Depois do empate
frente ao Náutico, as críticas ao time do Bahia subiram a fervura do cozimento
à batata de Doriva – pelo menos entre a torcida e nas redes sociais. Mesmo com
a negativa de Ney Pandolfo não restavam dúvidas que qualquer resultado que não
fosse o triunfo contra o Paysandu na aprazível noite da sexta soteropolitana
detonaria de vez uma crise e os questionamentos à permanência do ex-volante
como treinador ganhariam mais força e eco nos corredores do Fazendão.
Por isso havia,
além do clima de tensão no ar, certa curiosidade sobre o sistema de jogo e a
postura do Bahia em campo. Com treinos secretos e muita especulação pela
imprensa a equipe foi confirmada com o retorno de Danilo Pires no lugar do
criticado Luisinho.
Na prática
nenhuma novidade no sistema de jogo. Bahia manteve o 4-2-3-1, porém com outra
postura em campo. Linha defensiva baixa, marcação em bloco médio e postura
pouco agressiva para a retomada da posse de bola. O time até bloqueava as
linhas de passe do adversário para dificultar a saída de bola, porém sem a
habitual compactação para diminuir os espaços no campo. Se por um lado isso
gera um latifúndio para o adversário construir o jogo, isso também diminui o
desgaste da equipe e a exposição à bola longa do rival. Em diversos momentos Juninho avançava para diminuir
espaço e quase que reconfigurava o time no 4-1-4-1. Movimentações que não
mudavam o plano de jogo da equipe: Tentar construir sem oferecer espaço no seu
campo defensivo para que os atacantes pudessem correr às costas da defesa.
Isso dificultava
a articulação entre meio e ataque. Com jogadores espaçados era mais difícil
ultrapassar, triangular e aproximar do companheiro para tentar uma tabela. Até
porque o Paysandu fazia uma marcação forte que negava espaços e apelava para
faltas no intuito de não permitir a fluidez do jogo [Bahia também usou esse
recurso]. Jogo ficou PICOTADO e MODORRENTO, já que o tricolor não acelerava os
passes na fase ofensiva e não conseguia ter volume de jogo.
Quando a torcida
já começava a se IMPACIENTAR, o lance que muda todo panorama da partida – e talvez
do próprio futuro de Doriva: Reposição de Lomba para o campo de ataque encontra
Hernane que trabalha bola com Danilo, que passa para Juninho. Nesse momento
abre-se um CLARÃO no corredor esquerdo da defesa do Papão e Hayner tem toda
liberdade do mundo para alçar a bola na área; Danilo infiltra e arrasta a marcação. O cruzamento não sai perfeito,
mas o lateral esquerdo Lucas desvia o suficiente para deixá-la à mercê de
Danilo que emenda uma belíssima BICICLETA, inapelável para Emerson. Vantagem do Bahia que agora poderia colocar em
prática o modelo de jogo favorito de Doriva.
Na volta da
segunda etapa Doriva trocou Edigar – sentindo lesão – por Luisinho, uma mudança
que não alterou posicionamento nem o modelo do Bahia em campo. Equipe manteve a
cadência nos momentos com a bola e ofereceu campo ao rival sem pressionar pela
retomada de posse. Modelo extremamente reativo e que sempre foi característico
do trabalho de Doriva. Jogar no erro do adversário e explorar o contragolpe
como principal alternativa de ataque. Isso refletiu diretamente nas
estatísticas da partida; pela primeira vez na série B o time teve menos posse
de bola [45%] jogando na Fonte Nova. A vantagem no placar permitia essa
estratégia e procurava minimizar os riscos.
Nada indicava
mudança no cenário da partida até que o Bahia processou a segunda mudança na
equipe. Cajá – que não é pai-de-santo, mas acertou bons passes - deu lugar ao
estreante Régis que provou que é ILUMINADO. No primeiro contra ataque com sua
participação, recebeu bola de Hernane e foi derrubado por Emerson quando
limpava o lance para concluir. Pênalti indiscutível e expulsão do goleiro pelo
segundo amarelo no jogo. Infração cobrada com extrema categoria pelo Brocador e jogo
definido.
Definido porque a
partir deste momento o Bahia apenas ‘cozinhou’ a CONTENDA. Hernane saiu para o
retorno de Thiago Ribeiro ao time e neste momento existiam tantos espaços que
até ele conseguiu produzir algo: Deixou Régis em condição de marcar sem goleiro
embaixo das traves mas o meia conseguiu desperdiçar; outro lance para entrar na
coleção do INACREDITÁVEL ESPORTE CLUBE BAHIA nesta série B. Como parece ser, de
fato, alguém ILUMINADO, Régis ainda teve oportunidade de se redimir em outra
penalidade máxima cometida pelo goleiro do Papão, desta vez o reserva Marcão.
Outra cobrança segura e, enfim, o Bahia sacramentava um triunfo sem o
tradicional sufoco no quarto final do jogo, algo que a torcida sequer se
lembrava mais.
Com o resultado a
equipe subiu temporariamente para a terceira colocação e só sai do G-4 caso
Criciúma e CRB vençam seus compromissos fora de casa contra Oeste e Avaí,
respectivamente. O próximo desafio é contra o Goiás no Serra Dourada, outro
choque de gigantes em que pese a má fase do esmeraldino que enfrenta o Vasco no
fechamento da rodada.
NOTAS SOBRE ELA
[A GOLEADA]
- Danilo voltou
ao time e à sua posição original em grande estilo. Marcou seu segundo gol na
série B e mesmo sendo o jogador com mais finalizações erradas da competição
comprovou sua importância para o lado direito da equipe. O gol de bicicleta
certamente entrará no rol dos mais belos do certame;
- Feijão é o
jogador mais regular do Bahia na temporada. Porém contra o Papão ele
ESMERILHOU. Foi o líder em desarmes [4]
errou apenas UM passe de 40 – quesito onde é o jogador de meio/ataque com maior
índice de acerto 93,1%. Tem sido perfeito nas inversões de bola e nos passes em
profundidades, com ótimo número de passes para finalização [4] – mesma quantidade de Hernane e um a menos que Luisinho.
- Régis foi uma
ótima notícia da noite: Entrou ligado no jogo, mostrou mobilidade e boa condição
física. Teve personalidade para pedir para bater o pênalti após perder um gol
incrível. Cartão de visitas ótimo, mais uma opção de quilate para o
plantel.
- O futebol é
SORDIDAMENTE sorrateiro. Bahia fez primeiro tempo sofrível, estava se enrolando
dentro da própria estratégia, mas viu tudo mudar graças a um gol. Daí a importância de melhorar a eficiência: Time passou da CENTENA de finalizações [103] em apenas SEIS jogos
para marcar NOVE gols. Ainda são mais erros
[61] que acertos [42], mas o equilíbrio já apareceu na balança desde o
confronto contra o Vasco. Sinal de
evolução em um índice decisivo, como ficou provado contra o Paysandu.
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