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Os jogos da minha vida #2 - Galo 1x1 Tijuana

Foto: Globoesporte.com
Bem, amigos do Linha de Fundo, aqui estou para dar sequência à série de textos que relatam os grandes jogos do Galo que marcaram a minha vida. No primeiro, escrevi sobre Galo 3x2 Fluminense, pelo Brasileirão de 2012. Você pode lê-lo clicando aqui. 👍

Hoje vou falar sobre o jogo que, na minha opinião, foi a libertação para o nosso clube. Ainda que nós não soubéssemos disso naquele momento, aquele Galo x Tijuana, válido pelas quartas de final da Libertadores de 2013, foi a quebra do estigma de time azarado (leia-se cavalo paraguaio) que nos perseguiu em vários momentos de nossa história. Sete anos depois, fica mais fácil perceber por quê.

Eis o contexto daquele confronto: o Tijuana era um adversário super inexpressivo. Fundado em 2007, o clube mexicano disputava a Libertadores pela primeira vez. Na primeira partida, na terra do Chaves, o Galo arrumou um ótimo empate após estar perdendo por 2x0.

Além disso, nós tínhamos a melhor campanha geral da competição continental. Havíamos passado com muita tranquilidade pelo tradicionalíssimo São Paulo, ou seja, éramos muito favoritos para ir às semifinais e até a torcida sabia disso. Por isso, todo mundo foi ao Independência usando a máscara do filme "Pânico". Afinal, a decisão era em casa e o time tava jogando muito. Qual a chance de dar errado?


As malditas máscaras.
(Foto: Boa Informação)
Bom, eu estava em casa, assistindo TV. Minha mãe não era ligada em futebol, então foi dormir assim que a novela acabou e eu fiquei vendo o jogo somente com meu pai.

A expectativa alta logo deu lugar a apreensão. O desempenho não era nada bom e o adversário era estranhamente melhor. Aos 25 minutos, Riascos abriu o placar.

O gol foi um baque. Mas tudo bem, éramos o Galo Doido, era questão de tempo até a gente tomar o controle do jogo. Pelo menos era o que minha ingênua cabeça pensava.

Na prática, o Alvinegro continuou penando pra criar alguma chance. O gol só saiu aos 40 minutos, após cobrança de falta de Ronaldinho e desvio de Réver. 

Mesmo com todos os indícios de que não seria um jogo fácil, eu ainda relutava em acreditar nisso. No alto dos meus 13 anos de idade, eu pensava que o empate seria o início de uma vitória sem maiores sustos.

No entanto, o Tijuana continuou apertando. Arce mandou bola na trave, Piceño perdeu uma chance frente a frente com Victor, Richarlyson foi expulso... Naquela altura do jogo o empate já tava ótimo, eu só queria a classificação.

O relógio do árbitro Patricio Polic apontava para os 47 minutos do segundo tempo quando uma bola lançada da casa do c****** achou Marquez na área, pronto para finalizar, até que Leo Silva o derrubou. Pênalti. 

Aquele apito indicando a penalidade me doeu como uma facada. O estádio ficou no mais absoluto silêncio, como eu nunca tinha visto na vida. A câmera da TV passava pelos rostos desolados nas arquibancadas, que procuravam aceitar a iminente eliminação com requintes de crueldade.

Na casa da minha minha mãe, eu estava incrédulo. Só conseguia pensar na zoação dos meus colegas de escola no dia seguinte. Meu pai, prostituto da cara, foi embora. Afinal, era muito óbvio para todos nós que seríamos desclassificados naquele momento, mesmo sendo avisados durante todo o jogo que a eliminação poderia acontecer. No entanto, fomos incapazes de enxergar a realidade, por causa das malditas máscaras.


A canonização de São Victor.
(Foto: Blog do Chico Maia)
Depois de muita reclamação por parte dos nossos jogadores, Riascos finalmente colocou a bola na marca da cal. Era o batedor oficial e tinha feito o gol do seu time. Ele só precisava converter a cobrança para se tornar o herói de um clube com pouquíssimos anos de vida e nenhuma tradição.

E lá foi ele, com seu pé direito, batendo forte, no meio do gol. Victor tinha caído para o lado direito e suas mãos estavam longe da bola. Foi aí que ele inexplicavelmente defendeu com o pé esquerdo.

Eu não entendia. "Como assim, ele defendeu COM O PÉ!?", me perguntei por um instante. 

"SIM, ELE DEFENDEU COM O PÉ!", respondi para mim mesmo na sequência. 

Naquele momento, eu não sabia direito o que fizer. Não poderia comemorar efusivamente, pois não queria tomar porrada da minha mãe. Foi aí que liguei para o meu pai para tirar uma onda com o fato de ele ter ido embora e não ter presenciado a redenção do Galo. Em outros tempos, a bola de Riascos entraria. Como entrou em 1977, 1980, 1981, 1999 e 2012. Durante todos esses anos, carregamos a sina de ser o cavalo paraguaio. O time que chega, mas não ganha. Que é vítima do azar (se é que existe azar) e das péssimas arbitragens.

No entanto, naquele dia 30 de maio de 2013, nos livramos dessa pecha e provamos para nós mesmos que podíamos vencer. A época do "quase" havia acabado ali. Deixamos de ser o time mais azarado do mundo para pavimentar o caminho para a conquista da América. 

Depois do jogo, jogamos as máscaras fora e nunca mais as usamos. Afinal, eram sinônimo de uma arrogância e vaidade que não combina com a gente. Pelo contrário, o atleticano sempre foi resiliente e consciente das dificuldades ao seu redor. E foi com esse pensamento que fomos campeões da Copa Libertadores da América de 2013.

Beijos.

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