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Ano ruim pro encantador de serpentes



Do cĂ©u ao inferno Ă© talvez a expressĂ£o mais repetida no meio do futebol. Isso porque, obviamente, atingir o topo Ă© difĂ­cil, mas Ă© ainda mais complicado se manter lĂ¡. O oratĂ³rio Tite, apĂ³s mais uma data fifa complicada (perdendo para a Argentina, rival mĂ¡ximo do Brasil), parece ter mais dias de luta Ă  frente da seleĂ§Ă£o brasileira: o movimento contrĂ¡rio Ă  permanĂªncia do tĂ©cnico cresce cada vez mais, ao passo que o futebol da equipe fica estagnado na mediocridade.

Mas as coisas nĂ£o eram sĂ³ espinhos para o treinador. É fato que Tite teve Ă³timos meses nas eliminatĂ³rias para a Copa da RĂºssia, e que sua seleĂ§Ă£o, entĂ£o, teve o maior nĂ­vel de atuaĂ§Ă£o dos Ăºltimos anos. Foi de Tite a missĂ£o de recuperar a imagem desgastada depois do 7 x 1; e ele cumpriu. Nas eliminatĂ³rias, nĂ£o houve brasileiro que nĂ£o se iludiu com o hexa – e, considerando o desempenho, com muita razĂ£o! Tite chegou Ă  RĂºssia com o status de favorito...

E foi aĂ­ que começou a degringolar. Com atuações medĂ­ocres na Copa (empate com a Suíça, vitĂ³ria a muito custo da Costa Rica), a seleĂ§Ă£o canarinho deixou a desejar. A primeira pedreira do caminho nos mandou pra casa, e ficou um gosto amargo na boca de todos os brasileiros. Tite prosseguiu protocolarmente. A crĂ´nica esportiva cobrava renovaĂ§Ă£o na seleĂ§Ă£o. Tite venceu a Copa AmĂ©rica sem convencer, e a crĂ´nica esportiva ainda espera a renovaĂ§Ă£o anunciada por Tite.

Depois da Copa AmĂ©rica, porĂ©m, Ă© que a insatisfaĂ§Ă£o se tornou revolta. Tite coleciona fracassos depois da conquista: derrotas para Argentina e Peru e empates contra ColĂ´mbia, Senegal e NigĂ©ria. Apenas uma boa vitĂ³ria, contra a CorĂ©ia do Sul. Aliado aos resultados alarmantes, o desempenho pĂ­fio da seleĂ§Ă£o martela – o Brasil parece absolutamente incapaz de criar espaços e agredir sistemas defensivos muito aquĂ©m dos nomes da seleĂ§Ă£o (com exceĂ§Ă£o do Ăºltimo adversĂ¡rio).

Apegado a seus protegidos, Tite prejudica a seleĂ§Ă£o em prol de suas “convicções”. Fabinho, dos melhores volantes do mundo hoje, comumente Ă© reserva do enfraquecido Casemiro. Quando aperta, Renan Lodi segue preterido por Alex Sandro. E sem falar que o queridinho do Real Madrid hoje, Rodrygo, nĂ£o teve oportunidade de uma titularidade que seria merecida. Titularidade que, supostamente, mereceu PaquetĂ¡, que ainda ficou com a 10...

AlĂ©m das escolhas bisonhas, nĂ£o podemos nem nos gabar mais de uma defesa sĂ³lida. O Brasil nĂ£o tomava gols, mesmo quando jogava abaixo; o sistema defensivo foi, corretamente, elogiado na prĂ³pria Copa do Mundo, atĂ© a Copa AmĂ©rica. Mas a minutagem de cleen sheets de Alisson e Ederson parece ter chegado ao fim. No pĂ³s-Copa AmĂ©rica, o Brasil tomou gols em quase todas as partidas, algumas vezes em falhas ridĂ­culas dos marcadores brasileiros.

Um Brasil sem criatividade e conservador, que tem em seu comando um treinador que, quando nĂ£o entrega em campo (quase sempre), tenta amenizar na oratĂ³ria. Tite sabe falar e enganar melhor do que muitos polĂ­ticos por aĂ­. Mas o “canto da sereia”, que encantou os brasileiros por tanto tempo, nĂ£o engana mais. As reivindicações pela saĂ­da do treinador crescem vertiginosamente. E o encantador de serpentes parece nĂ£o ter respostas pra sair da crise.

O povo se acostumou com a seleĂ§Ă£o de 70, de TelĂª e a ver Rivaldo e Ronaldo levitando nas zagas adversĂ¡rias. NĂ£o se contentarĂ¡ com um futebol insosso que empata com a NigĂ©ria. E se a saĂ­da de Tite Ă© se defender em suas patotas de “extremos desequilibrantes”, e nĂ£o retomar a brasilidade em campo, entĂ£o Tite nĂ£o tem saĂ­da nenhuma. NĂ£o hĂ¡ discurso de reinvenĂ§Ă£o que contradiga o nepotismo (metafĂ³rico e literal!) de Tite.

Sem uma resposta imediata, serĂ¡ a vez de outro se provar no comando da amarelinha. O Brasil volta a campo para as eliminatĂ³rias, em março do ano que vem. E Ă© bom que volte bem; por que se nĂ£o...

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1 ComentĂ¡rios

  1. O Brasil precisa de pessoas que consigam reerguer nossa seleĂ§Ă£o, nossa histĂ³ria. E se Tito tiver que ir, que venha o prĂ³ximo! Maravilhosa essa sua linha de pensamento, Rodrigo Bandeira. PARABÉNS!

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