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Milagre de Istambul: Liverpool, Milan e muita emoção

Há certas coisas que só o futebol é capaz de nos proporcionar. Entre elas estão as reviravoltas incríveis. Há exatos 10 anos, o mundo assistia ao maior milagre de todos os tempos no futebol. Há exatos 10 anos, um certo capitão se tornava fantástico e lendário.








Istambul, Turquia, 25 de maio de 2005. Mais uma final de UEFA Champions League. Liverpool x Milan. Dez Ligas dos Campeões em campo. Mais de 70mil espectadores, que sequer imaginavam o que estava prestes a acontecer. Nesta data, tivemos mais uma grande prova de que o futebol é muito mais do que “só um jogo”.

O grande favorito era o Milan. Um time repleto de grandes estrelas – Maldini, Kaká, Shevchenko, Dida e tantos outros. Do outro lado estava o Liverpool, que voltou a disputar uma decisão da competição após 20 anos. O Liverpool não via o quinto título europeu chegar próximo de suas mãos desde o fatídico ano de 1985, quando foi derrotado pela Juventus em uma partida onde a “Tragédia de Heysel” foi mais comentada e noticiada do que o próprio jogo de futebol. Duas equipes de muita tradição. Ingredientes suficientes para um grande embate, correto? Corretíssimo!

Como esperado, o Milan começou dominando a partida, ganhando todas as bolas no meio de campo. Logo no primeiro minuto de jogo, Kaká sofreu falta. Na cobrança, Pirlo levantou a bola para o capitão Paolo Maldini, que abriu o placar na decisão. O gol desestabilizou os reds, que quase nada criaram. E para piorar (ou não), Rafa Benitez foi obrigado a realizar sua primeira substituição já aos 23 minutos, quando Harry Kewell se machucou e deu lugar a Vladimír Smicer. Aos 39 minutos, o Milan usou sua velocidade - característica marcante do time - e Crespo aproveitou o cruzamento de Shevchenko para ampliar. Kaká ainda deu um passe sensacional para o argentino, que encobriu o goleiro Dudek e deixou a diferença muito larga para os italianos.



A primeira etapa terminou com um placar de 3 a 0 a favor e uma atuação impecável da equipe rossoneri. Para muitos, o jogo já estava decidido. “Impossível aquele fraco time da terra dos Beatles fazer um gol, imagina então 3?”, “Eles mal encostaram na bola!”, “O Milan é um time experiente, vai só administrar o resultado.”, “A equipe do Liverpool virar? Piada!”.

Surpreendentemente (ou não²), a torcida do Liverpool não compartilhava desse pensamento, mostrando mais uma vez por que é tão especial. Ao invés de ficar calada, com olhos marejados e tristes por um título virtualmente perdido, no intervalo os torcedores demonstravam total confiança na equipe e cantavam o famoso You’ll Never Walk Alone no Atatürk Olympic. Muito mais que emocionante.

E não é que estavam certos? O apoio e a emoção daquele momento parece ter invadido o vestiário do time inglês, na mais pura devoção apaixonada de milhares de fãs a um clube de futebol.  O Liverpool começou o segundo tempo com uma postura totalmente diferente. Os reds tinham 45 minutos para reverter o placar. Entretanto, foram necessários apenas SEIS. Aos nove minutos do segundo tempo começou aquilo que todos (ou quase) acreditavam ser impossível. Riise fez o cruzamento para Steven Gerrard. O capitão cabeceou com firmeza e diminuiu a vantagem. O camisa oito comemorou muito, como se fosse o gol do título. Entretanto, ainda faltavam no mínimo dois. Pouco depois, Smicer (aquele mesmo que entrou na primeira etapa) arriscou um chute de fora da área com muita força e balançou as redes. Só faltava mais um. “Mas a equipe do Milan era muito forte, nunca levaria o terceiro!”.

Os reds continuaram pressionando. Após uma tabela de Gerrard com Baros, o capitão da equipe foi derrubado por Gattuso dentro da área. Pênalti. Xabi Alonso assumiu a responsabilidade da cobrança. O meia bateu no canto e Dida defendeu, mas não conseguiu evitar o rebote. O próprio Alonso aproveitou e igualou o marcador. Incrivelmente a final estava empatada aos 60 minutos de jogo após o Liverpool sair do primeiro tempo perdendo por 3 a 0.



