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O empate dos corajosos.

 



ESTE CAMPEONATO NĂƒO DEVERIA ESTAR ACONTECENDO!

Dito isso, comecemos.


"You have to learn to play football with courage."

(VocĂªs tem que aprender a jogar futebol com coragem!)

A frase Ă© de Pep Guardiola, o maior treinador do planeta e, quissĂ¡, um dos maiores de todos os tempos. Recado direto, dito insistentemente a seus jogadores.

Ela, basicamente, resume o melhor jogo em gramados brasileiros no ano de 2020.

Internacional 2x2 Flamengo.


Talvez nĂ£o tenha sido o mais espetacular. O placar nĂ£o foi tĂ£o bailarino assim, as jogadas nao tĂ£o espetaculares e nem sequer as atuações individuais.

Mas na terra de Manos Menezes, Felipões, Muricys e Celso Roths, ver um jogo em que os dois times jogaram para vencer a todo momento Ă© um deleite para os apaixonados do esporte bretĂ£o.

Tudo porque os dois times jogaram com coragem.

O que seria isso?


Vejamos o que fez o Inter.

Coudet sabia que, na bola, nĂ£o haveria de vencer o Flamengo. Tem feito campanha extremamente eficiente, mas mesmo com os desfalques, sabia que o rubro-negro era um time extremamente perigoso.

Poderia, como muitos, se trancar atrĂ¡s e torcer pela famosa "uma bola" que decidisse o jogo. 

Mas nĂ£o. Coudet nĂ£o tentou o empate especulando a derrota. O argentino foi atrĂ¡s da vitĂ³ria.

Sabia que na bola nĂ£o venceria. EntĂ£o atacou com as armas que tinha. Os primeiros 5 minutos foram de uma forte pressĂ£o do inter. Era essa arma colorada.

E deu certo. Isla perdeu, Patrick aproveitou e gol de Abel Hernandez.

Recado dado. O Inter queria a vitĂ³ria.

Mas o outro lado também.

Em outros tempos, sem o melhor zagueiro e sem o trio de 70 gols em 2019, o Flamengo poderia se contentar com o jogo pelo empate. Mas entrou no Beira-Rio disposto a vencer. 

E exatamente por isso tomou os gols que tomou. O time foi montado para atacar, e foi justamente esse posicionamento que deixou o time frĂ¡gil Ă  pressĂ£o do Inter.

Mas foi ele tambĂ©m que criou o gol de Pedro. Meio campo despovoado fez com o que o giro em cima do zagueiro abrisse um clarĂ£o no meio campo. O tapa no canto Ă© uma obra prima por si sĂ³, mas fica mais bonita se enxergado todo o plano por trĂ¡s.

Agora, desfeita a vantagem gaĂºcha, o Flamengo queria a vitĂ³ria. E começou a forçar ainda mais o jogo pelo chĂ£o, que Ă© o seu forte. Cheguei a mandar uma mensagem para o amigo com quem divido a coluna: "O gol do Pedro frustrou o plano do Coudet".

Mas o Inter me provou o contrĂ¡rio. NĂ£o especularia com o empate. Queria a vitĂ³ria.

O segundo gol do Inter Ă© o resultado da busca dos dois times por ela. O Flamengo estava posicionado no ataque, mas a defesa colorado barrou os rubro-negros. A bola foi esticada atrĂ¡s e o time se posicionava para começar um novo ataque. O Inter avançou com tudo.

O Flamengo tentou jogar por baixo, mesmo que fosse menos seguro. O Inter pressionou com tudo, ainda que soubesse do espaço que se abriria caso a primeira linha fosse quebrada, como foi no gol de Pedro.

No erro de Gustavo Henrique, gol do Inter. 2x1.

VocĂª pode enxergar como duas paçocadas da zaga. Mas olhe com um pouco mais de atenĂ§Ă£o, e verĂ¡ o mĂ©rito do Inter.

Coudet quis se aproveitar do momento. Dali atĂ© o final do primeiro tempo, manteve o ritmo de correria e pressĂ£o. Sabia que um terceiro gol dificultaria demais a vida do Flamengo. E quase conseguiu. Um passo atrĂ¡s e Galhardo nĂ£o estaria impedido na terceira vez em que a bola caiu no fundo da rede de Hugo Souza.

O Inter queria a vitĂ³ria.

Mas sabia também que o ritmo e a correria cobrariam caro.

Do outro lado, o Flamengo ainda queria a vitĂ³ria e sabia que pra isso precisava mudar a estratĂ©gia. Dome sabia tambĂ©m que para furar uma defesa como a do Inter, o mais importante era a qualidade.

