Costumo caçar histórias, e quando encontro algumas que
me deixam com pulga atrás da orelha, consulto os mais velhos para saber de tal
fato. Desde o primeiro dia que "me tornei" torcedor do CRB, é normal
me deparar com lindas histórias que só os mais velhos podem contar. Jogos,
jogadores, elencos que deixavam os olhos em lágrimas só de poder presenciar
grandes ídolos. Há um tempo parei para perceber de que assim como outros que
tiveram o prazer de acompanhar a história, a formação profissional deste clube
e os ídolos que passaram, hoje tenho o prazer de ter na minha cabeça, no fundo
do peito memórias profundas da história do meu clube.
Só de pensar em alguns jogos, já sinto algo diferente,
um ritmo mais acelerado do coração e uma imaginação que guardou com toda a
satisfação uma partida que ficou marcada na história de muitos torcedores.
Centenário do clube chegando, faltando alguns meses e
já recheado de emoções. A temporada de 2012 foi marcada por um belo início no
Campeonato Estadual diante do rival, uma vitória por 3 a 0. Ainda conquistamos
dois outros títulos ao longo do campeonato. Primeiro turno e o próprio
campeonato já em seu final contra o vencedor do segundo turno, o ASA de
Arapiraca. No primeiro jogo da final, a quebra de um tabu ao vencer o
adversário. E no segundo, a festa. O título conquistado após longos dez anos.
A volta da equipe para a Série B após quatro anos era
bastante esperada. No início, alguns tropeços e vitórias importantes. Mas esta
matéria não é para falar da temporada, e sim de um jogo que arrepiou a todos e
comoveu vários corações. Sim, estou falando de CRB e Joinville.
A partida estava difícil. O adversário estava vencendo
por 2 a 0, a equipe tentava chegar ao gol e esbarrava nos próprios erros. Os
passes, as finalizações, tudo parecia perder o sentido, a direção e o
verdadeiro propósito. Marcar o gol seria ali, seria um alívio, uma forma de
dizer que ainda estávamos vivos no jogo. Mas o balde de água fria que costuma a
ser fatal, que costuma a doer nos pobres corações veio em forma de terceiro
gol. Uma falha bisonha da defesa, logo no início do segundo tempo fez com Tiago
Real ampliasse o placar para o adversário no primeiro minuto. O mesmo filme de
2011 vinha a cabeça, perder para o mesmo adversário, em um jogo que poderia ser
uma revanche.
Os torcedores começavam a abandonar o estádio, um time
apático e um resultado que faz qualquer pesadelo ser qualquer coisa amena.
É, e foi ali, cinco minutos depois, bem aos 6' que em
uma falta, a esperança sentava ao lado do torcedor e assistia o restante do
jogo conosco. Geovani e Elsinho na bola, aquele silêncio, uma esperança, uma
vontade de não sair do estádio sem ao menos dar um sorriso, mesmo que seja o
mais falso. O pé esquerdo que nos ajudou com o acesso, que fez o único gol da
equipe na final do ano anterior, que foi fundamental na conquista do título do
estadual, carinhosamente beijou a bola para que a mesma fosse ao gol. Geovani
com sua maestria diminuía o placar.
Eu vibrava, mas não sabia se lamentava de um gol tão
bonito ser feito em um jogo já perdido. Foi aí que bem depois, logo aos 14',
Chulapa fez o pivô na intermediária, serviu Geovani que vinha em sua direção, e
ele, o camisa dez, lançou Elsinho livre no corredor direito. O lateral entrou
na área, olhou para o goleiro, abaixou a cabeça e colocou toda sua força no pé
direito para deslocar o goleiro adversário e fazer o segundo gol do Galo na
partida. A euforia começava a tomar conta, estávamos sentindo que algo poderia
acontecer de diferente, a motivação, a esperança, éramos jogadores na
arquibancada, loucos para fazer um gol, mas só podendo torcer, passar a
vibração para os onze que estavam em campo.
Não se sabe a verdadeira motivação dos jogadores após
aquele terceiro gol do Joinville. Tudo que se podia pensar era de que após
aquele gol, era só ver as equipes gastando o tempo com finalizações toscas e
passes errados. Mas não, o Galo foi valente, foi feroz.
Chulapa se transformava em um jogado fundamental em
campo, mesmo saindo da reserva, talvez fosse ele o motivador, o que fez com que
os atletas pudessem fazer algo histórico.
E lá estava ela. A bola, no mesmo lugar, tendo os
mesmos jogadores a sua volta. Com o cronômetro marcando 24' do segundo tempo.
Eu, na arquibancada, senti o momento. Sozinho, ali, rezando e como se estivesse
junto a Geovani, soltei as seguintes palavras bem baixinhas, já sussurrando:
"Calma, calma. O momento é seu".
Até hoje penso neste momento, parecia mesmo que conversei com o jogador, e
assim, pareceu que ele me escutou.
