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O preço do desequilíbrio

(André Melo de Andrade/Eleven)


Noite fúnebre no Maracanã. Daquelas que resultam em um pós-jogo em que o desconhecido na descida da rampa vira e manda um "Libertadores não é pra gente, não. Toda vez é a mesma coisa". Noite que trazia consigo todos os prenúncios de um desastre. E foi o que aconteceu. O Cruzeiro de Mano Menezes jogou certeiramente nos erros no Flamengo e no desequilíbrio entre as posições dos 11 rubro-negros.




O público já era um mal sinal. Apenas 39 mil vendidos. A polícia de preços (60 reais o ingresso mais barato, contando com o desconto para Sócio-Torcedor), se mostrou mais uma vez falha. O melhor jogador do time fora por um cartão imbecil no último jogo da fase de grupos. Torcida sem bateria tinha menos potencial na arquibancada. Pra completar, dois acidentes no túnel Rebouças pararam o trânsito na chegada ao estádio, e boa parte dos rituais supersticiosos do pré-jogo foram prejudicados. O amigo que vos fala por exemplo, precisou andar por mais de uma hora, pra acelerar sua chegada ao jogo. Da INTO ao Maracanã. Quem conhece o Rio sabe o chão que é.




Tudo isso pareceu ter passado para o campo. Depois do primeiro gol cruzeirense, todos as divididas, espirradas e carrinhos eram azuis. Mas o gol em si, responsável por desmontar o esquema do time e a empolgação da arquibancada, não teve nada de acaso.




Pessoalmente não gosto de Mano Menezes, mas seus times são muito bem treinados para mata-matas. O técnico escala seu time pra derrotar seus adversários onde eles são mais fracos e assim constrói suas vitórias.




Mano observou os últimos jogos do Flamengo. Todos os últimos gols tomados pelo time titular vieram de falhas do setor esquerdo da defesa. Apesar de ser o setor com o melhor lateral no quesito defensivo, Marlos volta pouquíssimo para marcar e Diego, quando vai a frente, tem grande dificuldade para voltar com velocidade. Em falha de Marlos, Thiago Neves teve todo o tempo do mundo pra escolher o que fazer. Deu a Robinho que com passe brilhante achou um companheiro livre pra marcar. Cruzeiro 1x0.




Dali em diante o Cruzeiro impôs o que queria e definiu toda a sua estrutura. Os mineiros jogaram na ilusão do bom elenco do Flamengo.




Sim, uma ilusão. Não temos um bom elenco. Nunca tivemos. Temos excelentes peças, mas estamos muito longe de confiar nos reservas que entram nos lugares dos titulares.




Acima de tudo temos um elenco desequilibrado, com muito mais opções para a frente do que atrás. Até pouco tempo, não tínhamos um reserva pra primeiro volante que não nos gerasse calafrios. A zaga sobrevive de dois garotos, e as laterais são um problema crônico.




O Cruzeiro notou que para parar o Flamengo não era necessário marcar as opções de passe dos seus meias. A solução era apenas direcioná-las. Na direita, quando Everton Ribeiro tinha a bola a defesa marcava Jean Lucas, o que dava a ele Rodinei como única opção. Na esquerda, o mesmo com Diego, Marlos e Renê. Assim, tínhamos dois laterais com a bola quase o tempo todo. Dois laterais que não sabem cruzar e um centroavante que só sabe cabecear. Resultado: pouquíssimas chances de gol. Pior ainda, as duas únicas do primeiro tempo caíram nos pés de Rodinei, que finalizou como uma criança de 5 anos.




Para atacar o Cruzeiro tinha jogadas marcadas. Sabendo que a esquerda era o elo mais fraco, Thiago Neves fazia facões diretamente nas costas de Renê e quase sempre recebia em boas condições. Enquanto isso, Barcos ficava em Leo Duarte, que fez ontem uma partida pavorosa e esquecível. Perdeu todas as divididas, não antecipava as jogadas adversários e caía nas malandragens dos atacantes. É um zagueiro ok, nada mais do que isso, o que ficou provado mais uma vez.




E assim foram os 70 minutos seguintes, até que em jogada de sorte e oportunismo, Thiago Neves desviou chute de Lucas Silva e fechou o caixão. Cruzeiro 2x0 Flamengo. Nos minutos seguintes, ainda teria chance para marcar pelo menos mais duas vezes.




De positivo para os rubro-negros, praticamente nada. Apenas bons lances de Vitinho pela esquerda, mas que foram muito prejudicados por sua solidão. Além disso, os 15min em jogou provaram que Lincoln é o melhor centroavante que tem o Flamengo.




E foi assim que acabou a noite no Maracanã. Em clima fúnebre de decepção com mais uma provavel eliminação na Libertadores. Mas como ser flamenguista é loucura, e os personagens são fartos, a noite se encerrou com mais um causo. Na van de volta pra casa, uma senhora tão desbocada que foi apelidada pelos passageiros de Dercy, passou a viagem todo dizendo que não voltaria mais ao estádio esse ano porque os jogadores não mereciam. Ao descer da van, suas últimas palavras foram: "Domingo estamos de volta".




Ser Flamengo é ser desequilibrado. No time, com pontos fracos. No planejamento, a possibilidade de sair de agosto sem as três competições pelas quais lutava. Na torcida, a cabeça inchada no dia seguinte, mas que voltará ao Maracanã no domingo. Seja pra lavar a alma ou bater a cabeça na parede de novo.




No mais,

Saudações Rubro-negras.

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