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A ARQUIBANCADA INCENDEIA


(Gilvan de Souza/Flamengo)

Antes do jogo já sabia que era nosso. Qualquer um que estivesse no Maracanã antes da bola rolar já sabia. A alma do gigante de outrora, do sangue que pulsa e da garganta esguelada, sorriu de novo pra noite carioca e a massa teve uma atuação daquelas. Eram 21h20 e eu já sabia. Hoje é nosso.

Bastaram 25 reais de diferença no preço do setor norte para a torcida mudar da água pro vinho. Mas não por um milagre de deus. Ontem era dia do outro. Quarta passada a arquibancada era um funeral. Ontem era o inferno. A massa foi ao chão e voltou queimada, com fúria. E assim se travestiu, desde as bexigas à fumaça que trazia o calor das profundezas de uma voz incessante que rasga a calmaria e assina o contrato tão famoso do Flamengo com o capeta.

E assim foi. A relação carnal expressa na latente garganta da arquibancada foi a campo e os primeiros minutos foram incendiários. E da ginga oguniana de Vitinho veio o lançamento que tocou a cabeça de Paquetá. Ela, a maldita, foi ao encontro de Everton Ribeiro. Por azar ou por sorte, caprichosamente como de uma armadilha de uma entidade, chegou na perna direita do camisa 7. Bola lá dentro. Selado o contrato.

Explosão. Erode o clamor e calor das arquibancadas. Ribomba a batida profana. A festa era tamanha que aos 9min eu já havia sentido tudo as emoções possíveis para uma noite de desforra.

A arapuca então montou-se. Os azuis faceiros tentavam de todos os jeitos, mas as portas das redes da Gávea fechavam-se.  O Grêmio girava e tentava, mas pouco exigia o guardador da meta rubro-negra, Diego Alves. O mais endiabrado era Léo Moura, talvez acostumado ao pulso vermelho e preto. Assim foi o primeiro tempo. 10min de glória. 35 de desespero. Como a vida do pobre que come o pão que o diabo amassou, com muito mais momentos de desespero do que de certeza.

E continuou comendo. Até pelo menos os 20 do segundo tempo só dava Grêmio, organizado e estratégico. Mas não passava disso. O contrato estava selado. Ontem nada passava nem ninguém passaria. As vozes da massa já anunciavam, e os gremistas não queriam ouvir.

Não era dia de jogo bonito. De flores e dribles. Essa noite era de ardência. Do sangue que pulsa do chão, sobe as arquibancadas e corre de volta às canelas ensandecidas de Paquetá. Ele e Cuellar. O diabo ruivo rubro-negros correu tanto que saiu por ordem de uma brincadeira do ardiloso. Não se conteve e quis pregar uma peça até mesmo nos contratantes, deixando-os com Arão e Rômulo em campo nos minutos finais.

Nem mesmo o mais reto dos rubro-negros era comportado. Diego arrumou logo confusão com Luan, um bonzinho irritado com inevitabilidade da maldição lançada sobre o Grêmio nesta quarta. Não tinha jeito. Estava decretado. Flamengo 1. Grêmio 0.

Hoje era dia de fazer valer o contrato. E está feito. Não jogou bonito. Mas nem precisava. Foi só pegar o contrato selado com as profundezas e colocá-lo debaixo do braço. O Flamengo passa de fase em uma noite de sinergia, de sintonia, e como a há muito não se via. a alma no velho gigante possuiu o New Maracanã. Ascendeu o tambor das profundezas, que bate e retumba nas palmas das mãos e sincroniza-se com o grito, o chamado, o clamor doente, viril e ensandecido de uma torcida que emanava o aviso um mantra possuído, arauto da certeza. Uma canção de fé e autoconfiança, no fato de que quando a massa vem junto, ninguém nos para.

"Quando o Flamengo joga é casa cheia
Arquibancada incendeia.
É o gigante Flamengo atropelando mais um'

No mais,
Saudações rubro-negras.

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