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Obrigada, Rio Ferdinand


Um torcedor de futebol está sujeito há várias emoções diferentes. Elas podem vir de jogadas, títulos, desastres, grandes nomes e outros milhares de variáveis. Só quem ama verdadeiramente o esporte sabe o que é e como é. Um apaixonado se submete a muitas coisas por aquilo que muitos dizem ser “apenas um jogo”. Eu garanto, não é só isso.

Na manhã deste sábado recebi a notícia que um dos meus grandes ídolos vai pendurar as chuteiras. Rio Ferdinand, que por tantos anos encantou o mundo com sua habilidade, não estará mais em campo. Quem tem um ídolo sabe. Dói e é difícil explicar. E fica ainda mais difícil quando ele joga (ou jogava) em um país do outro lado do mundo.

Fiquei horas sem saber ao certo como me despedir. Sem saber como colocar em palavras o que tenho pensado o dia inteiro. Resolvi me lembrar de coisas positivas. Lembro-me de todas as vezes que agradeci por ter Ferdinand como o grande cara da zaga. Arrisco dizer que ele e Vidic formaram a melhor dupla de zagueiros do Manchester United e uma das melhores da história. Como não se lembrar dos grandes momentos da Champions League de 2008 e todas as vezes que eles nos salvaram?

Quando penso em Rio, dois momentos de seu penúltimo ano vêm em minha cabeça. O épico jogo contra o Manchester City, quando o United venceu por 3-2 no Etihad, e um torcedor enfurecido acertou uma moeda em Ferdinand enquanto ele comemorava um dos gols. E o outro, e talvez um dos mais marcantes e com um simbolismo enorme, foi o gol nos minutos finais no último jogo de Alex Ferguson em Old Trafford, o que resultou no empate por 1-1 com o Swansea.

Tudo que eu tenho para dizer hoje é o quão incrível ele foi e como agradeço por ter tido a oportunidade de vê-lo representando a camisa vermelha por tantos anos. É difícil encontrar palavras quando tudo que consigo pensar é muito obrigada. A dedicação mesmo nos dias mais difíceis não será esquecida jamais.

Em seu último ano como profissional, a vida deu a rasteira que ele não merecia. Rio foi para o Queens Park Rangers por vontade própria e, apesar da vontade de ajudar que eu sei que ele teve, a luta de sua mulher foi mais importante. É injusto dizer que foi “descaso” dele abandonar o clube no momento mais importante do campeonato, mas foi “apenas” por ser o momento mais difícil de sua vida. O dinheiro e a fama não tiram a dor da perda do coração de alguém.

Leia o que Ferdinand disse ao The Sun sobre tudo isso:

"Esse tem sido o momento mais difícil da minha vida, ter que lidar com as emoções dos nossos três filhos e assistir uma grande mulher como Rebecca morrer sem poder fazer nada sobre isso. Como jogadores, nós sempre falamos sobre perder jogos importantes por causa de uma lesão como se isso fosse o fim do mundo. Acredite em mim, não é nada comparado com a sua mulher e mãe dos seus filhos morrer de câncer aos 34 anos. Rebecca era uma mulher incrivelmente forte e uma pessoa muito privada que não queria que nada sobre sua doença saísse na mídia enquanto ela lutava por sua vida. Mas chegou um momento onde Rebecca foi hospitalizada e a normalidade ficou impossível. Eu não podia ir treinar todos os dias porque precisava estar com ela e com as crianças. Eu queria continuar no time, mas eu não podia fazer promessas e não era justo com o treinador que ele ficasse pensando se eu estaria disponível ou não. Eu admito que me senti culpado por abandonar o clube na luta contra o rebaixamento. Ninguém do time sabia o que estava acontecendo, pois eu não falei. Mas, eventualmente, eu pedi para a equipe médica avisar os outros jogadores. Depois que Rebecca morreu, nós fizemos uma cerimônia em um lindo dia de sol que foi organizada para ser perfeita. Ela queria que fosse uma celebração de sua vida ao invés de uma ocasião mórbida e tudo aconteceu exatamente como ela gostaria. As pessoas que apareceram foram aquelas que ela gostaria que estivessem lá. Rebecca tocou muitas vidas. Jogadores do presente e do passado do Manchester United foram, assim como meu antigo treinador Sir Alex Ferguson. Meu ex-companheiro de defesa, Nemanja Vidic, voou da Itália e voltou no mesmo dia, pois tinha que treinar com a Inter. Tinham jogadores dos meus dias de Inglaterra e de West Ham, os jogadores do QPR, Chris Ramsey e seu staff, além de Harry Redknapp, que foi meu treinador quando eu comecei no West Ham e quando eu assinei pelo QPR.”


“Eu não poderia ter tido um apoio melhor do QPR. Todos que estão ligados ao clube têm sido fantásticos. Jogadores de times adversários mandaram suas condolências também. O dia que a morte de Rebecca foi anunciada, nós recebemos muitas mensagens de apoio. Ouvir os fãs em Old Trafford e os do West Ham cantando para nós e ver Steven Gerrard entregar flores para o meu companheiro de time Joey Barton foi especial. O Liverpool Football Club foi ótimo, os fãs foram incríveis por todo país. As crianças viram tudo isso e ficaram me falando “Olha pai, você viu o que eles fizeram pela mamãe?”. Essas são boas memórias para eles. Rebecca e eu sempre sentimos que era importante que as crianças seguissem em frente com positividade e a forma como o futebol reuniu isso ajudou muito. Foi renovador ver tanta compaixão no jogo, sem diferenças. Você pode perder a fé no futebol com toda negatividade em volta. Mas então você vive o que estamos vivendo e vê quantas pessoas decentes estão envolvidas no esporte. Estamos levando as coisas dia após dia. Isso não é algo que você se planeja para enfrentar. Eu percebi que não é fácil para amigos ou pessoas que você encontra na rua saberem o que dizer. Pode ser estranho para eles, mas um aperto de mão ou um sorriso é suficiente. Para todos aqueles que enviaram mensagens ou apenas pensaram na gente por um momento, tudo que posso dizer é um enorme obrigado. Minha família e eu agradecemos muito.”

Eu é que agradeço, Rio. Obrigada por tudo. Os fãs do mundo inteiro, sejam eles torcedores do Manchester United ou não, sentirão sua falta. Eu serei grata até o último dia da minha vida.

"Depois de 18 anos como jogador profissional, eu sinto que agora é o momento certo de me aposentar do jogo que amo. Eu gostaria de agradecer a todos os fãs de todos os clubes. Sem eles o futebol profissional nem existiria. Eu sentirei falta de todos vocês durante minhas tardes de sábado." – carta de despedida de Ferdinand.


Mariana Sá || @imastargirl

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