E o Brasil voltou a ser verde. Pela nona vez em campeonatos
brasileiros, pela décima terceira vez considerando também as copas. Ninguém
coloriu mais vezes esse país do que o Palmeiras, mesmo depois de uma longa
espera de mais de vinte anos para voltar a gritar campeão do torneio mais
importante do país. E foi mais do que merecido e com um sabor mais do que
especial.
O título em si já seria motivo de sobra para comemorar, mas
fica ainda mais saboroso diante de tudo que aconteceu ao longo do ano e,
principalmente, pelo elenco que é certamente o mais palmeirense dos últimos
tempos. É difícil escolher apenas um jogador que mereça o carinho da torcida
palmeirense.
A sintonia time-torcida transcende completamente o jogo de
futebol – e, é claro, isso não é só um jogo. Nunca foi. E talvez não há exemplo
maior disso que o nosso Dudu, que a cada jogo parece mais um torcedor dentro de
campo: xingando, vibrando, chorando. Não há quem não goste de ter um jogador
assim no seu time. Ninguém mais do que ele merecia levantar a taça. E que
belíssimo chapéu!
Não muito atrás temos o nosso profeta Moisés que ajudou a
abrir muitas das defesas nesse campeonato, além de superar toda desconfiança e
uma lesão para ser um dos melhores jogadores do campeonato. E ainda defendeu o
clube como um verdadeiro torcedor, inclusive questionando certa emissora ao
vivo sobre uma diferença de tratamento.
Impossível também não resumir um dos pilares desse time no
momento que aconteceu na reta final do jogo diante da Chapecoense. Esqueça
qualquer drible, chute ou passe, o momento em questão é uma substituição. Com uma
dupla homenagem que emocionou a qualquer um: Jailson sendo merecidamente
ovacionado por um estádio que via um dos grandes ídolos atuais voltar a campo.
Justo essa troca que, meses antes, parecia ser o fim do sonho para o
palmeirense.
A cena que fez o estádio desabar em lágrimas: Prass volta aos gramados no lugar do decisivo e invicto Jailson. (Foto: Blog Mauro Beting) |
E as histórias bonitas não param por aí. Tem a superação de
Vitor Hugo, aquele mesmo que começou sua trajetória com a camisa verde errando
um recuo em seu primeiro clássico, mas que hoje é um dos jogadores preferidos
da torcida nesse elenco e que cansou de fazer gols desde que chegou por aqui.
Tem a adaptação imediata de Tchê, Tchê, Mina e Roger Guedes, também importantes
demais nessa conquista. Tem também a representação máxima de um time que joga
com doze ou treze (Edu Dracena, Cleiton Xavier e Thiago Santos cansaram de
iniciar partidas) e que joga junto com a sua torcida.
E falar o que do “menino” Zé Roberto – jogador que mesmo
quarentão participou de um dos lances mais emblemáticos da campanha
palmeirense: aquele incrível carrinho que evitou um gol do Cruzeiro de maneira
fantástica e que valeu um ponto importante na oportunidade – e do contraste com
o menino (e sem aspas) e xodó Gabriel Jesus que nem foi e já deixa saudades?
Por tudo isso e um pouco mais que tornaria este texto ainda
mais longo do que já é, esse time encarnou na sua alma aquilo que o torcedor
sempre sonha em ver no seu time. Um grupo que passou a sentir, aos poucos, o
que é ser Palmeiras. Que se arrepia ao ouvir o “Meu Palmeiras”, saber que faz
parte da pátria do palmeirense e que comprovadamente tem efeito como mostram os
próprios jogadores.
Ser Palmeiras, contudo, é mais do que entender o sentimento
que transborda na Turiassu e nos arredores do Allianz Parque. É entender que um
gigante desses incomoda muita gente e que, aqueles que não vivem isso certamente
tentarão atrapalhar. A imprensa esportiva brasileira nunca foi das melhores na
imparcialidade, mas quebrou todos os protocolos e assumidamente passou a torcer
por um time.
Assim, Cuca & Companhia precisaram ouvir críticas sobre
o modo de atuar, os gols de bola parada ou mesmo a falta de um futebol bem
jogado que outros concorrentes apresentaram por poucas vezes, mas o suficiente
para receber um festival de elogios. Com raras exceções, os critérios eram
diferentes dependendo da camisa. “Grupo rachado” ou “Cuca perdeu o elenco”
foram repetidas insistentemente.
O Palmeiras que jogou bem no primeiro turno foi simplesmente
esquecido e a segurança defensiva do segundo turno (elogiada em outros tempos
para outras camisas) virou motivo de crítica. As comparações com rival campeão
no ano anterior ignoraram o nosso bom primeiro turno e o (tecnicamente) péssimo
primeiro turno que eles fizeram em 2015.
(Foto: Globo Esporte) |
Manchetes buscando animar os concorrentes eram feitas a todo
o momento. Em um dos casos mais bizarros, uma emissora divulgou que a
disciplina poderia decidir o campeonato, mas ignorou o fato do Verdão não ter
nenhum jogador expulso. A coisa chegou a passar dos limites quando outro canal
teve tratamento absolutamente oposto entre as invasões de aeroporto feitas por
flamenguistas e palmeirenses. Teve até revista que “jogou no lixo” suas
próprias publicações para uma polêmica barata e baixa sobre os títulos
anteriores a 1971.
Na reta final, já no desespero, apelaram até para um absurdo
e ridículo fechamento da rua mais palmeirense do Brasil – e que nem precisaria
de um novo nome para se firmar como tal. A polícia militar, sempre péssima, fez
de tudo para atrapalhar a alegria alviverde, mas assim como alguns colegas da
imprensa, fracassou. Se a Turiassu só pode ser tomada depois do jogo, a região
ficou ainda mais verde em outros lugares.
E tudo isso chegou aos jogadores. Foram eles os responsáveis
em fazer de cada jogo uma final, de responder dentro das quatro linhas às
críticas (algumas raras justas, outras tantas absolutamente injustas) de uma
imprensa parcial e de comemorar junto de quem sempre esteve do lado deles. O
lema da torcida (“estamos juntos”) nunca fez tanto sentido.
Esses todos que tanto criticaram só esqueceram que o time em
questão era o Palmeiras. O mesmo que passou o ano sendo menosprezado e criticas
como havia sido em 2015 durante a Copa do Brasil. Como é desde 1942. E queremos
que seja em 2017. Nenhum time gosta tanto desse clima de adversidade como este
que é o maior campeão nacional. Afinal, o final desse enredo é o mesmo quase
sempre – e costuma ter final verde.
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