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E na história fica aquela marca imortal: 5 anos da histórica virada

Costumo caçar histórias, e quando encontro algumas que me deixam com pulga atrás da orelha, consulto os mais velhos para saber de tal fato. Desde o primeiro dia que "me tornei" torcedor do CRB, é normal me deparar com lindas histórias que só os mais velhos podem contar. Jogos, jogadores, elencos que deixavam os olhos em lágrimas só de poder presenciar grandes ídolos. Há um tempo parei para perceber de que assim como outros que tiveram o prazer de acompanhar a história, a formação profissional deste clube e os ídolos que passaram, hoje tenho o prazer de ter na minha cabeça, no fundo do peito memórias profundas da história do meu clube.

Só de pensar em alguns jogos, já sinto algo diferente, um ritmo mais acelerado do coração e uma imaginação que guardou com toda a satisfação uma partida que ficou marcada na história de muitos torcedores.

Centenário do clube chegando, faltando alguns meses e já recheado de emoções. A temporada de 2012 foi marcada por um belo início no Campeonato Estadual diante do rival, uma vitória por 3 a 0. Ainda conquistamos dois outros títulos ao longo do campeonato. Primeiro turno e o próprio campeonato já em seu final contra o vencedor do segundo turno, o ASA de Arapiraca. No primeiro jogo da final, a quebra de um tabu ao vencer o adversário. E no segundo, a festa. O título conquistado após longos dez anos.

A volta da equipe para a Série B após quatro anos era bastante esperada. No início, alguns tropeços e vitórias importantes. Mas esta matéria não é para falar da temporada, e sim de um jogo que arrepiou a todos e comoveu vários corações. Sim, estou falando de CRB e Joinville.


A partida estava difícil. O adversário estava vencendo por 2 a 0, a equipe tentava chegar ao gol e esbarrava nos próprios erros. Os passes, as finalizações, tudo parecia perder o sentido, a direção e o verdadeiro propósito. Marcar o gol seria ali, seria um alívio, uma forma de dizer que ainda estávamos vivos no jogo. Mas o balde de água fria que costuma a ser fatal, que costuma a doer nos pobres corações veio em forma de terceiro gol. Uma falha bisonha da defesa, logo no início do segundo tempo fez com Tiago Real ampliasse o placar para o adversário no primeiro minuto. O mesmo filme de 2011 vinha a cabeça, perder para o mesmo adversário, em um jogo que poderia ser uma revanche.

Os torcedores começavam a abandonar o estádio, um time apático e um resultado que faz qualquer pesadelo ser qualquer coisa amena.

É, e foi ali, cinco minutos depois, bem aos 6' que em uma falta, a esperança sentava ao lado do torcedor e assistia o restante do jogo conosco. Geovani e Elsinho na bola, aquele silêncio, uma esperança, uma vontade de não sair do estádio sem ao menos dar um sorriso, mesmo que seja o mais falso. O pé esquerdo que nos ajudou com o acesso, que fez o único gol da equipe na final do ano anterior, que foi fundamental na conquista do título do estadual, carinhosamente beijou a bola para que a mesma fosse ao gol. Geovani com sua maestria diminuía o placar.



Eu vibrava, mas não sabia se lamentava de um gol tão bonito ser feito em um jogo já perdido. Foi aí que bem depois, logo aos 14', Chulapa fez o pivô na intermediária, serviu Geovani que vinha em sua direção, e ele, o camisa dez, lançou Elsinho livre no corredor direito. O lateral entrou na área, olhou para o goleiro, abaixou a cabeça e colocou toda sua força no pé direito para deslocar o goleiro adversário e fazer o segundo gol do Galo na partida. A euforia começava a tomar conta, estávamos sentindo que algo poderia acontecer de diferente, a motivação, a esperança, éramos jogadores na arquibancada, loucos para fazer um gol, mas só podendo torcer, passar a vibração para os onze que estavam em campo.


Não se sabe a verdadeira motivação dos jogadores após aquele terceiro gol do Joinville. Tudo que se podia pensar era de que após aquele gol, era só ver as equipes gastando o tempo com finalizações toscas e passes errados. Mas não, o Galo foi valente, foi feroz.

Chulapa se transformava em um jogado fundamental em campo, mesmo saindo da reserva, talvez fosse ele o motivador, o que fez com que os atletas pudessem fazer algo histórico.

E lá estava ela. A bola, no mesmo lugar, tendo os mesmos jogadores a sua volta. Com o cronômetro marcando 24' do segundo tempo. Eu, na arquibancada, senti o momento. Sozinho, ali, rezando e como se estivesse junto a Geovani, soltei as seguintes palavras bem baixinhas, já sussurrando: "Calma, calma. O momento é seu". Até hoje penso neste momento, parecia mesmo que conversei com o jogador, e assim, pareceu que ele me escutou.

