O grupo 5 da Copa Libertadores da América de 2017 não
é o mais difícil, mas tem uma característica peculiar: Talvez seja o único em
que o cabeça de chave não é considerado o melhor time e grande favorito do
grupo - ao menos na teoria.
O Peñarol, cabeça de chave do grupo, tem mais tradição
do que qualidade técnica para a atual edição do torneio continental. Longe de
ser o temido Peñarol de outrora, o time uruguaio terá a concorrência do
Palmeiras, atual campeão brasileiro e com um bom elenco e que conta com
jogadores experientes, como Zé Roberto, Guerra e Borja (os dois últimos estavam
no elenco do atual campeão Atlético Nacional em 2016).
Os dois são os principais cotados para avançar na
chave que também conta com o estreante Atlético Tucumán, equipe argentina que
já começou a fazer história na fase inicial, e Jorge Wilstermann, time
boliviano que também está habituado ao torneio, mas é o mais fraco dos quatro e
não tem tanta altitude como outros conterrâneos para ajudar a equilibrar
forças.
GRUPO 5: Atlético Tucumán (), Jorge Wilstermann (), Palmeiras () e Peñarol ()
Por: Stéfano Bozza (Twitter: @stebozza) e Gabriel Cruz
Fundação: 28 de
setembro de 1891
Cidade: Montevideo
Estádio: Campeón del
Siglo
Melhor campanha: Pentacampeão (1960, 1961,
1966, 1982 e 1987)
Última participação: 2016
O velho e campeão Peñarol chega à competição com o
objetivo de retomar sua histórica grandeza. História nesta competição é algo
que não falta ao clube uruguaio, que, ao lado do seu rival Nacional, é
recordista em participações no continente.
O Penarol esteve perto de reconquistar a América recentemente (Foto: Nelson Almeida) |
Ao todo, esteve na decisão dez vezes, terminando com o
título em cinco oportunidades (1960, 1961, 1966, 1982, 1987) e outros cinco vice-campeonatos
(1962, 1965, 1970, 1983, 2011). Os três maiores goleadores da história da
competição jogaram no Peñarol (Alberto Spencer, Fernando Morena e Pedro Rocha)
e, apenas dois clubes superam o Peñarol em número de conquistas – os argentinos
Independiente e Boca Juniors – e ambos estão ausentes em 2017.
Embora seja o maior vencedor nesta edição, o Peñarol
chega sob muita desconfiança, pois atravessa uns dos piores momentos da sua
história. O clube uruguaio trouxe o técnico Leonardo Ramos após bom trabalho no
Danúbio e espera-se que o time volte a ser protagonista, impondo-se com um
estilo de jogo agressivo e sólido, com e sem a bola.
Cristian Rodriguez está de volta ao Peñarol (Foto: tenfield.com) |
Após muita expectativa, Cristian Rodriguez voltou ao
clube que o projetou para o mundo do futebol. Com experiência em La Celeste e
no velho continente, será dele a responsabilidade de liderar a equipe com
jogadores de pouca rodagem internacional e jovens atletas.
Dois nomes merecem atenção, ambos com 21 anos e já
convocados para a seleção uruguaia. São eles: O goleiro Gaston Guruceaga – este
que esteve na última rodada das Eliminatórias – e o meio-campista Nahitan
Nandez. Outro ponto forte do Carbonero, é o seu estádio novo, o Campeón del
Siglo (Campeão do Século), que tem capacidade para 40 mil pessoas e será uns
dos triunfos dos uruguaios.
Apesar de passar por mau momento considerando toda a
sua história, o time uruguaio tem totais condições de avançar na competição,
especialmente caso consiga bons resultados dentro de casa. Fora, a equipe
poderá jogar no contra-ataque, como gostam mais as equipes uruguaias, e diante
de equipes piores tecnicamente.
Fundação: 26 de agosto
de 1914
Cidade: São Paulo
Estádio: Allianz
Parque
Melhor campanha: Campeão (1999)
Última participação: 2016
Atual campeão brasileiro, o Palmeiras coloca como
grande foco para 2017 o título da Copa Libertadores. O discurso de prioridade
não é apenas de torcedores, mas bastante comum dentro do elenco que também quer
eliminar o fracasso da temporada anterior, ano em que o Verdão sequer passou da
primeira fase.
