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Gabigol e Pedro, o falso dilema


(Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)


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São seis gols nos últimos cinco jogos.

Foram semanas de aperto, com COVID, confusão na justiça, Libertadores na altitude, lesões e convocações para seleção, e sei lá mais o que pode ter ocorrido internamente. Uma infinidade de problemas.

Mas quem apareceu para salvar o time nas últimas partidas foi Pedro. No meio da instabilidade, seus gols foram a constância. 

Barcelona, Palmeiras, Del Valle, Athlético e Sport. Praticamente todos foram gols de abertura do placar ou empate. Gols que decidiram jogos.

Em quase todos os jogos, Gabigol não estava. Machucado, voltou de lesão contra o Del Valle e teve outra lesão, agora mais séria.

E mesmo nos jogos anteriores, ainda que tenha feito seus gols com alguma constância, o camisa 9 rubro-negro não vinha jogando nada bem. Parecia fora de forma, sem conseguir ganhar disputas na corrida ou errando jogadas simples. O posicionamento e a perícia foram os de sempre, mas Gabigol vinha decepcionando na era pós-Jesus.

Por isso, já apareceram as comparações. Pedro ou Gabigol? Algum dos dois é melhor? Pedro é mais isso, Gabigol é mais aquilo? Será que podem jogar juntos? E como encaixar Bruno Henrique?

Comecemos pelas últimas.

E a resposta é: Óbvio!

Primeiro porque já jogaram. Mesmo que por alguns minutos ou circunstâncias de jogo. Basta lembrar o primeiro jogo dos titulares esse ano. O Resende havia feito 1x0 em jogo modorrento. Jesus sacou Arrasca e pôs Pedro ao lado de Gabigol. Um gol de cada.

E já aconteceu outras vezes.

Eu tendo a achar que o uso dos três ao mesmo tempo vai depender das circunstâncias do jogo. Em times muito fechados, talvez seja um exagero de ocupantes ou infiltradores da área adversária.

Já sobre Gabigol e Pedro, creio serem perfeitamente compatíveis. E digo mais, como não sabemos, e provavelmente não saberemos, qual é o time ideal de Dome (devido ao calendário, possíveis desfalques, saídas, lesões, convocações e etc), é provável que haja um verdadeiro revezamento no ataque, em que os dois joguem vezes juntos e vezes separados.

E para explicar como podem jogar juntos, talvez seja melhor começar a partir da resposta da primeiro pergunta: "Quem é melhor?"

Eu diria o seguinte.

Se no par ou ímpar alguém me dissesse: "Escolhe um centroavante". 

Diria com alguma firmeza:

- Pedro.

Caso a ordem fosse: "Escolhe um jogador pro seu time"

Nesse caso, eu diria de Gabigol.

Pedro é mais centroavante, ainda que não seja o camisa 9. Tem mais perfil, estatura, corpanzil e habilidades características de um finalizador.

Cabeceia melhor, protege melhor a bola, faz pivôs e é mais certeiro, aproveita melhor as oportunidades. De fato, Pedro precisa de menos chances para botar para dentro.

E até trombador ele consegue ser. Vide golaço feio contra o Athlético.

Me parece um centroavante fantástico. Dentro da área é oportunista, fora dela também é excelente.

No entanto, Pedro só joga nesta posição. Enquanto isso, Gabigol, apesar de não dominar tão bem fundamentos como a cabeçada ou a proteção da bola tal qual o autor dos dois gols de ontem, é mais completo.

E é verdade. Perde mais chances do que Pedro.

Mas ao mesmo tempo, também é verdade, que Gabigol aparece mais vezes em condição de marcar, mesmo não ficando preso dentro da área.

A maior habilidade do camisa 9 talvez não seja sua finalização, sua velocidade ou seu drible. Mas sua presença no campo e a capacidade de tomar decisões corretas para o time.

Para mim existem dois Gabigols. Um antes de seu gol, e outro depois dele.

É sedento por ele. Vive, venera, persegue o gol como poucos. Se ele não sai, fica irritadiço, nervoso e, invariavelmente, fominha.

Depois dele, é outra questão.

Quando joga para o time também, Gabigol produz uma barbaridade de gols e passes. Acha espaços como poucos, seja por sua movimentação nas cercanias da área, ou pela precisão de suas bolas enfiadas e chutes de primeira, que desestabilizam qualquer sistema defensivo.

São 81 participações em gols nos seus 84 jogos com o manto sagrado. Números absurdos.

Porque, na prática, Gabigol não é e nunca foi um centroavante. No mesmo jogo pode fazer papel de meia, de ponta e de centroavante. Consegue estar em vários lugares do ataque e é sua mobilidade que o ajuda a criar e aproveitar os espaços que ele percebe.

Até por isso, seus gols não são só os característicos de centroavante. Faz gol de tudo que é jeito. Mete para dentro quando sai frente com o goleiro, é claro. Mas aparece vindo de trás, cortando de fora para dentro, e de várias outras maneiras. E da mesma maneira que pode ser flecha, pode ser bambu também.

Talvez, inclusive, esse seja o maior mérito de Jesus em 2020. Nos dois primeiros meses do ano, Gabigol jogou o seu melhor futebol no Flamengo. Mais inclusive do que em 2019.

Justamente porque já tendo feito história, passou a não precisar fazer gol em todos os jogos. Foi mais pro time, e assim virou mais jogador. Não por acaso, sua melhor partida com a camisa do Flamengo foi a final da Recopa, quando o time tinha um a menos e ele teve de jogar pelo ataque inteiro. Não por acaso, um jogo em que Pedro foi substituído após a expulsão de Arão.

E isso já responde de novo a pergunta original. Podem jogar juntos? Claro. 

Porque Gabigol oferece isso. Pode jogar na ponta, no meio ou como segundo atacante, assim como fez com Bruno Henrique ano passado. Com Pedro fazendo a presença de área, o camisa 9 pode girar a vontade em volta dela, permitindo que o time todo tenha mobilidade.

Seriam perfeitamente complementares juntos. Próximos um ao outro, seriam moedores de defesas.

A pergunta sobre um outro para mim me parece pobre. Fazer é isso é comparar jogadores completamente diferentes e que na verdade podem jogar perfeitamente juntos. 

E digo mais ainda: Me parece que, na cabeça de Dome, a disputa de Pedro não é com Gabigol, mas com Bruno Henrique. Isto por outros motivos que posso esclarecer em outra coluna.

A grande questão para mim é se jogaram juntos nesses moldes. Pelo que parece, Dome não curte muito a ideia de ter dois atacantes. Sendo assim, Gabigol jogaria na ponta. Onde consegue jogar, mas não atinge seu potencial.

E encerro com o clichê. Velho, mas verdadeiro. Nessa suposta disposta entre Gabigol e Pedro, quem ganha é o Flamengo. Hoje, temos cinco titulares para quatro posições no ataque, todas incríveis e que se entendem cada vez mais.

Como usá-las não é problema nosso. É de Dome.

De todos os problemas que ele já teve, esse é menor deles. Quisera eu ter um problema desses na minha vida.

No mais,

Saudações Rubro-negras.


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