Atlético (2) 2 x 1 (2) São Paulo - Crônica de Uma
Tragédia Anunciada
Nessa vida de
torcedor cronista te confesso, caro leitor, que escrever em uma eliminação não
é das tarefas mais fáceis. Por um lado quero ter a inocência e a pureza do
torcedor em dizer o que meu coração expressa. Se puder enumerar em algumas
palavras, alguns sentimentos estes seriam: raiva, melancolia, frustração, amor
ao meu clube, às minhas cores, e principalmente o orgulho de estar entre os
meus. Mas por outro lado carrego a responsabilidade de entregar aos meus
leitores algum conteúdo, uma análise, um tanto quanto fria, sistemática dos
fatos que ocorreram durante os 90 minutos. Tentarei nesse breve relato ser um
pouco dos dois, logo perdoem-me se falhar nessa tentativa, por que não é fácil.
Uma eliminação da forma que ocorreu dói, como dói.
Fonte: Rodrigo Fonseca. Portal Superesportes |
A escalação
foi aquela que muitos não concordavam, mas todos já esperavam. 4-2-3-1 com
Victor, Rocha, Erazo, L.Silva, D.Santos, Donizete, Eduardo, Patric, Carlos,
Cazares e Pratto. O jogo começou inflamado, Horto em festa. Mosaico, papel
picado e garganta muita garganta dos 20 mil atleticanos ali presentes. No
embalo da arquibancada, e em um piscar de olhos com 11 minutos de jogo o placar
estava 2x0, parecia que seria um jogo tranquilo, parecia. O primeiro gol nasceu
de um pivô de Lucas Pratto para Marcos Rocha que carimbou para a rede, Denis
rebateu e no rebote Cazeres abriu o placar; o segundo lance surgiu de um
cruzamento açucarado de Douglas Santos para Carlos, que concluiu com frieza ao
gol de Dênis.
Como nem tudo
nessa vida pode ser perfeito a ducha de água fria veio logo na sequência.
Escanteio para o São Paulo; bola no primeiro pau; sistema defensivo se
embananou e o zagueiro Maicon, melhor jogador do São Paulo nos dois confrontos,
carimbou para o fundo do gol de Victor - 2x1.
O Atlético
precisava de apenas um gol, a torcida estava confiante, era apenas colocar a
bola no chão e fazer o que sabemos de melhor. Pressionar, impor o jogo na
força, no grito, no coração. O alvinegro teve chances: Pratto foi à trave; a bola
pererecou pela área paulista inúmeras vezes com cruzamentos que partiam de
todos os lados, mas sem sucesso. A torcida subia o tom, mas com o passar do
tempo à bola mais parecia uma batata quente, os passes não saiam (Patric nesse
quesito foi um pavor, péssimo dos péssimos) e os visitantes começaram a gostar
do jogo, tanto que o São Paulo exigiu Victor uma defesa importante em chute
cruzado de Calleri.
O primeiro
tempo que havia começado fervendo, terminou morno. E a falta de produtividade
ofensiva, principal crítica ao trabalho de Diego Aguirre veio à tona. O time
precisava de apenas um gol, foi incompetente. Em outras épocas precisou de quatro
e conseguiu a proeza, enfim deixo essa discussão para os últimos parágrafos.
Fonte: Portal Superesportes |
O segundo
tempo começou com uma alteração: Carlos novamente se lesionou, foi substituído
pelo recém-chegado Carlos Eduardo. Mais qualidade no passe e menos eficiência
nas conclusões. Nesse quesito a temperatura dos 15 minutos iniciais foi
parecida com o do primeiro tempo. Pressão, torcida gritando alto e equipe no
abafa. A saída de Carlos ali se mostrou prejudicial. O time notoriamente tinha
mais controle do jogo, entretanto tocava, tocava, tocava e ninguém atendia o
chamado. É incrível notar que o contestado jogador, quando colocado dentro da
área pode render muito, até mais que o badalado Lucas Pratto. Carlos dentro da
área foi mais centro avante que o Urso – Dura realidade. Novamente pós 15
minutos iniciais o time deu uma esfriada, o São Paulo puxava mais
contra-ataques sendo inclusive perigoso em alguns deles. O time precisava de um
fato novo, precisava de Clayton no lugar de Patric. Tal alteração ocorreu
somente aos 25 do segundo tempo (mudança que devia ter sido procedida no
intervalo não é Aguirre? Demorou demais para mexer na estrutura com o time
precisando do resultado), e logo de cara o atacante chutou com perigo.
