O começo de ano, geralmente, é a época de os torcedores baterem de frente com os jornalistas (ainda mais do que em qualquer outro período). Enquanto os primeiros exigem a queda das figuras que não dão certo no time, os segundos pedem cautela, e tempo de trabalho. Mas, nesse ano, a banda não toca assim; ou, pelo menos, não com o Vasco. Existe uma unanimidade, da passionalidade das arquibancadas à crítica dos especialistas: Abel, se continuar com esse desempenho, não dura no Gigante da Colina. Talvez nem até o fim do Carioca. E com razão.
Em 4 partidas, o Vasco tem um desempenho injustificável para um gigante do Rio – 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas. A única vitória veio com um gol tardio, em uma jogada isolada, em cima de um fraquíssimo Boa Vista contra o qual o cruzmaltino mal conseguiu criar. O empate com o Bangu, na estréia, acabou sendo relativizada... Era uma estreia, afinal. Porém, a derrota para o Flamengo (com a decisão burra de colocar um time de meninos, quando precisava do resultado mesmo contra o sub-20 rival) e o fracasso contra a Cabofriense (até então o pior time do grupo, sem um gol sequer e 6 contra) já estão torrando a paciência do torcedor.
Alguns até diziam que era necessário ver o trabalho de Abel antes – que as críticas quando da contratação eram precipitadas. Agora, mesmo esses defensores estão mudando de ideia: todas as críticas feitas ao treinador se provam verdadeiras à medida que o tempo passa. O jogo adiado contra a Cabofriense, hoje de manhã, representa bem o que já era dito: o time seria sem cara, sem repertório e nem recurso, e aparentemente com um técnico sem conhecimento sobre o próprio elenco.
Já no primeiro tempo, percebia-se uma dificuldade absurda para furar a retranca da fraquíssima e insegura Cabofriense. Menosprezando por completo o jogo pelas pontas, a equipe de Abel congestionou completamente o meio do ataque, inclusive facilitando ao adversário também congestionar o seu campo defensivo, anulando as jogadas. A movimentação para as linhas de passe quase não existia; e, quando era feita, acabava mal aproveitada. Percebendo que a posse não se convertia em chances, Raul até buscou alguns lançamentos para infiltrações dos atacantes. Mas foram mal-executados.
Claramente, a aproximação dos pontas para o centro do ataque não funcionava. Mas Abel insistiu – e mais do que isso, piorou a situação. Como se o meio do ataque já não estivesse um caos, o treinador pediu para Talles Magno jogar atrás do centroavante, como um ponta de lança. Isto é, deslocou o jogador mais criativo do time da posição em que ele melhor, perdendo o ataque e a ponta-esquerda (aberta para Henrique, lateral de péssimo nível técnico).
Sem o jogo coletivo, a maior individualidade do time – o garoto Talles –chamou a responsabilidade. Vieram de seus pés algumas boas jogadas, e também um chute de longe que assustou a meta adversária. Mas a criatividade do Vasco se resumia a isso. Com esse primeiro tempo risível em casa, a equipe ainda viu um atrasado Werley fazer um pênalti indiscutível no atacante que infiltrava. Pênalti convertido. O Vasco foi para o vestiário atrás no placar.
O começo do segundo tempo indicava uma mudança de atitude. O time começou muito mais intenso, com Juninho no meio de campo e o garoto Vinícius fazendo uma fumaça pela ponta. Mas, ainda assim, a bola não chegava em Germán Cano, centroavante que sempre esperou pela bola na área. Mesmo buscando, agora, o jogo pelas pontas, o Vasco esbarrou em outro problema: a incapacidade de seus pontas conseguirem passes cruzados para a área. Se a equipe não conseguia fazer jogadas por baixo pelo centro do campo, agora falhava também nas alternativas laterais.
Na incapacidade total (técnica e tática) de conseguir qualquer jogada, Marrony irritou ainda mais a torcida quando tentou 3 chutes absurdamente longe da meta, ignorando as decisões melhores. Como se fosse resolver alguma coisa, Abel colocou mais um atacante – o Ribamar –, deixando o Vasco com muitos jogadores na última linha para pouquíssimos que pudessem articular jogadas. Próximo do desespero, Abel resolveu congestionar a área, e sacrificou assim o setor de criação, sem o qual a bola sequer chega nessa zona do campo. Simplesmente ridículo. Absurdamente amador. E, no fim, uma derrota para a péssima equipe que havia sofrido um 4x0 para o Volta Redonda.
É apenas o quarto jogo de Abel Braga no comando do Vasco. Mas bem parece um roteiro de fim de trabalho. O medalhão (medalhão?) já havia mostrado um desconhecimento absurdo quando escalou cinco atacantes para o jogo de meninos, contra o Flamengo. Para se defender, afirmou que nem todos estavam atuando lá na frente, como se houvesse grandes méritos em queimar jogadores jovens, escalando-os em posições inéditas. Tiago Reis, centroavante clássico, cuja única característica é a finalização, foi recuado para a função de criador. É estúpido demais pensar que uma decisão como essa é razoável. E ainda mais pretensioso considerar que a torcida vai ficar calada enquanto o treinador vomita na escalação do Vasco.
Na ocasião, a equipe cruzmaltina perdeu. Abel, como se não entendesse o que é Vasco x Flamengo, como se desconhecesse o clássico dos milhões, teve a brilhante ideia de dizer que "foi lindo". Foi lindo? Perder para o Flamengo? Não apresentar nem um time razoável, ou sequer o mínimo de consistência e desempenho? O que foi lindo, Abel?
Agora, a única coisa que resta ao torcedor vascaíno é rezar por um milagre. A queda de Abel era, antes, apenas um episódio bíblico; hoje é um desejo de mais de 20 milhões de vascaínos ao redor do Brasil. No que depender do desempenho dentro de campo, dos resultados, e mesmo das declarações sem qualquer conexão com a realidade, Abel de fato não dura tanto assim. E talvez, hoje, essa seja a única perspectiva, para o vascaíno, de almejar qualquer coisa este ano. A realidade do time é no momento de quem chega para lutar contra o rebaixamento. O Vasco precisa de mais. O time do Vasco já foi lindo. E, pro bem da verdade, a carreira do Abel também. Mas hoje a realidade é outra.
Hoje, talvez seja melhor pro treinador começar a apresentar trabalho e bola. Por que se não, digamos a verdade, dificilmente ele termina o carioca à frente do Vasco. Vamos ver como os próximos jogos do Vasco se desenrolam (ou se enrola pro Abel). Agora, o que resta é esperar. E lamentar por tudo que já foi lindo. E não é mais...
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