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Com pouca fluidez, o individualismo decidiu para o Mônaco

Na última sexta-feira (18), o Mônaco viajou até a região nordeste da França para enfrentar o Metz, pela terceira rodada da Ligue 1. O início de temporada dos monegascos pode ser apontado como animador: duas vitórias em dois jogos, 7 gols marcados e confirmação do seu já conhecido estilo de jogo - exímio poderio ofensivo e bola aérea sobressaindo. Em contrapartida, os donos da casa iniciaram a temporada dentro do contexto que deve predominar no clube durante a campanha, brigar contra a queda: no mesmo período, acumularam derrotas sem demonstrar reação alguma.


Grande fase vivida pelo colombiano. (Foto: AS Mônaco oficial)

O principal desafio do Mônaco nessa temporada, será conciliar as lacunas deixadas pelas saídas de jogadores cruciais no funcionamento do time, sem perder sua filosofia de prioridade máxima á jovens talentos - além de mostrar alternativas táticas, já que uma vez que o estilo de transição e objetividade estar encaixado perfeitamente no 4-2-2-2, independente das peças, que são adaptadas ao modo de se impor com e sem a esfera por parte de Leonardo Jardim. O capacitado treinador português não aparentou, desde de sua chegada no principado, ser flexível e postar sua equipe de acordo com as ocasiões do jogo - é, em outrora, mais uma daqueles técnicos típicos que se prendem a uma convicção e não largam ela de jeito nenhum. Por sua vez, Jardim terá, dessa temporada adiante, maior poder de decisão nas negociações do Mônaco na janela de transferências - um dos responsáveis pela pequena revolução estratégica nesse sentido no Mônaco, Antonio Cordon, deixou o cargo na diretoria do clube.

Em relação ao plantel e opções de variar as engrenagens sem perder o clichê do esquema mais convencional da equipe, o leque de peças dos monegascos para essa temporada que deve ser de consolidação, é mais limitado em comparação a 2016/17. Sofrendo algumas adaptações, a sina de em poucos toques na bola chegar a meta adversária, passa por uma transformação: no flanco direito, onde o altruísta Bernardo Silva destoava e tinha total liberdade de flutuar, conta hoje, com também nomes criativos que exercem funções nas beiradas - o português Rony Lopes, junto do recém-chegado Rachid Ghezzal, figuram no posto. Essa mudança representa para o Mônaco, uma transformação no entendimento do jogo: com o mediapunta que rumou ao Manchester City, era nítida a maior fluência a partir de ter o domínio da posse, inverter a esfera no flanco oposto para o ataque dos espaços vazios gerados pelo mesmo - agora, tanto com Lopes quanto com Ghezzal, a tendência é o individualismo no setor, buscar o drible e possuir no extremo esquerdo, mais verticalidade e assistências. No ataque, Mbappé ainda tem permanência dada como incógnita, por essas e outras, a jóia da exitosa base do Rennes, Adama Diakhaby, chegou e promete desempenhar papel similar ao do jovem e badalado atleta.


O JOGO

Taticamente: enquanto o Metz utilizou uma formatação corriqueira no clube (4-2-3-1), os comandados de Leonardo Jardim foram a campo postados no também tradicional 4-2-2-2. Por dentro, no time mandante, um double pivote foi colocado em prática - os volantes Poblete e Cafu dariam, em tese, consistência para a lentidão de Diagne e Niakhaté no miolo da zaga - na trinca de meias, Abile Jallow (fruto do projeto do Metz com o Génération Foot de Senegal) e Jouffre contemplavam de características distintas, contribuindo mais sem a bola do que na fase ofensiva, para maior movimentação de Cohade e Nolan Roux no comando do ataque; já no lado do Mônaco, Fabinho e Moutinho compuseram a faixa central, ambientando seu jogo mais objetivo tendo Lemar como expoente pela esquerda, com Rony Lopes municiando e atacando hiatos na defesa adversária, com Adama Diakhaby e Falcão completando o esquema - o primeiro representante, um dos jogadores que mais prometem no Campeonato Francês dessa temporada.



Nos primeiros minutos da etapa inicial, o jogo já se apresentava complicado para o Mônaco. Sem fluência nas transições desde trás e tampouco conseguindo criar chances a partir da marcação alta sob os zagueiros do Metz, o time deu margem para certo controle das situações defensivas por parte dos donos da casa - que, pelo estilo de jogo mais reativo, sempre preferia dar a posse aos monegascos e com precisão, explorar erros em contra-ataques - filosofia de futebol costumeira do clube do principado, que constantemente tem provações do tipo na Ligue 1 diante de times inferiores tecnicamente. Maior parte do fluxo ofensivo dos visitantes foi gerado a partir de avanços dos laterais Sidibé e Jorge, com juntos, se associavam de Lopes e Lemar, respectivamente - percebendo esse volume de jogo maior nas beiradas, os extremos Jallow e Jouffre passaram a ter obrigações mais rígidas sem a bola. O primeiro tempo, resumidamente, teve um conflito de tipos de jogos similares, mas que eram diferenciados pela qualidade individual dos atletas monegascos, que já em quarenta e cinco minutos haviam finalizado, avulsamente, em diversas oportunidades. 
Fluxo gerado pelo time do Mônaco no jogo. (Foto: créditos na imagem).



