para o acesso, mas tudo indicaria que não seria fácil e o
começo foi com uma derrota para um de seus rivais históricos do futebol
escocês, dentro de casa, o Heart of Midlothian, por 2X1, o mesmo Hearts. Seria
grande responsável por outro revés dos azuis reais e, no fim do campeonato,
levaria o título merecido, fazendo com que os Rangers amargasse a 3º colocação
e teria que disputar os playoffs para o acesso.
Nesta disputa,
os Rangers começariam a sua saga contra o Queen Of The South, onde uma vitória
fora (2X1) e um empate em casa (1X1) o levaria para a disputa de um mata-mata
contra o Hibernian. Duas partidas sofridas e uma vitória (2X0) em casa e uma
derrota (1X0) fora e a chance do acesso ficava mais perto. Mas, eis que o
confronto seguinte, contra o 11º da Premiership, jogava um Iceberg nas
esperanças azuis. Contra o Motherwell, a equipe começou muito mal no Ibrox
Stadium e já perdeu por 3X1 a primeira, fazendo com que o jogo de volta tivesse
que reverter a vantagem do adversário. O pior ainda aconteceu, uma derrota
acachapante por 3X0 no Fir Park e a equipe amargaria mais um ano na
Championship. Ainda nesta temporada, a derrota para o Raith Rovers por 2X1 em
casa nas oitavas de finais da Scottish Cup, para o Alloa Athletic por 3X2 nas
semifinais e a queda no grande clássico para o Celtic, por 2X0, pelas
semifinais da Copa da Liga decretou o fim de uma temporada mais dolorosa para a
equipe durante este calvário.
Na atual
temporada, 2015/2016, a equipe começou a ter que juntar os cacos da decepção do
ano anterior e ter que recomeçar novamente a sua saga, rumo ao acesso à divisão
de elite. Nas copas locais, a equipe teve mais êxito até o momento, embora pela
League Cup, a mesma saiu nas oitavas de finais para o St. Jhonstone, em casa,
por 3X1, mas nada que tirasse o foco durante o resto da temporada. Pela
Challenge Cup, neste final de semana, os azuis disputarão a final contra o
Peterhead, na casa sua cidade, no Hampden Park. Mesmo palco que será jogada a
partida semifinal da Scottish Cup do famoso Old Firm.
Voltando agora
para a Championship, não tem como deixar de mencionar a maravilhosa campanha
que a equipe fez ao longo desta temporada. Jogando um futebol seguro, sem dar
margens para o azar, o time da cidade mais importante da Escócia, conseguiu
alcançar o seu objetivo faltando quatro rodadas para o final e contando com as
estrelas de jogadores como Kenny Miller, do artilheiro Martin Waghorn, de Jason
Holt e do lateral artilheiro e herói, James Tavernier. Jogadores estes que
foram responsáveis por boa parte dos 83 gols da equipe em 32 jogos e por toda
esta euforia vivenciada por sua torcida no mundo inteiro depois de confirmada o
acesso.
A partida
contra o Dumbarton foi antecipada por conta dos compromissos da equipe e,
também, por conta da partida que envolvia o único time que poderia ameaçar o
seu acesso. O Hibernian jogou no mesmo horário que o Rangers, e virou uma
partida complicada contra o Livingston por 2X1 em casa. Com isso, somente a
vitória daria o acesso e consequentemente o título, ao Rangers. E ela veio
justamente no minuto 50 de jogo. Nada poderia ser melhor para os azuis do que
esta conquista merecida em campo. O jogo se mostrou bem tranquilo para o líder,
que criou inúmeras chances na partida e pouco deu chances ao adversário de
fazer algo durante o jogo. Os mesmos se mostraram seguros e martelavam pelo gol
a todo instante. Foi aquela clássica partida decisiva, onde, mesmo com toda
qualidade técnica em jogo, a partida em si se mostra mais tensa e as chances de
gol desperdiçadas causam intenso desespero para os jogadores e a torcida. Mas
no fim, a vitória veio e o acesso ocorreu de forma merecida.
Uma menção
honrosa a se fazer nesta crônica é em homenagem ao autor do gol do acesso,
James Tavernier. Um lateral que guarda um estilo de jogo muito parecido com
Glenn Johnson, além de alguns brasileiros importantes no futebol europeu, como
Cafu e Maicon (guardadas as devidas proporções) foi um jogador que teve sua
base no Leeds United até ser transferido para o Newcastle United, por onde o
mesmo nunca se afirmou como jogador e sempre era emprestado para equipes
menores do futebol inglês, até parar no Rangers e mostrar sua devida
importância como jogador para a equipe. Será eleito facilmente o melhor lateral
da Championship e, porque não, um dos grandes laterais do futebol escocês.
Plano tático do jogo: Rangers F.C (esquerda) X Dumbarton F.C (direita) |
Escalações de Rangers F.C (esquerda) X Dumbarton F.C (direita) |
Parabéns
Rangers F.C (ou o popular Glasgow Rangers). Que permaneça sempre no lugar de
onde nunca deveria ter saído e que seja a chave de esperança para a
ressurgência do futebol escocês em âmbito internacional.
Por Marcos Paulo Fernandes Alves
Por Marcos Paulo Fernandes Alves
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