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Vanguarda

 


Quando eu era criança e ouvia a palavra vanguarda, automaticamente associava a noções e conceitos antigos que já saíram de moda, pois a palavra me remetia à velha guarda. Hoje, aos 21 anos, entendo que se trata justamente de uma linha de frente, em seu sentido mais atual e mais revolucionário.

No caso do tricolor da boa terra, penso que a sabedoria infantil não estava de todo errada. pois as ações afirmativas colocadas em pauta constantemente pelo clube, buscam tratar de algo tão antigo, quanto revolucionário. O leitor há de concordar que o respeito sem acepção de pessoas é um conceito explorado desde a antiguidade, mas que parece ser deixado de lado em determinados momentos da história, de acordo com os interesses da classe dominante. Neste sentido, o clube busca colocar o dedo na ferida., (nome dado ao projeto que sai das redes sociais, para chegar diretamente onde o racismo estrutural impõe sua força, dentro das próprias empresas), em temas tão necessários, quanto sensíveis a percepção da população brasileira.

O clube trata de diversas pautas com a coragem e a vontade que falta à maioria dos clubes brasileiros, trazendo de maneira bem singular os temas para as redes sociais, mas indo além, com projetos que fogem de simples posts mas que se transformam realmente em AÇÕES AFIRMATIVAS.

Para além do dedo na ferida, já citado anteriormente, é importante ressaltar o projeto Me deixe torcer, de apoio a torcida feminina muito presente no estádio, e uma tentativa de amenizar, visto que não resolve de maneira definitiva, o problema do assédio dentro deste, com a Ronda Maria da Penha, que possuí a maioria de policiais femininas voltadas para a segurança das mulheres dentro da torcida. O site construído pelo clube contém informações importantes, e ferramentas de denúncia para as vítimas de assédio, contendo inclusive um assediômetro, que infelizmente não para aumentar, relativo ao número de casos de mulheres assediadas no Brasil.

Outra pauta bastante corajosa trazida pelo clube foi relativa a visibilidade trans, onde o clube trata do massacre desta população, que ocorre ano após ano em nosso país, e o coloca como o país que mais mata travestis e pessoas trans no mundo, possuindo um número quase três vezes maior que o segundo colocado de acordo com os relatórios da TGEU (Internacional Transgender Europe). Em relação a isto, o clube reconhece sua função social, e dá o primeiro passo para a inclusão desta população dentro do futebol, passando a utilizar o nome social em todos os procedimentos administrativos dentro do clube. .

Para não me alongar ainda mais, não poderei falar com tanta ênfase sobre o grande número de ações promovidas pelo clube, mas como esquecer da camisa manchada de óleo, em protesto ao grande crime ambiental executado no litoral nordestino, e posteriormente, em demais locais do litoral brasileiro, ou do manifesto em favor da demarcação de terras indígenas, ou da campanha do dia dos Pais: Em nome do filho, que estimulava o registro da paternidade, permitindo a realização de exames de DNA gratuitamente na loja do clube. 

Em nosso momento político-social brasileiro, estas pautas parecem estar diretamente associadas aos ideais da esquerda, embora dentro do Esporte Clube Bahia se diga que as pautas são de todos, independentemente do espectro político ao qual elas serão associadas, uma vez que existem funcionários e jogadores do clube que se consideram de direita, mas que apoiam estas ações. Em meu ponto de vista, o clube manterá a posição de vanguarda em suas ações, pelo menos enquanto durar essa gestão, mas infelizmente as mazelas que ele denuncia devem perdurar, enquanto a sociedade brasileira for tão desigual em todos os seus aspectos.

O que podemos dizer é: O Bahia te representa?


Até a próxima, saudações tricolores. 

Matheus Freitas. 


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