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Driblar é resistir



Antes do texto, você já ouviu o último LinhaCast, o podcast do Linha de Fundo? Essa semana o tema foi a volta da série A1 do Brasileirão de Futebol Feminino. Clique aqui e ouça:

Uma das coisas que mais me irrita no futebol é esse tipo de lance. Alguém faz um lance de habilidade e toma uma bordoada por isso.


Pego um exemplo rubro-negro, para demonstrar o quanto me irrita.

Mas não pelo jogador somente. Me irrita mais ainda que tenha gente que ache isso certo.


Se tem uma coisa que aprendi estudando futebol, é que ele é uma espécie de educação sentimental. O espaço futebolístico cria infinitas possibilidades, em um grande teatro humano, em que situações humanas são metaforizadas. Você escolhe os sentimentos que bota para fora em cada jogada, gesto ou grito de arquibancada.

Aprendemos a perder, a vencer, a admirar, a respeitar, ser solidário, ser honrado e treinar nossas emoções em todos os casos. Ou simplesmente deixamos elas virem à tona e despertar o que de pior há em nós.

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Está errado tanto quem tripudia do derrotado quanto quem vem na pancadaria.

Em campo, a todo momento você escolhe qual decisão toma. Você tem a opção de fazer a jogada mais complicada ou a mais simples. 

E como na vida, a jogada arriscada pode ser a sua ruína, mas é quando você acerta que todas atenções do mundo recaem sobre você e o seu brilhantismo aparece.

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Poderia ter sido só uma chegada na linha de fundo e um cruzamento comum. Mas a escolha arriscada de Berrío tornou aquele lance eterno na vida dos rubro-negros. Para sempre virou "o drible do Berrío".



O futebol é sobre isso. Sobre encantamento, sobre beleza, e sobre encontrar o caminho da vitória. Melhor ainda se ela vier acompanhando de brilhantismo.

O gesto técnico é o ápice. São lances como os de Pelé, Neymar, Maradona, Ronaldinho e etc que nos maravilham e deixam encantados.

Ronaldinho treinou o drible aplicado em Dunga no Gre-Nal de 1999 ...

O driblador é um artista, um divergente, um fora de série. É alguém que sai do padrão. E no futebol, esse cara é o grande homem do espetáculo.

Messi faz você parecer estúpido" - BeSoccer

Por quê então estaria correto aquele que apela para a ignorância, para o anti-jogo, e arrebenta um driblador simplesmente por ser driblado?

COMENTE] Como você avalia o futebol apresentado pelo Palmeiras ontem?

Como alguém pode dar razão a ele? Você pode compreender, mas jamais justificar.

Imagine o que seria de Garrincha, a alegria do povo.





Índio das pernas tortas, o homem que era a alegria do povo jamais jogaria nos tempos de Felipe Melo. Ia tomar tanto bordoada que não ia conseguir se levantar.

Achar que um jogador pode dar um pontapé no outro simplesmente por ser driblado é síntese de um pensamento fascista, enrustido, passivo e agressivo.

Lamentável! Felipe Melo dá 'solada' no ombro de jogador da Lazio e ...

"Já que eu não consigo fazer isso, vou te bater. Já que me sinto acuado e incapaz, vou acabar com seu brilho".

Não à toa Felipe Melo tem a preferência política que tem.

O que Juan disse para Maiconsuel naquele dia foi: "Você não tem o direito de brilhar."



"Já que não consigo te marcar melhor do que você me dribla, tu vai ficar aí no chão".

Defender outros exemplos como o de Juan é colocar a culpa da agressão na vítima, e não no agressor. Você consegue entender a metáfora para outras questões fora do futebol. Lembra do papo sobre educação sentimental?

A gente hoje já chegou em um ponto em que os juízes pedem aos jogadores habilidosos que parem de driblar porque serão atacados.


A imprensa e a autoridade máxima em campo vão polindo o talento, sufocando o diferente, o extraclasse, o artista.

Por isso o artista reage.

Greengo Dictionary on Twitter: "🇺🇸 “BE PATIENT IS THE DICK ...

Queremos ser nivelados por baixo. É a busca da mediocridade.

Não nos educamos sentimentalmente. Deixamos o que há de mais grotesco e invejoso vir à tona, enquanto o brilho é apagado.

O futebol é o teatro humano de um mundo moderno podre e mesquinho.

Ultrajano على تويتر: "Ao cão danado... Quanto mais apanha dos ...

De minha parte, os dribladores podem fazer o que quiserem. E na dúvida, dado o contexto geral, fico muito mais com o provocador que tripudia do derrotado com o drible do que com o defensor que perde a razão.

Minha torcida é para que os divergentes continuem sendo resistência e encantando toda a gente nos estádios lotados.




E que os trogloditas apenas rosnem, mas não mordam.

No mais,
Saudações Rubro-negras.

Por Gabriel Félix
Colunista do Flamengo pelo Linha de Fundo.

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