Saí de casa às 18h22 e
mal batia 18h40, eu já estava chegando ao Bento Freitas para mais uma
apresentação do Xavante. Além de meu fiel escudeiro e confessor, minha Canon
também estava pronta para registrar tudo, tim tim por tim tim como sempre faz.
Comigo é assim, além da Carteirinha de Sócio, meu rádio e minha máquina
fotográfica fazem parte do ritual sagrado para cada jogo do G. E. Brasil. Para
surpresa minha, os portões ainda não estavam abertos para a Torcida entrar. “Putz!
E agora? Quero ganhar mais essa de uma vez.”, pensei cá com meus botões. Mas
não adiantou querer forçar a barra para entrar porque os seguranças estavam ali
perfilados qual dragões da Rainha.
Para não perder a
viagem, costeei o muro e fui acalentar meus olhos com as Obras da goleira de
entrada. Conheço os atalhos porque vigio a construção do novo Bento Freitas
como minha própria sombra. Sob a luz dos refletores, lá estavam brilhantes e
altaneiras a espera do público que brevemente testemunhará mais uma grande
façanha da Torcida Xavante. Impossível fazer só uma foto quando isso se torna
uma compulsão e fui clicando sem parar. Às vezes, uma visão nos assusta, mas sabemos que
é preciso cortar na própria carne quando a cirurgia é a salvação. A contra gosto, saí dali e fui tratar
de comer um churrasquinho para manter os anticorpos em dia.
Do outro lado do
Estádio a cerveja corria solta com a Massa Xavante festejando até tropeço de
juiz. Com a garganta ainda estragada, não pude nem chegar perto da gelada e
fiquei mastigando meu gatinho no espeto com bastante farinha. Voltei para o
outro lado e já encontrei os portões abertos. Cumprimentei um, dois, enfim, uma
porrada de fanáticos prontos para empurrar o Xavante rumo à vitória. Tudo
estava nos conformes e membros da Associação
Cresce Xavante vendiam rifas em prol da reconstrução do Estádio Bento Freitas.
O Hino foi cantado, os
atletas se cumprimentaram e o juiz tomou a si a condução da partida. Antes uma
observação: parece que o Luverdense mandou até o presidente do clube fazer o aquecimento
que antecede ao jogo. Eu nuca tinha visto tanta gente dos visitantes
flexionando, agachando e correndo em busca de um calorzinho no corpo. E não era
prá menos, estava difícil até de reconhecer os companheiros de arquibancada.
Índios de todas as idades tapados a blusões, casacos e mantas até o pescoço.
Quem não estava nem aí
para o frio era um cusco guapo e faceiro que entrou no gramado para ter seus
quinze minutos de fama. Com uma marcação cerrada aos pés do Ramon, exigiu
tratamento vip e foi carregado no colo até a tribuna de honra. Tudo registrado
pela tv para todo o País.
Com o trilar do apito,
iniciou o jogo. Parecia futebol de salão. Foi assim que vi o toque de bola do
Verdão do Norte. Nem fiquei surpreso com isso porque assisti, via internet, os
lances do LEC contra o Paysandu na casa do Papão da Cuzuru. Pelo visto Rogério
Zimmermann também sabia da cadência bailada dos mato-grossenses e impôs o seu
plano de jogo ao natural. Deu gosto, mais uma vez, ver o Brasil jogar com
intensidade, garra e alegria.
Nas arquibancadas a
Torcida fazia a festa e explodiu de vez aos dez minutos com o gol de Ramon. E
assim foi todo o primeiro tempo, fora o finalzinho. Ao apagar das luzes,
quarenta e seis minutos, Eduardo Martini salvou a pátria num lance de grande
elasticidade e competência. Infelizmente, não dá para deixar
em branco o erro da arbitragem que anulou um gol do Brasil graças a uma
interpretação equivocada do bandeirinha que corria pelo lado das Sociais.
Parecia que não ia fazer falta, mas pesou na conta final.
Bem que eu estava
preocupado com aquele joguinho a la futebol de salão. Logo aos cinco minutos da
segunda etapa, Jean Patrick concluiu uma série de passes do Luverdense mandando
a gorduchinha de encontro às redes do Brasil. Estava igualado o marcador e a
partir daí a temperatura subiu de vez para nós Xavantes. Aos dezenove minutos
outra patuscada do juiz não marcando pênalt num lance em que Diogo Oliveira
entrou na área, ganhou de Luiz Otávio e foi derrubado numa falta claríssima. Menos
mal que não deu cartão amarelo para o atleta do Brasil porque, na maior cara de
pau, marcou a falta foi a favor time de Mato Grosso.
E assim corria a
partida. Jogo bom; para ver de pé e o coração na mão. O Xavante poderia definir
a partida a seu favor a qualquer momento, mas aquele toque de bola do
adversário nos deixava sempre alertas. Com poucos minutos de prorrogação o sr. Devarli
Lima do Rosário/ES encerrou a partida dando os números finais para o embate.
Empanou a nossa festa, mas já é passado.
Embora um pouco
desencantada com o placar, a Garra Xavante saiu do Estádio batucando como
sempre. Nem dava para notar o frio. Agora o sangue fervia pensando no próximo
jogo. Num suspiro de esperança, virei minha Canon em direção às Obras e apertei
o gatilho cheio de pertencimento. Guardei meu rádio no bornal feito
especialmente para ele porque este patinava com as pilhas desgastadas. A
máquina fotográfica foi para o aconchego de meu bolso. Tomei o rumo das cassa
com aquele gostinho de derrota porque o jogo era tranquilamente de vitória.
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