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Heróis de uma nação: Ele.



Eram 43 do segundo tempo. Seu último toque na bola havia sido um passe ridiculamente mal dado. Sua última participação, uma falta boba na lateral do campo. 

Minuto 43. Correu pela direita e abriu espaço pedindo bola para avançar. Ela não veio. Foi parar em seu amigo Bruno Henrique, que desacelerou tudo. Esperou na área. Viu de longe Bruno cortar, carregar pro meio e passar. Viu Arrascaeta correr pra bola e foi andando com calma em direção ao gol. Queria a pelota. Só faltava o Arrasca alcançar. "CHEGA, ARRASCA". 

Minuto 43. A bola vinha em sua direção e o gol estava aberto na sua frente.

PAUSA. Rebobina a fita.

Foi no dia 9 (não poderia ser outro) que Gabriel Barbosa, codinome Gabigol, fechou com o Flamengo. Lembro de alguns meses antes quando um amigo dizia pra mim: "Esse é o centroavante do Flamengo." Eu nem bola. Não tinha tanta certeza assim. Ainda bem que estava errado.

Gabigol foi paixão instantânea. A torcida se apaixonou por ele, e ele pela torcida.

É um dos jogadores com mais cara de Flamengo que já vi vestir a camisa. Folgado, marrento e abusado. Das provocações, dos sorrisos zombados, dos escândalos irritados. Nervoso, a flor da pele, indignado. Confiante, certeiro, arrepiado. Dos dribles, dos gols, dos momentos emocionados. Melhor do que isso, só se fosse carioca nascido e criado.

Flamengo e nação, assim como a paixão, foi pura poesia.

Foram tantos momentos inesquecíveis que perdi a conta. A risada que deixou Castán e Werley loucos. As danças ao som de Nego Ney. A expulsão boba contra o Peñarol. Chutando a garrafa na comemoração contra o Botafogo. A festa pós-Emelec. As pedaladas em frente a Felipe Melo. Galvão gritando "Gabigol tá pedindo!". As declarações de amor. As dancinhas no inacreditável 5x0. As camisas nas mãos dos garotos rubro-negros. As camisas nas mãos de garotos não rubro-negros.

Todas as vez que ele levantou a plaquinha.

As várias vezes em que levantamos nossos braços em forma de muque pra comemorar com ele.

Fluminense. San José. LDU. Atlético Paranaense. Botafogo. EMELEC. Vasco. Palmeiras. Internacional. Fortaleza. Grêmio.

E mesmo que não tivesse acontecido nada disso.

Minuto 43. A bola veio e ele pôs pra dentro. Demos o grito mais roco de nossas vidas.

Minuto 46. A bola se ofereceu e disse "ME CHUTA". E ele foi mais uma vez Gabigol, causando a maior onda de choro coletivo já vista na história da humanidade.

Só isso já o faria suficientemente ídolo. E ele é.

Um ano de uma paixão absolutamente avassaladora. Ardente, correspondida, brilhante e contagiante. Tão incrível que parece impossível, daqueles sonhos de adolescente que jamais se realizariam.

Mas se realizou. Ou pelo menos eu ainda estou tentando acreditar que tudo isso aconteceu.

Se vai virar um amor duradouro, não faço a menor ideia. E se não for, não tem problema. Afinal, as paixões são também a chama da vida e mesmo aquelas intensas mas que duram pouco, elas ficam pra sempre na nossa história.

Obrigado, Gabigol, por todas as vezes que você me fez levantar o muque, a plaquinha e as lágrimas.

No mais, 
Saudações rubro-negras.

(Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo)

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