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Entre proibições e obstáculos ele resiste: Por que não comparar o futebol feminino?

Brasil conquistando sua 7° Copa América (Foto: Conmebol)
Recentemente as redes sociais foram inundadas com discussões sobre Futebol Feminino e pedidos de mais visibilidade para Elas. Isso acabou resultando em algumas comparações entre as categorias do esporte. Mas por que essas comparações e essas discussões mais atrapalham do que ajudam o Futebol Feminino a se tornar mais forte?

Antes de responder essa pergunta e de propôr este debate, traremos um apanhado histórico para você poder entender um pouco mais sobre a categoria.

Em 1921 ocorreu o primeiro jogo de Futebol Feminino no Brasil, entre Cantareirenses e Tremembenses, num evento de São João. Mas logo este começou a ser ridicularizado e apresentado em circos. Definitivamente não era um esporte que agradava os conservadores e nem Getúlio Vargas. Por isso, no dia 14 de abril de 1941, Vargas tentou decretar o "fim" da modalidade.
Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.
Entretanto, como o Decreto-Lei não citava as modalidades especificamente, procuraram maneiras de burlá-lo, especialmente em Minas Gerais. Isso acabou gerando um novo problema. Durante o regime militar, o Conselho Nacional de Desportos resolveu reafirmar esss proibição através da Deliberação n° 7, em 1965. Piorando ainda mais a situação feminina no esporte.
Não é permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, pólo, rugby, hanterofilismo e baseball.
Assim, o desporto foi criminalizado por 40 anos. Apenas em 1979 esta proibição foi revogada, mas só em 1981 foi oficializada. Porém somente dois anos após a oficialização, o Futebol Feminino passou a ser reconhecido como esporte. Foi uma longa história de obstáculos, preconceitos e proibições. 

Estes 40 anos de proibição acabaram prejudicando o desenvolvimento e a profissionalização da categoria feminina. Foram quatro décadas de atraso em relação ao Futebol Masculino.

Talvez isso já responda a pergunta inicial. É injusto comparar uma categoria que teve todo o tempo do mundo para crescer com uma que teve que enfrentar muitas barreiras para se tornar o que é. Além do mais, essas discussões acabam por te fazer achar que precisa escolher um lado, quando ambas as categorias podem e deveriam caminhar juntas. Cria-se uma rivalidade que acaba por prejudicar o lado "mais fraco" e que não aumenta em nada a visibilidade conferida às mulheres.

É muito fácil sair compartilhando notícias de grandes feitos delas sem procurar dar visibilidade para estas grandes mulheres. Enquanto a discussão acontece na internet, muitas mulheres lutam para se profissionalizar como atletas, com pouquíssimos olhares voltados a elas. Enquanto a discussão acontece, elas jogam campeonatos, conquistam títulos e muitos sequer são informados disto. Enquanto essa discussão acontece, elas vêem uma nova esperança que isso possa se transformar, de alguma forma, em visibilidade para elas. Mas isso não acontece. 

As 4 décadas jamais serão esquecidas, a dívida jamais será paga, mas nós podemos escrever uma história diferente, para que daqui há 40 anos possamos ter um Futebol Feminino com muito mais apoio e visibilidade.

Este ano temos diversas oportunidades de apoiar o esporte. Estamos no meio do Brasileirão Feminino e quem quiser saber mais sobre os jogos e times participantes, basta clicar aqui. Em agosto, mais precisamente no dia 5, começa a Copa do Mundo Sub-20 de Futebol Feminino, na França, e o Brasil estará presente. Em novembro teremos a Copa Libertadores Feminina e ela será realizada no Brasil, com três representantes brasileiros, o Iranduba, o Audax e o Santos.

Em 2019 teremos a Copa do Mundo de Futebol Feminino na França e ainda não reivindicaram os direitos de transmissão no Brasil. 

A categoria grita por incentivo e ele precisa começar por algum lugar. Por que não por nós?

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