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Tempos distintos, má pontaria e vaias: Bahia se complica com escolhas erradas

O torcedor tricolor que compareceu à Arena Fonte Nova na noite de terça-feira passada carregava consigo fé e esperança. Fé que o time pudesse repetir a boa apresentação da segunda etapa do jogo contra o Vasco – sem os erros defensivos, e esperança que o confronto contra o Náutico pudesse ser finalmente a arrancada que todos esperam: Um triunfo que trouxesse não apenas a presença no G-4 da classificação da B, mas a tranquilidade que o clube precisa para alcançar seu principal objetivo na temporada.

No entanto, ao fim da noite o sentimento era de frustração após uma GANGORRA de emoções: O time não venceu, errou mais do que podia, correu sério risco de ser derrotado em casa e viu seu comandante se enrolar em uma sequência de escolhas que fragilizaram a equipe e irritaram a torcida. Esse caminho TORTUOSO pode ser dividido em duas etapas.

PRIMEIRO TEMPO: FALTOU O GOL PARA TRANQUILIZAR

Com Thiago Ribeiro, Moisés e Danilo Pires fora do time – o último por opção técnica; Doriva mudou o sistema de jogo utilizado na última contenda. Organizou a equipe no 4-3-3 de base baixa, com Feijão e Juninho alinhados e Cajá na armação; Edigar Junio e Luisinho nas pontas, além de Hernane na referência. Com a clara intenção de pressionar e empurrar o Náutico contra o próprio campo, os laterais atuavam avançados, com os zagueiros fazendo a linha de marcação alta. Algo que funcionava muito bem, Éder e Jackson bem posicionados e cobrindo os espaços com velocidade e Lomba atento na saída para encurtar o espaço. Time valorizava a posse e rodava bastante a bola, fazia inversões e agredia os espaços criados na defensiva pernambucana.

Em alguns momentos time variava para 4-2-3-1 e baixava as as linhas, marcando em bloco médio
Desta forma chegou a ter 75% de posse, um bom volume ofensivo e boas chances desperdiçadas. Edigar Junio e Cajá fizeram opções erradas na hora de concluir boas tramas e Júlio César teve muito trabalho com arremates de Juninho de média distância e bolas paradas. Faltava o gol para tranquilizar o time. O Náutico tentou algumas escapadas, mas só levou [bastante] perigo em lance de contragolpe pelo meio da defesa tricolor, com Maylson deixando Rony livre para marcar após vencer Feijão na corrida. O meia errou na definição da jogada.

Erros na hora de decidir, aliás, foram a tônica do jogo. O Bahia mostrou, novamente, incapacidade de escolher as melhores decisões no último terço do campo. Excesso de preciosismo e falta de espírito coletivo atrapalharam a melhor leitura de muitas jogadas e mesmo com o domínio do jogo o time não conseguiu estabelecer vantagem no placar. O primeiro tempo encerrou com uma boa atuação do Esquadrão que, entretanto não trazia tranquilidade nem para o time, nem para a torcida.

SEGUNDO TEMPO: FALTOU TRANQUILIDADE PARA O GOL

No retorno dos vestiários a decisão que se tornaria a polêmica da noite. Doriva substituiu Feijão por Danilo Pires, com a clara intenção de ter um jogador com característica de infiltração mais próxima à área adversária. A leitura não era absurda; time precisava quebrar a última linha e ter superioridade numérica na hora de definir as jogadas. Era uma substituição ousada para vencer a partida. Contra o JEC Doriva não substituiu no intervalo e o time voltou mal; quando iria substituir o gol saiu [aos 9 minutos]. Desta vez ele procurou antecipar a leitura e ganhar tempo.

No futebol, e na vida em geral, há uma diferença gigantesca entre INTENÇÕES e AÇÕES; as primeiras, mesmo as boas, estão fadadas ao INFERNO. São as ações que fazem a diferença. Para ruína do Bahia, Danilo entrou muito mal no jogo e isso foi o inicio da desarrumação da equipe.


O time perdeu a transição do meio com o ataque. Danilo errava demais a saída de jogo, e o Náutico passou a pressionar mais o meio e tirou o espaço de ação de Juninho. Curiosamente a ação que fez o Bahia reagir em São Januário – ter Danilo atuando de volante na saída de jogo – foi o que fez o tricolor cair de produção contra o alvirrubro de Recife. Com Cajá ainda longe da condição ideal e sentindo o pequeno intervalo entre os jogos [três dias] o meio campo definhou de vez e Doriva optou por uma estratégia que expôs ainda mais o time. Colocou Zé Roberto na vaga de Cajá, provavelmente na esperança de ter mais presença ofensiva no campo do Náutico. Só que o Bahia perdeu de vez a segunda bola e passou a errar cada vez mais no ataque; ansiedade e ‘pernas pesadas’ além da habitual tomada de decisão errada de muitos jogadores – o individual ruim pesa muito no coletivo quando a equipe se desestrutura. Dessa forma o Náutico teve alguns contra ataques perigosíssimos, com superioridade dentro da área tricolor e deu alguns sustos na torcida. Se tivesse mais qualidade na definição poderia ter marcado um gol que certamente valeria os três pontos.