Fonte:Bruno Cantini. Atlético. Portal Hoje em Dia |
Passaram-se
30, 35, 40 minutos e a angústia aumentava. Aos 41 um alento de esperança com a
entrada de Jesus, o Dátolo. Um pouco mais de clarividência, mas o tempo já era
escasso para um milagre. O juiz daria 5 minutos de acréscimo e os zagueiros
viraram centroavantes. 45, 46, 47, 48 minutos. Era bate e volta, chutão do meio
campo bola rebatida pela defesa do São Paulo, o grito de eu acredito não tinha
tanta força, a torcida sabia que o time carecia de criatividade. Aos 49 minutos
o general Donizete foi expulso, era a estocada final, não teríamos força. Mas
como tudo na vida do Atleticano, seja nas vitórias, seja nas derrotas é
sofrido. Aos 51 minutos falta próxima a área.
Torcida se agitava, alguns viraram de costas, outros rezaram. Para a
surpresa de todo Horto, Lucas Pratto foi para a cobrança. Correu, bateu, bola
na lua. Terminou o jogo. A torcida saiu do Horto cantando o hino, não em uma
demonstração de satisfação, muito pelo contrário: Nove em cada dez atleticanos
querem a cabeça do técnico e não aprovam o jogo praticado no primeiro semestre.
Mas em uma demonstração de amor à entidade, ao sentimento, ao Galo Doido desse
Brasil.
Fonte: Cristiane Matos. Portal Hoje em Dia
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Se o estimado
leitor ainda estiver com alguma paciência para alguns parágrafos, concluo esse
texto com o seguinte desabafo: Com sinceridade, se fosse elencar os motivos
dessa eliminação na Copa Libertadores, e consequentemente a conclusão do
primeiro semestre alvinegro, poderia falar de mil detalhes. Como por exemplo, a
maldita bola parada no primeiro pau, lance pré-escolar que nos custou dois
gols, tanto no Morumbi quanto no Horto; poderia falar das ausências de
titulares importantes: Robinho, Urso e Carioca fazem falta, o primeiro uma
referência técnica, os outros dois os pulmões do meio campo; como também de
algumas escolhas (duvidosas) do treinador para esse mata-mata.
Contudo tais
fatores são meros detalhes, a eliminação do Atlético na Copa Libertadores
começou a acontecer entre novembro e dezembro do ano passado na demissão de
Levir Culpi. Explico melhor: O Atlético de 2012, 2013, 2014 e 2015 se
notabilizou por ser um time de extrema intensidade ofensiva: marcação alta,
intensa troca de posições, jogadas em velocidade, valorização da técnica, da habilidade
e da improvisação. É evidente que o modelo tinha falhas (sim o time tomava
muitos gols, mas fazia na mesma proporção – viradas impossíveis aconteceram),
como todo esquema tem, porém, era um estilo que a torcida havia se habituado e
se identificava, visto que é do DNA do Galo.
Perguntem aos
mais velhos como do time de 71, ou da máquina dos anos 80. O Atleticano
aprendeu a amar o futebol jogado no ataque.
Dada a demissão
do cara mais legal do futebol brasileiro, a Diretoria em uma aposta arriscada
confiou à Diego Aguirre (nosso algoz na última Libertadores – mania incrível de
contratar quem eventualmente já nos derrotou em outras oportunidades) a
responsabilidade de guiar o clube ao bi campeonato da competição mais
importante das Américas. Um erro enorme, gigantesco, colossal. Aguirre é
técnico de uma escola defensivista, o mais puro estilo charrua, portenho, de se
brigar, de se posicionar, de chamar o adversário, sofrer na defesa para em uma
estocada ganhar o jogo. Tal concepção funciona quando você é inferior
tecnicamente, quando não dispõe de material humano suficiente para propor o
jogo.
