(Alexandre Vidal / Flamengo )
Renê é um caso único de jogador. Lateral cumpridor, raçudo, constante. Tudo pra cair nas graças da galera. Ainda assim, em toda discussão por reforços e pontos fracos, sua posição é sempre uma das postas em pauta. Ontem foi mais uma dessas ocasiões, principalmente pelo anúncio da contratação de Jorge pelo Santos. Ontem também, mas horas mais tarde, Renê mostrou mais uma vez porque não devemos nos preocupar com o lado esquerdo. Viu quem quis.
O lateral piauiense chegou ao Flamengo em 2017, junto com uma leva de novas contratações. Veio junto com o Trauco para preencher o vazio deixado por Jorge, cria da base e melhor lateral esquerdo do Brasil naquele ano. No primeiro ano foi muito reserva e pouco jogou. O peruano chamava mais atenção pelos passes e cruzamentos que lhe renderam até uma certa polivalência no elenco. Mas o passar do tempo mostraria que estávamos apostando na opção errada.
Enquanto isso, Renê aguardava cabreiro. Nunca jogou um futebol vistoso, mas sempre foi eficiente. Nos esquemas de quatro laterais com Zé Ricardo, entrou em poucos jogos da Libertadores mas sempre mostrando disposição e firmeza. Nunca falhou.
Aliás, quando Renê falhou?
Tente se lembrar de alguma falha clamorosa de Renê, ou erros que tenham comprometido resultados.
Tá díficil, não?
Pois é. Eles não existiram.
Rueda quando chegou em 2017 viu isso e pôs Trauco no banco, já que esse falhava muito na marcação. Mas vendo que o time tinha como ponto forte urgente a bola parada acabou tendo que trazer Trauco de volta ao time para cumprir a função de batedor de faltas e escanteios. Duraria pouco.
Ano passado era para ser o ano da afirmação de Renê. Foi titular o ano todo, foi um dos jogadores do time que mais jogou. Fez gols. Errou pouquíssimo. Eleito melhor lateral esquerdo do campeonato brasileiro, assim como Jorge havia sido dois anos antes.
Por que então ainda dizemos que aS lateraiS são nosso fraco?
Não sei. De fato não sei. Pra mim é claro que o problema real é na direita, e já foi resolvido de julho pra frente.
Renê não é ponto fraco. É ponto de solidez.
Repare bem. Renê joga do lado onde jogam todos os jogadores de frente do Flamengo com menos disposição para marcação: Vitinho, Bruno Henrique e Arrascaeta. Mesmo assim, é quase impossível ver o piauiense desesperado na marcação ou enxergar no lado esquerdo um ponto fraco da defesa. Renê é seguro ao extremo. É agressivo na marcação, antecipa todas as bolas, não desiste de nenhuma e é mestre na arte de desarmar os pontos sem precisar dar carrinho.
Talvez isso acontecesse porque Renê não subisse e mantivesse sua posição estática atrás cumprindo apenas sua função de marcação. Mas também não é o caso.
Renê é um lateral que apoia muito bem, mas apoia diferente. Não é um velocista. Por isso, sabe que a ultrapassagens e cruzamentos na linha de fundo não são seu forte. Barbieri (#saudades) descobriu o jeito certo de utilizá-lo: por dentro. O ponta abre na ponta e Renê joga como um lateral armador. Ganha quase todas as espirradas e segundas bolas, mantém o time compacto no lado esquerdo e sabe jogar dando passes inteligentes para o miolo à frente da àrea. Não é um exímio cruzador, mas quando necessário dá seus bons passes pelo alto, como no terceiro gol do Flamengo contra a LDU no último jogo de Libertadores. Fora todas essas funções, ainda possui um bom chute de fora, como o que abriu o placar ontem no Maracanã.
Acima de tudo, Renê é um jogador de Maracanã. É perna de aço, chega duro nas divididas, levanta a torcida e com seu jeito simples participa de boas jogadas no ataque. Nos segundos tempos avança com segurança e salva atrás na hora das decisões
Cumpridor. Não falha.
E outra. Todo time precisa de um operário, um feioso. Aquele cara que não é ruim mas que não brilha, que dá a vida pelos outros. Que num FlaxFlu corre meio campo e salva de forma espetacular um contra ataque de 5 contra 2 que mataria o jogo.
Meu povo, até a seleção de 70 tinha Everaldo.
Sendo Flamengo, o que mais tem é operário jogando em time de craques. Williams e Airton não me deixam mentir.
Assim como Nunes, o fraco na técnica mas valente de coração que completava o time dos sonhos do Flamengo dos anos 80.
Se quiser se pegar na superstição te dou ainda outro motivo pra defender Renê. |Todo time histórico do Flamengo precisa de um nordestino cadeira dura.
Nunes, Bebeto, Angelim.
Óbvio que não estou comparando. Só estou pedindo que parem de falar da lateral esquerda. Precisamos muito mais de segundo volante titular do que de um lateral.
Queria ter Jorge? Mas é claro. Mas fico despreocupado.
Só acho interessante o curioso caso de Renê: o lateral que nunca parece fazer o suficiente mas de três em três jogos é eleito melhor em campo pela torcida do Flamengo.
De resto, sobre ontem, fica aqui a nota pras confusões do VAR, pro pênalti tosco e imbecil cometido sobre Lucas Silva.
No mais,
Saudações Rubro-Negras.
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