O Verdão é o segundo brasileiro com mais participações na Libertadores e já a conquistou em 1999 (Foto: Agência Estado) |
A boa campanha não é esperada apenas em relação à
última edição. Um dos mais tradicionais times brasileiros em participações
(perdendo apenas para o rival São Paulo), o Verdão não tem apresentado bons
resultados recentes. A última boa apresentação foi em 2009, quando parou para o
Nacional-URU nas quartas de final. Coincidentemente, também foi o time uruguaio
que impediu a classificação em 2016.
A falta de boas campanhas se justifica por um período
confuso e turbulento da história alviverde, com escassez de títulos e dois
rebaixamentos em um intervalo de dez anos. A gestão do ex-presidente Paulo
Nobre parece ter colocado o maior campeão nacional de volta nos trilhos e o
time voltou a conquistar o título mais importante do Brasil no ano passado.
Apesar de ter perdido o técnico Cuca e Gabriel Jesus,
atacante titular da seleção brasileira de Tite, os reforços devem suprir as
saídas. Estrelas como Felipe Melo, Guerra e Borja (sendo os dois últimos
destaques do atual campeão da competição, o Atlético Nacional) chegaram, além
de outros bons nomes: Michel Bastos, Keno e Raphael Veiga.
O novo comandante, Eduardo Baptista, já começou
bastante pressionado e com a exigência por conquistas no ano. Ele sabe que
precisará mostrar resultados rapidamente e que tropeços na Libertadores podem
encerrar sua passagem pelo clube, até em função de questionamentos que já
começam a surgir da principal organizada do time alviverde (ainda que abafadas
pelos demais torcedores).
O artilheiro da última edição, Miguel Borja, já marcou pelo Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação) |
O espírito aguerrido, característica essencial para
quem deseja sucesso na competição continental, parece não ser problema. Foi
assim que o Palmeiras se apresentou na reta final do Brasileirão e com jogos
que mais pareciam de mata-mata. O Allianz Parque deve ser um trunfo importante
e certamente estará lotado em todas as partidas para buscar repetir 1999, ano
da única conquista do clube.
Considerado um dos favoritos ao título, eliminação na
primeira fase sequer passa pela cabeça do time e da torcida – e seria um
fracasso. Mesmo sem ser o cabeça de chave do grupo, cargo que ficou com o
Peñarol, o Verdão é considerado a grande força da sua chave e deve passar sem
grandes sustos.
Fundação: 24 de
novembro de 1949
Cidade: Cochabamba
Estádio: Félix
Capriles
Melhor campanha: Semifinal (1981)
Última participação: 2011
Apesar de não ser um nome tão popular entre os
brasileiros, o Jorge Wilstermann está longe de ser um "novato" em
disputas de Libertadores. Esta será a 17ª participação do Wilster, como é
carinhosamente conhecido o time boliviano, mesma quantidade do Palmeiras e
apenas uma a menos do que o São Paulo, time de maior quantidade de
participações entre os brasileiros.
É verdade também que a quantidade não representa
necessariamente grandes resultados. Foram poucas as vezes que o Wilster
conseguiu incomodar seus concorrentes, sendo eliminado boa parte das vezes
ainda na primeira fase, como na sua última participação, em 2011.
Fundado em 1949, esteve presente na edição inaugural
da competição continental, em 1960, quando os bolivianos foram duramente
goleados pelo Peñarol (companheiro de grupo nesta edição) por 7x1. A mais
notável participação veio em 1981, quando deu sorte no chaveamento e passou
para fase final – e pouco fez contra adversário melhores como Deportivo Cali e
Flamengo.
O Jorge Wilstermann conquistou o Clausura em 2016 (Foto: EFE) |
O cenário para a edição de 2017 se encaminha para mais
uma eliminação precoce. A conquista do Torneio Clausura (espécie de segundo
turno boliviano) deu a vaga continental ao Wilster, mas já ficou no passado e o
time vem de campanha apenas mediana no Torneio Apertura, terminando na sexta
colocação.