O terceiro gol pareceu ter acordado o Milan, que voltou ao jogo após o apagão. Shevchenko criou excelente oportunidade, mas Traoré conseguiu evitar o gol dos rossoneros em cima na linha. O jogo foi para a prorrogação. A essa altura, as equipes já estavam exaustas. Nos 30 minutos adicionais, as chances foram poucas para ambos os lados. No segundo tempo da prorrogação, novamente Shevchenko quase marcou. Ele  cabeceou no canto do goleiro do Dudek, que fez uma defesa monstruosa. No rebote, o ucraniano tentou mais uma vez, mas o goleiro estava inspirado.

Com a igualdade no placar, a partida foi para as penalidades. Dida x Dudek. De um lado um experiente defensor de pênaltis, de outro um goleiro que ainda esperava ser reconhecido. O Milan, com o psicológico totalmente abalado, começou as cobranças com o lateral Serginho, que mandou a bola na trave. Hamman, que atuou naquela partida com um dedo quebrado, bateu com tranquilidade e colocou o Liverpool na frente. Andrea Pirlo cobrou a segunda penalidade que foi defendida por Dudek e Cissé colocou o Liverpool na frente com 2 a 0. Tomasson diminuiu a diferença para o Milan, que viu Dida executar a defesa na cobrança feita por Riise. Kaká também marcou e empatou o placar, mas Smicer, que já havia feito um gol na partida, também converteu a cobrança.

Para a última cobrança, Shevchenko e Dudek estavam frente a frente novamente. Era a hora de Shevchenko se vingar (ou não³) dos gols que o goleiro evitou durante o jogo. Brilhou a estrela de DEUSdek. O ucraniano bateu no meio do gol e Dudek com uma mão conseguiu fazer a defesa e garantir o quinto título de UEFA Champions League do Liverpool.


O Liverpool operou um verdadeiro milagre. O maior já visto. Ninguém acreditava no acabava de acontecer. Nem o próprio Rafa Benitez, que se mostrou chocado: "meu problema é que eu não tenho palavras para expressar as coisas que eu sinto neste momento". Após a épica partida, Steven Gerrard era especulado em várias equipes de todo o mundo. No entanto, após o jogo, o capitão declarou: "Como posso pensar em deixar Liverpool depois de uma noite como esta?". E permaneceu até ontem (neste momento a colunista chora copiosamente).



Uma legião de torcedores tomou as ruas da cidade de Liverpool. As estimativas são de cerca de 300 mil pessoas. O time também fez uma carreata pela cidade, onde cerca de 1 milhão de pessoas aplaudiram a equipe na comemoração por todo o município inglês.

Difícil escolher qual o clímax da partida. Não houve torcedor que não se emocionou ao ver o ainda jovem capitão gesticular incansavelmente na tentativa de expressar “eu acredito!” após marcar seu gol. Não houve aquele que não prendeu a respiração nos instantes entre a defesa do Dida e o gol de Xabi no rebote ou na defesa de Dudek na prorrogação. Não houve aquele que não chorou ao final da partida. Aquele que não sentiu um frio percorrendo a espinha com a torcida entoando o YNWA no intervalo ou não sentiu um orgulho imenso ao ver Steven Gerrard erguendo a orelhuda. Não há mais argumentos suficientes para expressar a história desse confronto. Já era esperado um grande embate, mas o duelo se tornou épico e é considerado uma das melhores partidas do século e a melhor decisão de Champions League de todas.


Detalhes do Confronto:

Liverpool FC 3 (3) x (2) 3 AC Milan
Data: 25/05/2005
Local: Estádio Olímpico Anatürk, Istambul
Público: 70.024
Árbitro: Manuel Mejuto González-ESP

Liverpool: Dudek; Finnan (Hamann), Carragher, Hyypiä e Traoré; Xabi Alonso, Luis Garcia, Gerrard, Riise, e Kewell (Smicer); Baroš (Cissé). Técnico: Rafael Benítez.

Milan: Dida; Cafu, Stam, Nesta e Maldini; Pirlo, Gattuso (Rui Costa), Seedorf (Serginho) e Kaká; Shevchenko e Crespo (Tomasson). Técnico: Carlo Ancelloti.

Gols: Maldini, a 1'; Crespo aos 39' e 44'; Gerrard, aos 54'; Smicer, aos 56';
Xabi Alonso (pen), aos 60'.
Penalidades: Hamann, Cissé e Smicer (para o Liverpool); Tomasson e Kaká (para o Milan).




Janaína Wille | @janainawille
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