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A noite que o sonho virou pesadelo


No dia 23 de Novembro de 2016, apĂ³s o milagre de Danilo aos 48 minutos do segundo tempo, a Chapecoense garantia Ă  vaga para a grande final da Copa Sul-Americana. ApĂ³s o apito final do Ă¡rbitro, muitas lĂ¡grimas caiam na Arena CondĂ¡, muitos nĂ£o acreditavam no que viam, aquele time sem divisĂ£o, esses colonos do oeste, levaram Santa Catarina na primeira final internacional.

Nos vestiĂ¡rios mais lĂ¡grimas, muita comemoraĂ§Ă£o, a euforia era inevitĂ¡vel, os guerreiros verdes e brancos estavam a dois jogos da maior conquista de suas vidas. O som de VAMO VAMO CHAPE, que virou marca registrado de todos integrantes do elenco, comissĂ£o tĂ©cnica, diretoria e funcionĂ¡rios, transformavam o vestiĂ¡rio em uma arquibancada.

A mĂ¡ notĂ­cia chegou minutos apĂ³s a conquista, atravĂ©s da boca do presidente Sandro Pallaoro, o mandatĂ¡rio informou que a final nĂ£o poderia ser disputada em ChapecĂ³. A dĂºvida era entre duas cidades, Porto Alegre ou Curitiba? Arena do GrĂªmio, Beira-Rio, Arena da Baixada ou Couto Pereira?

A decisĂ£o foi tomada na sexta-feira (25), a escolha foi Ăºnico estĂ¡dio com as cores do clube, o majestoso Couto Pereira. Logo o torcedor jĂ¡ correu, com quem ir? Que horas sair? No sĂ¡bado nĂ£o existia mais Ă´nibus na cidade para alugar, restava a busca por liberaĂ§Ă£o do trabalho, era o jogo da nossa histĂ³ria, os 90 minutos mais importantes da vida dos torcedores Chapecoenses.


Em meio as finais, uma outra final, quis o destino que o Palmeiras pudesse receber a Chapecoense em busca do tĂ­tulo Brasileiro, um empate jĂ¡ bastava. O tĂ©cnico Caio JĂºnior pensando nos jogos mais importantes da histĂ³ria do VerdĂ£o do Oeste, poupou alguns titulares, dando chances aos “reservas”. A derrota por 1x0 nĂ£o abalou, muito pelo contrario, deu ainda mais moral e força para o duelo do meio de semana, quem entrou em campo nĂ£o decepcionou, e poderia sim ter saĂ­do de campo com o empate. Mas lĂ¡ estavam os guerreiros, presentes na festa Palmeirense, seria o destino mostrando como se faz uma festa de campeĂ£o?

A semana iniciava e o torcedor nĂ£o conseguia trabalhar, nĂ£o conseguia estudar, e dormir quem consegue? SĂ³ nos restava esperar o tempo passar, vem logo quarta-feira, Ă© nosso jogo, Ă© a nossa histĂ³ria, NĂ“S VAMOS SER CAMPEĂ•ES.


O torcedor Chapecoense deitou na noite de segunda-feira, sonhando como serĂ¡ o duelo, serĂ¡ que o Danilo vai fazer aquele milagre de novo? E o Caramelo ou o Gimenez, vĂ£o acertar aquele cruzamento buscando o centroavante? O Neto vai desarmar atĂ© a mĂ£e dos adversĂ¡rios? E o que falar do Thiego, o zagueiro artilheiro vai aproveitar a falha da zaga e marcar de novo? O Dener acertarĂ¡ aquele chute como contra o SĂ£o Paulo, por favor! Josimar nĂ£o deixa ninguĂ©m passar, dĂ¡ no meio deles. Gil nosso motor, vai sair Ă quela jogada de efeito apoiando pela direita? Ah e o ClĂ©ber Santana, nem precisa sonhar, todos sabemos que vai fazer uma partida mĂ¡gica como todas em 2016. E no ataque, Tiaguinho e Ananias pelas pontas, em velocidade, contra o vento, leves como uma pena. Dentro da Ă¡rea a dĂºvida, Kempes ou Rangel, quem usar? Nessa acho que atĂ© o Caio JĂºnior tinha dĂºvida.

Em meio a esse sonho, o telefone resolve soar sem parar, ACORDA MARCELO, o que tu ta fazendo ai dormindo? Eis que o sonho se torna um pesadelo terrĂ­vel, “meu, o aviĂ£o da Chape caiu” era a mensagem que recebia do meu irmĂ£o Suyan, companheiro de Barra da Chape, do Chiqueirinho, de CHAPECOENSE. Eu me negava acreditar, era tudo brincadeira, deixa eu acessar o Globo Esporte, nĂ£o vai ter nada, Ă© tudo brincadeira de muito mal gosto.