Geovani deu três passos, sim, três passos. No terceiro, com seu pé esquerdo, mais uma vez acarinhou a bola que sobrevoou por cima da barreira e deitou nas redes de Ivan, que mesmo pulando, não encontrou a bola, ela queria encontrar a rede, e encontrou. Eu chorava, não entendia o que acontecia, era algo novo para mim. Menino novo, apenas doze anos e um sentimento que jamais havia sentido. Ver aquele gol, o sorriso no rosto estampado em pessoas que uma vez ou outra eu acabava encontrando em um jogo, me satisfazia por completo. O futebol é capaz de nos tirar emoções que nenhum humano ou fé é costumeira de fazer. Aquele gol, aquele momento, tudo que havia passado na minha vida era só um detalhe. Pois aquela bola significava outra vida, uma nova forma de acreditar. Servindo até de motivação pessoal. Basta acreditar em você mesmo, sentir que você pode fazer o impossível se tornar algo tão fácil de conquistar. Tudo que é preciso está em você, e só sua dedicação, sua perseverança vai fazer com que você vá lá e conquiste, mesmo com vários obstáculos.


Não precisava ter continuidade aquele jogo. Aquele empate significava algo incrível para qualquer telespectador em sua casa, qualquer torcedor dentro do estádio. Eu olhava para o lado, pessoas ajoelhadas agradecendo pelo momento, outras chorando, e as demais sem acreditar, assim como eu. Mesmo com o empate conquistado, a equipe continuou em cima. Creio que poucas realmente continuavam a assistir a partida, era difícil de voltar a assistir após ver algo tão extraordinário acontecendo. Mas dois minutos depois do gol, enquanto todos comemoravam, choravam e agradecia, outro lance fazia com que à tarde-noite daquele sábado, 21 de Julho de 2012, há exatos cinco anos, tivesse seu brilho maior.

Aloísio, após receber a bola na entrada da área, lançou Elsinho livre novamente. Ele dominou, mas já estava marcado, e mesmo assim chutou forte no mesmo canto. O goleiro por sua vez defendeu, mas como toda história tem um guerreiro, um mito, uma lenda, lá estava Geovani, o camisa dez, o iluminado daquele dia.

Geovani correu, e livre, sozinho, sem ninguém mais para impedi-lo, o meia já saindo para comemorar antes mesmo de chutar a bola (pois bem, só de ver o jogador livre indo finalizar aquela bola, todo o estádio já começava a comemorar), ele finalizou com um simples toque e fazia história no Rei Pelé.



O quarto gol, o sétimo da noite, o terceiro de Geovani. Números que fazem a história, por mais que seja engraçado. Aquela partida, aquele gol, aquele jogador, ficaram marcados. O impossível se tornava história, e a história guardava o momento. Os torcedores, os jogadores, todos ali no estádio não sabiam mais o que fazer. Era abraçar o desconhecido ao lado, chorar com quem estivesse em lágrima, e vibrar, agradecer aos céus por ter presenciado algo histórico. Um jogo que mudou a vida, a forma de torcer, a forma de acreditar de muitos torcedores.

Até hoje, se o Galo estiver sendo derrotado por um placar considerado elástico, este é o primeiro jogo que vem a memória de qualquer torcedor. Um centenário que se preze, precisa sim de um jogo brilhante como este, que fique marcado na história e de uma geração com câmeras, smartphones, gravem o momento, pois este será eternizado.


De tantos que conheço que vi jogar neste tempo, nesta década, Geovani foi o mais especial. Claro que houve jogadores que mantiveram uma melhor regularidade, demonstra um amor maior a camisa e até fazem jogos melhores. Mas é inegável qualquer feito de Geovani pelo CRB.

Foram dez participações dos quinze gols feitos pelo clube na Série C de 2011. Foram sete assistências e três gols. O único gol do Galo na final foi feito pelo mesmo.

No Alagoano de 2012, novamente destaque. Encurtando o texto, foi responsável pelos dois gols na final do primeiro turno contra o ASA. A equipe perdia por 1 a 0, e Geovani fez o gol de empate em um lindo voleio no segundo tempo. Na prorrogação, novamente o adversário na frente e Geovani empatou o jogo no segundo tempo em belíssima cobrança de falta. E ainda na disputa por pênaltis, fez um lindo gol que ajudou ao Galo conquistar um título de turno após vários anos.

Mais tarde, apareceu novamente. Desta vez na final do estadual. Primeiro jogo no Rei Pelé, e Geovani inaugurou o placar após linda cobrança de falta. O jogo acabaria em 2 a 1. E no segundo jogo, um 0 a 0.

O jogo

Nesta partida contra o Joinville, dos quatro gols marcados pelo Galo, foram três gols do Geovani e um de Elsinho, gol este que teve assistência do camisa dez. Após esta partida o meia só voltaria a marcar um gol contra o Barueri no segundo turno, já no final do campeonato.

Fotos retiradas do site Click Maceió. Não foi preciso citá-los em legenda por já possuir a autoria da imagem na própria foto.

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