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"O Fluminense para mim é alma"



(Foto: Fluminense FC)


- No Salão Nobre do Fluminense, eu velei meu filho. O Fluminense para mim é alma. Tudo que eu represento como ser humano, caráter, tá incluído na alma, que o Fluminense me dá. O Fluminense para mim é alma.

                                                                                                                                                             (Abel Braga)


Na tarde de ontem, nenhum remo tocou na água. O campeão da Taça Guanabara foi o Football Club, este caneco pode não ser o mais cobiçado mas o brilho do latão ficou em segundo plano quando analisamos a festa do elenco após o apito final na ensolarada Volta Redonda.

Os gritos de "É Campeão!" cortavam as ondas de calor que assolavam o Sul Fluminense, os jogadores levavam seus familiares para se esbaldar nos confetes e serpentinas que foram ignorados nesse carnaval em tempos de pandemia, eles só conseguiram aparecer nos festejos futebolísticos. Enquanto o palco para o recebimento das honrarias tradicionais de um título era montado para destacar os heróis da tarde, uma figura andava calmamente pelo gramado como se estivesse procurando alguém que não estava ali.

Sentindo-se sozinho na multidão, Abel Braga dava risos tímidos para os seus comandados e os abraçava protocolarmente. Seus olhos marejados corriam freneticamente pela paisagem árida e lotada, seus ouvidos pareciam tapados, nem mesmo o forte calor parecia o abalar. De repente, ele foi em direção de uma pessoa, seus passos deixaram de ser relutantes e ganharam força para romper o gramado festivo...será que ele encontrou finalmente quem procurava?

Após a sua breve caminhada decidida ele parou...não em frente a uma pessoa, seu alvo era uma câmera. A partir desse momento, aquilo que Abelão queria ficou bem nítido para todos nós. Ele não estava procurando ninguém, aquele com quem ele queria comemorar está presente no seu peito, por atrás do escudo do Fluminense, revestido pelas  três cores que traduzem tradição, o Técnico Tricolor escancarou para todos a sua alma, ela se chama: João Pedro.

Em poucas palavras, Abel Braga emocionou a todos nós. Não cabe reproduzir nesse singelo texto as palavras do comandante do "Time de Guerreiros", procure na internet esse momento pequeno em duração e gigante em emoção. O tempo parou, os tricolores em suas casas pararam de comemorar e observaram um homem que não estava perdido, ao contrário do que eu pensava anteriormente, nós admiramos um ser humano que só queria agradecer ao clube que lhe deu tudo na vida e o apoiou na hora morte. 

Todos conhecem as circunstâncias da morte do filho de Abel Braga no dia 29 de julho de 2017, o que pouco se fala é o apoio dado pelo Fluminense ao treinador naquele instante. Tricolor de coração,  Abelão viu seu filho ser velado no salão nobre das Laranjeiras, esse momento doloroso antagonicamente gerou um sentimento lindo. Uma mistura de gratidão com força, dor e amor, futebol com fé...Fluminense com João.

O título de ontem está longe de ser o mais importante da vitoriosa história do Fluzão, o caneco tímido com a sua base de madeira não tem o mesmo esplendor de suas futuras companheiras da sala de troféus na Rua Álvaro Chaves. Porém, jamais nos esqueceremos desta Taça, ela não se define pelo seu brilho ou tamanho...ela representa a alma de um pai que sempre se encontra com o filho ao colocar o manto tricolor. Seus olhos marejados não precisam encontrar mais ninguém na multidão, quem ele ama está apenas a um Fluminense de distância.


"Eu dizia que se é tricolor para sempre. Vocês entendem? Tricolor do berço ao túmulo. O tempo vai passando e o sentimento sobrevive, puro, intacto, eterno. Há quem diga que o amor pelo Fluminense continua para além da vida e para além da morte."

                                                                                                                                        (Nélson Rodrigues)


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