Em busca de mais profundidade e de um extremo que tenha capacidade de abrir caminho na defesa adversária mudando de direção rapidamente na condução direta com a esfera em domínio, Jardim voltou para o segundo tempo com duas transformações táticas refletidas por uma alteração: a saída de Rony Lopes junto da entrada de Carrillo fizeram com que Diakhaby passasse a atuar nas beiradas, acelerando e dando amplitude no último terço, ganhando mais uma alternativa aérea com o argentino ao lado de Falcão no ataque. A partir dessa variação, o Mônaco até cresceu na segunda etapa, conseguindo ocasionar mais perigos a defesa do Metz principalmente na bola parada - uma das virtudes pouco faladas do time na última temporada, que está cada vez mais afiada. Porém, ainda apresentava dificuldades em executar transições mais velozes, falta de fluência na saída de bola que tinha todavia a pressão de Roux, que em vários momentos do jogo caiu para os lados impedindo também um iminente desafogo com os laterais. Um dos motivos plausíveis para explicar a fraca atuação do Mônaco até então, é o de que a temporada se iniciou recentemente - porém, há muito futebol individual nos homens monegascos, o desafio de Jardim será manter um nível considerável sem as mesmas peças da última temporada, como já dito.




Já no lado do Metz, a postura foi mantida: compactação, linhas próximas e virtude de usar o veneno monegasco contra os próprios - transitar precisamente tendo expoentes nos flancos - o gambiano Abile Jallow se mostrou de grande personalidade, apesar de erros normais para sua idade (18 anos), cumpriu bem sua função de agilidade nos lados, enquanto o veterano Jouffre fez partida apagada - em compensação, Poblete e Cafu conseguiram, por boa parte do jogo, conter o ataque do Mônaco e, especialmente levar vantagem nos duelos individuais contra Moutinho e Fabinho. Em determinados lampejos da partida, o perigo de propor o jogo e fugir de suas características resultou em várias ocasiões ao Metz - que eram criadas a partir de falhas do Mônaco.


Metz conseguiu bons momentos explorando os flancos do Mônaco. (Foto: créditos na imagem).

A salvação do Mônaco veio com a entrada de Rachid Ghezzal (ex-Lyon) já na reta final da partida. O franco-argelino que chegou com o fardo de substituir o craque português Bernardo Silva, entrou na função de Adama Diakhaby, que diferentemente de sua estréia diante do Dijon, não fez uma partida de agrado de Jardim - outra vez, houve uma alteração no sentido futebolístico tático e técnico do Mônaco: com Ghezzal, dois criativos que costumam fazer o famigerado movimento fora-dentro nos flancos - e desde isso, o panorama pintou favorável ao Mônaco, contando com desgaste físico dos laterais do adversário, as chances começavam a aparecer. E em poucos minutos no campo, longe da forma ideal, Ghezzal destoou: linda jogada individual, que terminou com assistência pelo alto para Falcão, que com a saída precipitada de Didillon da meta, finalmente abriu o placar. Metz 0-1 Mônaco. E ficou por isso mesmo: numa atuação pífia mas que deu outra vitória e quebra de recorde ao Mônaco (15 vitórias seguidas, superando o feito do Bordeaux), Ghezzal liderou o time á glória.


Estatísticas do jogo. (Foto: @11stegen11).

DESTAQUES INDIVIDUAIS

Rachid Ghezzal - apesar de pouco tempo em campo e todo questionamento em volta de sua contratação, o africano foi o principal nome para o desfecho positivo da partida ao Mônaco. Com um passe fantástico para o gol de Falcão García que decretou a vitória monegasca, deve conquistar a vaga de titular com o tempo.

Radamel Falcão - artilheiro do Campeonato Francês com o gol anotado hoje, somando cinco tentos no total. Contudo, a movimentação do mesmo no jogo não foi uma das mais lúcidas, apesar de sempre finalizar e dar opção de jogo aéreo com as subidas dos laterais.

Abile Jallow - o extremo gambiano que chegou nessa temporada ao profissional do Metz, vindo da clichê parceria com o Génération Foot (centro de observação em Senegal que reúne jovens africanos de 14-18 anos, que logo são repassados á França), o habilidoso jogador não sentiu o peso de debutar numa grande liga europeia. O início ruim do Metz é reflexo de sua fragilidade, com os próximos reforços de Sam Larsson e Philipp Wollscheid, o time deve elevar seu patamar e Jallow com certeza terá exímia vitalidade.



Thomas Didillon - mesmo com a falha na tomada de decisão no momento do gol do Mônaco, o placar só não foi maior pelas boas defesas executadas por um promissor goleiro, que integra seleções de base do país. A desproteção do contexto geral da defesa do clube em qual joga é um tanto quanto caótica para sua evolução, porém, consegue desempenhar um fundamental papel dentro da equipe.


Com a vitória, o Mônaco chegou a 9 pontos em três jogos. Melhor início da era Leonardo Jardim no clube na Ligue 1. Na próxima partida, no dia 27/08, o time do sul francês recebe o Olympique de Marselha em um jogo que também colocará frente a frente um conflito reativo e de transições rápidas buscando o tento.

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