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Paolo, o Grande, foi um prazer.

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(Foto: globoesporte.com)

Lembro da primeira vez vi Guerrero em campo com meus próprios olhos. Foi última vez que fui ao Maracanã antes de fechar para as olimpíadas. O estádio ganhava mais um personagem que fazia jus a sua grandeza. Flamengo 1 x 0 Grêmio. Gol dele, em um jogo que me assustou a qualidade fora da área do novo 9 do Flamengo.

Paolo Guerrero foi escolhido pela diretoria do Flamengo como o primeiro sinal dos novos tempos no meio de 2015. Tempos de grandeza eram vislumbrados. Depois de anos na draga, era o primeiro jogador de expressão a ser arrancado do clube original. Centro-avante de 1 milhão por mês, autor dos dois gols do mundial do Corinthians três anos antes. Um novo camisa 9 digno de respeito, o último desde Adriano.

Antes da estreia contra o Grêmio, já tinha feito dois jogos. Um gol e um passe em um vitória quebra-de-tabu no Beira-Rio, e outro contra o Náutico fora. O gol aos 8 minutos em Porto Alegre fez Luís Roberto bradar:
- Um atacante de nível internacional! - O começo era muito animador e a torcida do Flamengo criou a expectativa de um imparável fazedor de gols.

Os meses seguintes foram de seca. As críticas foram intensas. Mas Guerrero nunca jogou mal no Flamengo. A torcida não o havia compreendido. O peruano era um enorme jogador, mas não exatamente um artilheiro nato. Quando aprendemos a entendê-lo talvez tenha sido tarde demais para que alguns tenham podido admirá-lo de verdade. Se além de jogar o que joga ainda tivesse o instinto de um brucutu, nunca teria saído da Europa.

Foram dois anos e meio. 42 dois gols. Título, apenas um, o estadual de 2017. Terminou "abandonando" o clube em um dos momentos mais difíceis da temporada. Nessa hora, os idiotas da objetividade logo dirão que Guerrero foi uma decepção. Dirão que decidiu apenas um título estadual, que nunca fez gol no Vasco e que o Brocador teve o mesmo número de gols em apenas um ano, e além do estadual ainda levou uma improvável Copa do Brasil.

De fato, isso tudo é verdade. Não há contestações para esses números. Porém, como o futebol é o esporte menos quantificável de todos, esses números não dizem tudo.

A verdade é que o peruano entrou em um time horrível que não o ajudava. No ano seguinte, melhorou muito o time e ele foi responsável pela maior parte dos gols dos grandes jogos. Esse ano, mesmo sem jogar os últimos dois meses, teve o melhor ano da sua carreira. 

Quanto aos grandes jogos, Guerrero foi enorme em todos eles. Em 2015, não houve nenhum. Em 2016 no Brasileiro, o campeonato do Flamengo no ano, ele marcou gols em viradas e vitórias importantes, embora não saibamos valorizar os grandes jogos nos pontos corridos. No estadual que venceu e foi artilheiro, a maior parte de seus gols foram em clássicos. Na libertadores, foi responsável por duas das três vitórias do Flamengo, tendo que ser o 9 e o 10 do time em metade dos jogos. Na final da Copa do Brasil foi o melhor homem em campo, parando na trave no início e em Fábio no fim. Incansável e imparável.

Assim o peruano conquistou a torcida. Passava o jogo inteiro brigando com os zagueiros. Corria a torto e a direito. Por vezes, armou as jogadas para ele mesmo finalizar. Cobrava-se o tempo todo a cada jogada errada. Nunca deixou de chamar de responsabilidade. Nunca fugiu pelo menos de tentar tudo que podia nos grandes jogos. Jogou inúmeras vezes no sacrifício. Foi profissional ao extremo. Foi Flamengo, e entendeu a sua maneira a responsabilidade de jogar onde jogava.

A prova disso é que ano o Flamengo se virou sem Diego mas não conseguiu se virar sem Guerrero por muito tempo, até que Vizeu desandasse a fazer gols. No time de bananas desse ano, o peruano nunca foi um desses bananas e, talvez por isso, tenha despertado paixão dos rubro-negros principalmente nos últimos meses.

Grandeza. Eis teu segundo sobrenome, Paolo. O homem que se recusou a fugir, que mesmo no fracasso continuou tentando. O homem que se recusava a se rebaixar ao nível de Rodrigo e continuava tentando responder na bola. Mais do que um jogador de futebol, Guerrero é um ídolo por seu caráter.

A menos que volte e vença um título importante, Guerrero é desses caras que não vão entrar pra história como um dos maiores jogadores do clube. Qualquer cara que no futuro fosse buscar Guerrero nos jornais de hoje o veria como um grande jogador que decepcionou a nação.

O peruano será desses jogadores que sua idolatria será passada na oralidade. Como nos pequenos povoados da ancestralidade humana, daqui a 20 anos será pela voz dos futuros anciãos rubro-negros que os pequenos Flamenguistas conheceram os feitos de Paolo Guerrero.

E esses os ídolos que importam de verdade. Não aqueles que conhecemos apenas nos livros e nos números. Mas aqueles que ficam na memória e no coração de quem os viu jogar. Contarei aos meus filhos a emoção do gol contra a Católica, dentre tantos outros, e quantas vez a arquibancada ouvia os sussurros:

- Que pivô!

O provável fim da passagem de Guerrero é um fim trágico para talvez um dos homens que menos merecessem. E nem cheguei a falar da importância de Guerrero para seu país. Olho aqui pelo ponto de visto rubro-negro.

Mas sei que mesmo derrotado nos tribunais, Paolo será mais uma vez grande e não me decepcionará. Se portará como um vencedor e fará de tudo para voltar aos gramados no final do ano que vem.

Espero eu que de vermelho e preto.

Obrigado, Guerrero, por me fazer sorrir e chorar em tantos noites de Flamengo. Obrigado pelo exemplo, pelo suor. Obrigado por ser Guerrero.

No mais,

Saudações rubro-negras e rumo ao título quarta-feira. Se não pela nação, que vençamos por Paolo.

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