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Tensão, sofrimento e alívio: Bahia nas semifinais da Copa do Nordeste

Uma das marchinhas/cânticos mais famosos da torcida do Esquadrão pergunta: "Quem é que tranquiliza os corações?". Na canção - imortalizada na voz de CÂNONES como Gilberto Gil e Novos Baianos - o coro responde: "Ééééé o Bahia...". Mas a julgar pela partida deste domingo entre Bahia e Fortaleza, talvez a letra deva ser revisitada para "QUEM É QUE DESESPERA OS CORAÇÕES?".

O Bahia tinha boa vantagem conquistada na quarta feira passada com o triunfo de 2 X 1 na Arena Castelão. Tinha o apoio da torcida. E teve um pênalti a seu favor marcado logo aos cinco minutos de jogo. Motivo suficiente para abrir o saco de confete e iniciar as comemorações da vaga na semifinal? Não no caso do Bahia. No exato momento que o tiro livre cobrado por Thiago Ribeiro encontrou as luvas de Ricardo Berna uma espécie de feitiço tomou conta do time: Ninguém sabia o que estava fazendo ali e nem porque estavam correndo em campo. O Bahia passou a ser mero espectador do jogo no qual deveria ser protagonista.

Apenas um evento sobrenatural explicaria os minutos que se seguiram. O Fortaleza empilhou chances desperdiçadas parando na trave ou na ruindade do atacante Anselmo que não aproveitou duas oportunidades claríssimas. O torcedor do Bahia deve ter emulado Tiririca [o deputado, não o ex-presidente] "Pior que tá não fica". Fica sim. Paulo Roberto deu uma botinada desnecessária no meio campo, levou o segundo amarelo e deixou o Bahia com 10 atônitos e perdidos jogadores em campo.

A superioridade do Fortaleza já era palpável antes da expulsão. Objetivamente pareciam que eram catorze jogadores do Leão do Pici contra nove do time da casa. Isso porque Mourinho Marquinhos Santos - de grata e dispensável passagem no Fazendão em 2014 - armou um esquema muito bem engendrado para anular o Bahia: Tinha três zagueiros, mas avançava os alas e adiantava as linhas mesmo sem a bola; negava espaços e espetava os laterais do tricolor baiano. Não era retranca, não era amor. Era cilada, cilada, cilada.  Esse 3-4-3 infernal tinha superioridade numérica pelos lados, alargava o campo de jogo com bastante amplitude e criava buracos no meio - onde Feijão precisava virar Feijoada para conter o avanços dos meias. Com um jogador a menos restou a Doriva isolar Thiago Ribeiro na frente e tentar fechar a segunda linha com Edigar e Luisinho.  Na teoria, bom. Na prática pouco efetivo, pois ninguém viu o bigode de Luisinho em campo [omisso na fase defensiva] e o time tinha uma VIA EXPRESSA pelo lado esquerdo batizada de JOÃO PAULO GOMES [que é nome de avenida mesmo]. Até que veio o melhor momento do Bahia no jogo até então: O apito de Eduardo de Santana Nunes encerrando a primeira etapa.

Bahia voltou do vestiário com duas substituições em uma. Luisinho deixou a partida [fisicamente, pois espiritualmente sequer jogou] para a entrada de Moisés com João Paulo sendo deslocado para o lado esquerdo da segunda linha do 4-4-1 de Doriva. O Fortaleza também mudou com Max Oliveira dando a vaga para o atacante Eduardo. Time iria pro 4-2-4 com a bola para tentar tirar a vantagem de dois gols.

E o ritmo do início da segunda etapa não foi diferente. Trave, gol [bem] anulado por centímetros de impedimento e volume ofensivo. Até que o Bahia começou a segurar mais a bola, ser mais consciente na saída para o ataque e foi arrefecendo os ânimos dos cearenses. Era só o chute no balde que precede a queda da casa: Aos 20 minutos da etapa final o Fortaleza fez ótima triangulação pela direita do ataque e Daniel Sobralense teve calma para encontrar Eduardo - naquele momento o mais solitário entre os mais de 20 mil viventes no estádio - dentro da pequena área no gol do Dique. Uma a zero inapelável e garantia de mais 30 minutos de furor e transe.