NĂ£o era... As notĂ­cias confirmavam tudo o que ele me avisou, a final Ă© adiada e sem data para ser disputada, os noticiĂ¡rios na TV nĂ£o falavam de outra coisa, a Chapecoense era falada mundialmente, aos poucos as mensagens de apoio chegavam, era do Neymar, do Lucas Leiva, do atacante espanhol Raul, do goleiro Iker Casillas entre outros.


O dia 29 de Novembro de 2016 se tornava o pior dia da minha vida, as lĂ¡grimas que na semana passada eram de felicidade, de confiança, hoje era com a pior tristeza, somente trĂªs jogadores sobreviveram, um narrador esportivo de uma rĂ¡dio de ChapecĂ³, o restante todos foram perdidos.

Perdemos a diretoria que levou o time da SĂ©rie D para a A, essa mesma que lutou, defendeu todos jogadores, treinadores e comissĂ£o tĂ©cnica, respeitou cada funcionĂ¡rio igualmente, nunca atrasou um salĂ¡rio, pagou o 14° salĂ¡rio para TODOS funcionĂ¡rios, desde o roupeiro atĂ© o presidente.

NĂ£o existe mais Sandro Pallaoro, Cadu GaĂºcho, Maurinho, Chinho, BoiĂ£o, Cocada, Serginho, Anderson PaixĂ£o, Duca, Pipe, Gobbato, o mĂ©dico Marcio, Luiz, a segurança do Adriano, as fotos do Cleberson Silva, os vĂ­deos do Giba, eterno torcedor Chapecoense, do Anderson, outros membros da diretoria como Nilson, Decio, Mauro, Jandir, Edir, Ricardo.

Perdemos tambĂ©m vozes que nos emocionaram, seja nas rĂ¡dios, nas TVs, como ver o gol do Apodi e nĂ£o se lembrar da voz do Fernando Doesse, dos comentĂ¡rios do Douglas Dorneles, do Renan Agnolin, do PicolĂ©, do sonho do Galiotto de narrar uma final internacional, Giovane Klein, Guilherme Marques, Ari Ferreira, Guilherme Laars, Bruno Mauri, Djalma, AndrĂ©, Laion, Victorino, Rodrigo, Lilacio, Paulo Julio, MĂ¡rio SĂ©rio, Jacir Biavatti, e o dono da voz que emocionou a campanha da Chape na Sul-Americana, que o espĂ­rito de CondĂ¡ esteja contigo Danilo, vai com Deus Deva Pascovicci.

Acabou o sonho dos guerreiros, dos campeões, quando pedimos para dar a vida, nĂ£o era dessa forma, era apenas no campo, no gramado, dentro das quatro linhas, perdemos o paredĂ£o Danilo, vivendo a melhor fase da sua careira, perdemos o Caramelo, o Gimenez, Dener sendo elogiado atĂ© pelo Tite, tĂ©cnico da SeleĂ§Ă£o Brasileira, perdemos o Marcelo, a alegria do Filipe Machado, perdemos junto com o Santos, o zagueiro Thiego, o Josimar, Matheus Biteco, Gil, SĂ©rgio Manoel, Arthur Maia, Lucas Gomes, Ananias, o futuro pai e jovem Tiaguinho, o monstro Kempes, perdemos o capitĂ£o, o maestro, o cĂ©rebro do time ClĂ©ber Santana, e ele, nosso maior artilheiro, o cara que mais deu alegrias ao torcedor Chapecoense, autor de 81 gols, muitos deles importantĂ­ssimos, nunca mais a Arena CondĂ¡ irĂ¡ ouvir “uh terror o Rangel Ă© matador”, e o que falar do Caio JĂºnior, esse monstro que nas palavras conquistou o coraĂ§Ă£o do torcedor, deu alegria ao povo Chapecoense, encheu a todos de orgulho, obrigado comandante, obrigado a cada jogador por tudo que fez por esse clube, vocĂªs jamais serĂ£o esquecidos.


Como falamos aqui em ChapecĂ³, o elenco que conquistou tudo sem nenhuma estrela, sem nenhum jogador querendo ser superior ao outro, agora Ă© o contrĂ¡rio, todos viraram estrelas, hoje do cĂ©u estĂ£o nos olhando, nos guiando e com certeza torcendo para quem voltar a vestir essa camisa, honrar da mesma forma que todos fizeram, sobrou nĂ³s torcedores e a Arena CondĂ¡, perdemos jogadores, perdemos nossa diretoria, comissĂ£o tĂ©cnica, mas jamais vamos perder o amor pelo clube, pela camisa, vamos cantar por vocĂªs, lembrar-se de todas as glĂ³rias futuras, pois NĂ“S TE APOIAREMOS ATÉ MORRER.

Marcelo Weber || @acfmarcelo 

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