Mesmo assim cabe pontuar que o Bahia teve inúmeras chances de marcar; com Hernane, com Luisinho, com Hernane de novo, cabeceando livre e com Luisinho no rebote de mais uma bola na trave – falta muito bem batida por Juninho, esse um lance digno de INACREDITÁVEL FUTEBOL CLUBE. O gol teima em não sair, e os erros vão se multiplicando a cada minuto que passa.

Bahia abusou de lançamentos e inversões e Doriva confirmou o que eu já dizia antes: É ESTRATÉGIA de transição
Com Edigar esgotado – lutou demais, porém errou muito mais que o habitual, sentindo a falta de ritmo pelo tempo parado por contusão – Doriva ainda fez mais uma opção equivocada: Colocou Henrique no jogo, que salvo a estreia contra o Santa pela primeira fase da Copa do Nordeste, ainda não fez uma apresentação sequer razoável. Em um 4-2-4 quase suicida, o Bahia esteve à mercê da própria sorte e o empate foi o resultado natural da sua incompetência em finalizar bem as chances que criou, defeito esse que também acomete a equipe de Gallo. No apito final, vaias e apupos que somados a alguns gritos de BURRO pressionam Doriva que segue ‘prestigiado’ pela diretoria. De forma correta, acredito, ainda que na noite de terça-feira ele talvez só tenha acertado a cor da meia que escolheu para usar.

NOTAS SOBRE ELE [O PRIMEIRO EMPATE EM CASA]

- O Náutico de Gallo pouco pisou no campo ofensivo [vide mapa de calor abaixo], mas quando o fez foi extremamente perigoso. Tinha um plano de jogo bem definido e executou com o máximo de empenho. É uma equipe rápida e jovem, recompões bem e é aplicada. Em uma Série B bastante nivelada pode sonhar com uma vaguinha desde que consiga manter certa regularidade – principal desafio para um elenco sem tanta CANCHA.


- Costumamos tirar o mérito da equipe adversária, mas preciso pontuar: Gallo fez ótima leitura do jogo. Assim que Doriva sacou Cajá para colocar Zé ele substituiu Bergson por Renan Oliveira. Ao invés de colocar mais um marcador ele pôs alguém criativo para ocupar o meio e puxar o contragolpe; manteve Juninho longe da intermediária ofensiva e sem espaço para construir o jogo a partir de trás – algo que tinha castigado seu time na primeira etapa.

- Jackson teve papel muito importante – não apenas na parte defensiva onde se destaca por antecipar bem, cobrir espaços com velocidade e ganhar confrontos individuais. Foi o segundo com mais passes certos [45], lançamentos certos [4] e lançamentos errados [7] do jogo. Na falta de alguém para construir assumiu a responsabilidade do jogo e deu ótimas arrancadas, mas falta CACOETE para produzir algo mais SUBSTANCIOSO. Ainda assim cresce sua importância no plano de jogo de Doriva com transições pelo alto e inversões de jogo.

- Éder foi muito bem ao jogo, surpreende pela maturidade e por não se abalar mesmo em situações adversas. Errou uma rebatida que acabou gerando um ataque muito perigoso do Náutico, mais por erro de tomada de decisão que por outra coisa. Provou que deveria ser titular [essa dúvida só existe na cabeça de Doriva].

- Tinga viveu uma noite ADVERSA. Participou muito do jogo, foi um dos que mais trocou passes, porém foi quem mais errou empatado com Cajá [7] e mesmo tendo sido o que mais desarmou pelo time [4] e fez cruzamentos certos [3] errou ainda mais [4] e parte da torcida já pega em seu pé. Se passar a acertar mais será decisivo, já que defensivamente tem sido irrepreensível.

- O trio ofensivo do Bahia lutou e tentou demais, porém mal acertou o lado do campo que atacou. Os três perderam chances claras, Edigar teve um número absurdo de perda de posse [16], Hernane foi quem mais errou finalizações [3], sofreu faltas [6] e impedimentos [2]. Luisinho foi quem mais errou cruzamentos [5] e perdeu dois gols incríveis. Não dá pra ser feliz assim, galera.

- Parte da torcida quer o sangue de Doriva para IMOLAR as traves tricolores e fazer com que os atacantes acertem o caminho do gol. A despeito da noite com escolhas QUESTIONÁVEIS, acho que Doriva ainda merece algum tempo para ajustar os detalhes e fazer o time engrenar de vez. Os argumentos para sua demissão são a LADAINHA de sempre: Falta de títulos no primeiro semestre e resultados ruins na B. Concordaria de bom GRADO se o time estivesse jogando sempre mal; mas o desempenho pós-decisão do baiano é agradável, em que pese os resultados não corroborarem com isso.  Mais alguns dias e o elenco estará completo e inteiro nas mãos [Régis foi oficializado ontem]. Não vejo motivo para demiti-lo, entretanto vencer bem o Paysandu sexta-feira é fundamental para que a tranquilidade volte ao Fazendão – com um time do tamanho do Bahia e um elenco de qualidade à disposição não há desculpa que segure emprego sem figurar no G-4. A pressão é proporcional à grandeza do clube.

ALEX ROLIM - @rolimpato - #BBMP

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