A necessidade de mais um gol para a classificação fez o Fortaleza arreganhar-se mais que mulher em trabalho de parto e ofereceu generosos espaços ao Bahia no campo ofensivo. Surgiram então duas oportunidades límpidas como a água da Fonte das Pedras que fica atrás da baliza defendida por Berna naquele momento. Porém o destino é irônico, cruel e sádico: Ambas caíram no pé esquerdo de João Paulo - podre e passível de amputação após a total inabilidade comprovada em mandar para o barbante o passe açucarado de Edigar Junio e o vacilo da defesa do Fortaleza. O jogo parecia se arrastar por dias, mas ainda faltava um quarto de hora para o final. Para o torcedor do Bahia era prazeroso como arrancar a unha do dedão com um alicate de pressão.

Entretanto, no meio das trevas fez-se a luz. No meio da balbúrdia, a calma. No meio da afobação, a tranquilidade. Thiago Ribeiro puxou um contra ataque e chegou à área adversária. Não havia quem o acompanhasse pelo Bahia. Pouco depois, Edigar Junio surgiu acompanhado por 16 jogadores rivais. Thiago segurou a bola, conduziu com calma, parou, olhou, conduziu de novo, parou de novo. Como se esperasse algo. Como se esperasse o fim do jogo. Até que deu outra olhadela e rolou a bola mansa, obediente e lenta para trás. Rolou e sorriu, cinicamente. Surgiu então Juninho e soltou um PETARDO daqueles, embebido de ÓDIO, AGONIA e DESESPERO. Um canhão que atingiu a rede com a força de mil demônios. A Fonte Nova explodiu, urrou e gritou de alegria e alívio. Faltava pouco para que o suplício tivesse um final feliz.

Juninho fez todos os gols do Bahia nas quartas de finais. Ontem mais uma bomba para aliviar a torcida e classificar o time
O Fortaleza não se abateu com o duro golpe. Valente seguiu acossando o Bahia. Perdeu mais uma chance. Perdeu outra. E tentou uma última vez até que a apareceu o maior personagem do jogo: A trave. A bola chocou-se com ela e saiu. Três vezes foi assim, tal qual Pedro negando Jesus. Após a terceira negativa até o árbitro se convenceu que não havia mais dúvida: A vaga era do Bahia. Esse Bahia não tranquiliza os corações, mas nem por isso a torcida gosta menos dele. Domingo ela estará lá de novo - como na canção imortalizada pela nossa MPB.

FICHA TÉCNICA

Bahia 1 X 1 Fortaleza
Copa do Nordeste – quartas de final (jogo de volta)

Local: Fonte Nova, Salvador (BA)
Data: 03/04/2016
Horário: 16h
Árbitro: Eduardo de Santana Nunes (SE)
Assistentes: Eric Nunes Costa (SE) e Jean Marcio dos Santos (RN)
Cartões amarelos: Max Oliveira, Eduardo, Pio, Daniel Sobralense e Anselmo (FOR)
Cartões vermelhos: Paulo Roberto (BAH)
Gols: Eduardo (FOR); Juninho (BAH)

Bahia: Marcelo Lomba, Hayner, Lucas Fonseca, Héder e João Paulo Gomes (Júnior Ramos); Paulo Roberto, Feijão e Juninho; Luisinho (Moisés), Thiago Ribeiro e Edigar Júnio (Zé Roberto). Técnico: Doriva

Fortaleza: Ricardo Berna, Felipe Bala (Clebinho), Edimar, Lima e Max Oliveira (Eduardo); Juliano, Pio, Éverton e Daniel Sobralense; Anselmo e Juninho; Técnico: Marquinhos Santos


ALEX ROLIM - @rolimpato - #BBMP

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