Quero deixar
bem claro aos amigos leitores que entendo o jeito do Uruguaio de ver futebol,
entendo inclusive que o mesmo foi eficiente em aplica-la em outros contextos,
como por exemplo, a campanha da Libertadores de 2011 com o Peñarol, quando
Aguirre com um time pra lá de limitado alcançou a final. Só para se ter base o
craque daquele time era um tal de Martinuccio, que convenhamos é um jogador
fraco.
Venhamos e
convenhamos, uma mudança tão drástica de metodologias de trabalho não poderia
de maneira alguma ser frutífera em tão curto prazo. Primeiro por que os
jogadores teriam que aprender um jeito de disputar o jogo que nunca lhes foi
comum, isso requer tempo, não se faz em 4/5 meses, não se faz em uma
Libertadores. Segundo por que o Atleticano, culturalmente, jamais entenderia ou
entenderá o jogo do Uruguaio. Jamais vai tolerar que Patric, um lateral
limitadíssimo, jogue na linha de frente pelo fato de ser um dos poucos ali que
fazem a tal da recomposição com eficiência. Foi chiadeira o primeiro semestre
inteiro, e vai ser chiadeira até o ano acabar (se o uruguaio aqui permanecer).
Fonte: Portal Super Esportes |
Eu
humildemente faço minha meia culpa, visto que por um momento na competição me
aventou a possibilidade que essa mudança (futebol mais defensivo) poderia ser
positiva, poderíamos ter uma defesa mais forte, porém acho que talvez fosse o
torcedor falando mais alto que o analista. De fato eu queria que o Atlético
fosse campeão por que sou atleticano e Aguirre era nosso técnico, mas no fundo
no fundo sabia que não ia acontecer, que a tal cornetagem tinha certo fundo de
razão, que os críticos contumazes tinham seu ponto. Eu apenas não queria
reverbera-los por estarmos em um momento crucial da temporada e por achar que
torcedor tem que torcer.
Se fosse fazer
uma conclusão dessa história toda tomaria a licença Poética de Lulu Santos na
icônica música Tempos Modernos. Nossa temporada não foi tão ruim, mas também
não foi tão boa assim. Aguirre não te quero mal (você é um excelente técnico,
mas para outros clubes, outros contextos), apenas não te quero mais.
2 Comentários
#FechadocomAguirre Melhor do que qualquer um que ocê preferir, isso lhe garanto.
ResponderExcluirCulpi? Duas eliminações seguidas nas 8ªs.
Pacote? Nem vou comentar as lambanças que fez este ano no Verdão. Foi às 4ªs-de-final treinando a Raposa em 15 e 14, assim como nós agora. Só que seus resultados no Mineirão foram bem piores que o nosso no Independência.
Ramalho? Passa o ano internado, vive de nome. Cabou de levar chocolate do Confiança, e se embananar ante o Fortaleza.
Esse caô aí de atleticano se acostumou não cola, não, viu? Nós ganhamos a Conmebol de 1992 numa postura fechada em Assunção.
Aliás, passamos do Newell's não pelos gols que fizemos no Horto. E sim pelos que não tomamos no Coloso del Parque.
Esses atleticanos românticos nada aprenderam com 1977 até hoje? Repito-lhes o que digo sempre que voltam co'esses delírios de futebol ofensivo: é a retranca que leva a títulos. "Ataques marcam gols, defesas ganham campeonatos".
É um ponto de vista meu caro. E acho até que seus argumentos se sustentam bem. Eu inclusive tenho uma visão de futebol parecida. Contudo a memória de jogo do time é outra. É uma escolha de sofia para a diretoria. Manter o técnico, apostar em continuidade e quem sabe ano que vem brigar mais forte, ou retomar o DNA dos jogadores que tem com alguém mais ofensivo?
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