Geovani deu três passos, sim, três passos. No
terceiro, com seu pé esquerdo, mais uma vez acarinhou a bola que sobrevoou por
cima da barreira e deitou nas redes de Ivan, que mesmo pulando, não encontrou a
bola, ela queria encontrar a rede, e encontrou. Eu chorava, não entendia o que
acontecia, era algo novo para mim. Menino novo, apenas doze anos e um
sentimento que jamais havia sentido. Ver aquele gol, o sorriso no rosto
estampado em pessoas que uma vez ou outra eu acabava encontrando em um jogo, me
satisfazia por completo. O futebol é capaz de nos tirar emoções que nenhum
humano ou fé é costumeira de fazer. Aquele gol, aquele momento, tudo que havia
passado na minha vida era só um detalhe. Pois aquela bola significava outra
vida, uma nova forma de acreditar. Servindo até de motivação pessoal. Basta
acreditar em você mesmo, sentir que você pode fazer o impossível se tornar algo
tão fácil de conquistar. Tudo que é preciso está em você, e só sua dedicação,
sua perseverança vai fazer com que você vá lá e conquiste, mesmo com vários
obstáculos.
Não precisava ter continuidade aquele jogo. Aquele
empate significava algo incrível para qualquer telespectador em sua casa,
qualquer torcedor dentro do estádio. Eu olhava para o lado, pessoas ajoelhadas
agradecendo pelo momento, outras chorando, e as demais sem acreditar, assim
como eu. Mesmo com o empate conquistado, a equipe continuou em cima. Creio que
poucas realmente continuavam a assistir a partida, era difícil de voltar a
assistir após ver algo tão extraordinário acontecendo. Mas dois minutos depois
do gol, enquanto todos comemoravam, choravam e agradecia, outro lance fazia com
que à tarde-noite daquele sábado, 21 de Julho de 2012, há exatos cinco anos, tivesse
seu brilho maior.
Aloísio, após receber a bola na entrada da área,
lançou Elsinho livre novamente. Ele dominou, mas já estava marcado, e mesmo
assim chutou forte no mesmo canto. O goleiro por sua vez defendeu, mas como
toda história tem um guerreiro, um mito, uma lenda, lá estava Geovani, o camisa
dez, o iluminado daquele dia.
Geovani correu, e livre, sozinho, sem ninguém mais
para impedi-lo, o meia já saindo para comemorar antes mesmo de chutar a bola
(pois bem, só de ver o jogador livre indo finalizar aquela bola, todo o estádio
já começava a comemorar), ele finalizou com um simples toque e fazia história
no Rei Pelé.
O quarto gol, o sétimo da noite, o terceiro de
Geovani. Números que fazem a história, por mais que seja engraçado. Aquela
partida, aquele gol, aquele jogador, ficaram marcados. O impossível se tornava
história, e a história guardava o momento. Os torcedores, os jogadores, todos
ali no estádio não sabiam mais o que fazer. Era abraçar o desconhecido ao lado,
chorar com quem estivesse em lágrima, e vibrar, agradecer aos céus por ter
presenciado algo histórico. Um jogo que mudou a vida, a forma de torcer, a
forma de acreditar de muitos torcedores.
Até hoje, se o Galo estiver sendo derrotado por um
placar considerado elástico, este é o primeiro jogo que vem a memória de
qualquer torcedor. Um centenário que se preze, precisa sim de um jogo brilhante
como este, que fique marcado na história e de uma geração com câmeras,
smartphones, gravem o momento, pois este será eternizado.
De tantos que conheço que vi jogar neste tempo, nesta
década, Geovani foi o mais especial. Claro que houve jogadores que mantiveram
uma melhor regularidade, demonstra um amor maior a camisa e até fazem jogos
melhores. Mas é inegável qualquer feito de Geovani pelo CRB.
Foram dez participações dos quinze gols feitos pelo
clube na Série C de 2011. Foram sete assistências e três gols. O único gol do
Galo na final foi feito pelo mesmo.
No Alagoano de 2012, novamente destaque. Encurtando o
texto, foi responsável pelos dois gols na final do primeiro turno contra o ASA.
A equipe perdia por 1 a 0, e Geovani fez o gol de empate em um lindo voleio no
segundo tempo. Na prorrogação, novamente o adversário na frente e Geovani
empatou o jogo no segundo tempo em belíssima cobrança de falta. E ainda na
disputa por pênaltis, fez um lindo gol que ajudou ao Galo conquistar um título
de turno após vários anos.
Mais tarde, apareceu novamente. Desta vez na final do
estadual. Primeiro jogo no Rei Pelé, e Geovani inaugurou o placar após linda
cobrança de falta. O jogo acabaria em 2 a 1. E no segundo jogo, um 0 a 0.
O jogo
Nesta partida contra o Joinville, dos quatro gols
marcados pelo Galo, foram três gols do Geovani e um de Elsinho, gol este que
teve assistência do camisa dez. Após esta partida o meia só voltaria a marcar
um gol contra o Barueri no segundo turno, já no final do campeonato.
Fotos retiradas do site Click Maceió. Não foi preciso citá-los em
legenda por já possuir a autoria da imagem na própria foto.
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