Os 11 que estavam em campo eram seus melhores. SĂ³ precisou mexer nas peças. 

Abriu o jogo. Trouxe Everton e Gerson para conversarem mais perto, colocou Vitinho na esquerda, mas pra isso despachou os laterais. Isla nĂ£o era nem ala mais. Era um ponta mesmo.

Ele sabia que deixaria as laterais expostas e seria por ali que o Inter montaria seus contra-ataques. Patrick quase fez o terceiro por ali. Marcos Guilherme parou na trave com jogada criada nesse espaço.

NĂ£o foi descuido. Era o preço que Dome sabia ter de correr pra buscar a vitĂ³ria. Se quisesse apenas o empate, teria feito essa mudança sĂ³ no fim do tempo. Mas pela vitĂ³ria, tinha que fazĂª-la desde jĂ¡.

E talvez tivesse vencido, se as chances tivessem sido convertidas. Vitinho e Pedro pararam em salvamentos em cima da linha. Filipe Luis parou no travessĂ£o.

O Inter, pagando pelo cansaço, perdeu suas opções de velocidade. Restava trancar mais ainda a defesa e deixar a bola com o Flamengo.

De nosso lado, a qualidade era a prioridade de Dome, mesmo que o cansaço recaísse sobre o time nos minutos finais.

No fim, o gol de Everton Ribeiro, alĂ©m de provar mais uma vez a vigĂªncia do contrato com o carmuriĂ£o, premiou a aposta do catalĂ£o e a luta de um time que se recusou a perder.

No fim, no jogo em que ambos queriam a vitĂ³ria, o empate prevaleceu, e ninguĂ©m conseguiu o que queria.


Por que entĂ£o levar este como um jogo exemplo a ser seguido? Por que elogiar os treinadores?


Lembremos de Guardiola: "VocĂªs tem que aprender a jogar futebol com coragem."

NinguĂ©m teve a vitĂ³ria. Mas ambos jogaram corajosamente em busca dela.

Sempre diz TĂ©o Benjamin: "O futebol Ă© um jogo de cobertor curto". VocĂª cobre de um lado e outro fica descoberto.

Reparem que essa foi a dinĂ¢mica de todo o texto e todo o jogo de ontem. Os treinadores faziam suas apostas, sabendo tambĂ©m de suas fraquezas e de como elas poderiam ser exploradas pelos adversĂ¡rios.

Mas sabiam tambĂ©m que suas apostas eram os caminhos necessĂ¡rios para buscar a vitĂ³ria.

É claro que criaram riscos para si.

Mas aĂ­ Ă© que entra Guardiola. Jogar com coragem Ă© jogar pra vencer a todo momento. O empate nĂ£o pode servir e a derrota Ă© inaceitĂ¡vel atĂ© que venha o apito final.

O normal tupiniquim tem sido o jogo de apostas baixas, medrosas. VocĂª minimiza os riscos, mas tambĂ©m minimiza as chances de lucro.

Mas medrosos jĂ¡ somos em nossas vidas comuns. De Inter e Flamengo, eu quero coragem.

E jogar com coragem Ă© ir com tudo pra cima, escondendo os medos de seus pontos fracos.

É arriscar mesmo. Até porque entre a coragem e a estupidez o limiar costuma depender do resultado.

Se Galhardo tivesse feito o terceiro no primeiro tempo, ou se a bola no travessĂ£o de Filipe Luis tivesse dado o empate mais cedo ao Flamengo, o treinador vencedor seria super elogiado enquanto o perdedor seria chamado de burro por ter arriscado tanto.


Os dois jogaram com uma vontade de ganhar muito maior do que o medo de perder.

Coragem.

No final, o empate talvez seja o melhor resultado para premiar os dois.


NinguĂ©m venceu, mas todo mundo saiu ganhando. O Inter mostrou seu poder, o Flamengo impediu um disparo do rival, o Galo comemorou e quem nĂ£o torce pra ninguĂ©m viu um jogo de inĂºmeras opções e emoções.

Jogo bem jogado, e com coragem. O melhor jogo no Brasil em 2020. De um time treinado pelo ex-auxiliar de Guardiola contra um comandado por homem da escola Bielsista, de quem o catalĂ£o Ă© fĂ£.

CoincidĂªncia?

É claro que nĂ£o.

Que o Flamengo continue jogando com coragem, porque sĂ³ o aceito assim agora.

Mas por favor, da prĂ³xima vez, que a coragem seja premiada com mais eficiĂªncia.


No mais,

Saudações Rubro-Negras


Por Gabriel FĂ©lix, colunista do Flamengo pelo Linha de Fundo.

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