Dentro de campo, os nomes também não prometem muito
medo para os favoritos. O zagueiro Alex Silva (aquele mesmo ex-São Paulo)
chegou juntamente com o atacante colombiano Cabezas, jogador que estava no
futebol chinês. Além deles, o mais conhecido é o zagueiro Zenteno, jogador da
seleção boliviana.
Nem mesmo a altitude, fator de sucesso para algumas
equipes bolivianas, é dos mais assustadores. Os 2.500 metros de Cochabamba não
são tão temidos como poderiam ser caso o time fosse de La Paz. Com isso,
dificilmente o Wilster deixará de ser um mero coadjuvante do grupo.
Fundação: 27 de
setembro de 1902
Cidade: San Miguel
de Tucumán
Estádio: Monumental
José Fierro
Melhor campanha: Estreia em 2017
Última participação: Nunca participou
O centenário clube argentino (completará 115 anos em
setembro deste ano) será o "novato" do grupo. Chegou ao torneio
continental através do aumento de vagas feito pela Conmebol e, mesmo sem ser um
dos principais times do país, já pode ser considerado uma das histórias mais
legais da edição de 2017 da Libertadores.
O pequeno time do norte da Argentina chegou à primeira
divisão em 2015 e fez da sua casa uma verdadeira fortaleza, chegando a ficar 32
partidas sem perder dentro do seu estádio. O fato de ser um estreante passa a
ser mero detalhe para uma equipe que já viveu fortes emoções desde o princípio.
O Atlético Tucumán atuou com a camisa da seleção argentina nesta Libertadores (Foto: Reuters) |
E já começou sua participação dentro de casa, quando
precisou defender a sua vaga que clubes maiores tentaram tomar nos bastidores.
A seguir, precisou de bom senso (e apoio da sua federação) para evitar um W.O.
diante do equatoriano El Nacional: Chegando mais do que atrasado e sem
uniforme, o Tucumán vestiu a camisa da seleção argentina (a qual ele, Tucumán,
é inspirador) e venceu os equatorianos antes de também despachar o colombiano
Junior Barranquilla na segunda eliminatória.
Como não poderia deixar de ser, a grande força dos
Decanos (apelido do Tucumán) é a sua apaixonada e vibrante torcida, sempre
presente. Dentro de campo, sem grandes nomes, a esperança está no atacante
Zampedri, autor de gols já na fase da pré-Libertadores e no goleiro Lucchetti.
O estádio Monumental José Fierro e a empolgação da torcida serão as armas do modesto time (Foto: Reprodução/Twitter) |
O time argentino não vive grande fase e faz campanha
apenas mediana no campeonato nacional, mas já deixou claro que dará a vida para
sobreviver no torneio continental. “Motorista,
pode correr, o Tucumán não tem medo de morrer”, como cantaram os próprios
jogadores a caminho do jogo contra o El Nacional, dá uma dimensão do quão
aguerrido é o time dos Decanos.
À vontade, inclusive, deve ser a grande força dos
Decanos. Em condições normais, o time argentino não deve impor grandes
dificuldades para Peñarol e Palmeiras, porém investirá no fator casa, local
onde é muito forte, para tentar criar uma possibilidade de surpreender.
Vencendo os concorrentes diretos na Argentina, pode passar de coadjuvante a
competidor - o que seria histórico para um time que nunca disputou a competição
antes.
Curiosidades:
- Ao contrário do Nacional-URU, time que complicou o
Palmeiras em diversas ocasiões, o Peñarol não costuma dar tanto trabalho para o
Verdão. São 21 partidas e apenas três derrotas para os uruguaios - sendo que
dos últimos 16 jogos apenas uma vitória do Peñarol (2x0).
- O Peñarol é o único do grupo que já enfrentou o Jorge
Wilstermann e tem retrospecto amplamente favorável, inclusive com duas
goleadas: 7x1 e 4x0. As duas derrotas que teve foram na altitude e ambas pela
diferença mínima: 1x0.
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