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Heroínas do futebol: Michael Jackson #03

(Foto: Arquivo pessoal da atleta - divulgação do Museu do Futebol)

No terceiro texto da série “Heroínas do Futebol", você irá conhecer um pouco mais sobre Mariléia dos Santos, uma das grandes lendas do futebol feminino brasileiro e que chegou a ser comparada com Pelé e você já vai entender porque. Mas você dificilmente a conhece por este nome, já que Luciano do Valle a batizou de Michael Jackson, nome pelo qual acabou ficando conhecida. Mas antes de mais nada, te convido a conhecer nossa série e ler o último texto da série. É só clicar aqui.

A volante carioca era a caçula de 11 filhos e nasceu em 1963, dois anos antes da lei que proibia o futebol feminino se tornar ainda mais dura, no interior do estado. Apesar de a proibição estar em vigor, lá em Valença-RJ, Mariléia não era impedida de fazer o que gostava, pelo contrário, junto de seus 5 irmãos e 5 irmãs aproveitava campinho do bairro. Mariléia passou a infância sem desconfiar que a diversão dela não era permitida por lei, ela só foi descobrir quando sua cidade teve o primeiro time de futebol feminino. E só quando se mudou para a capital, com 20 anos e começou a jogar num time de verdade, que descobriu o preconceito que uma mulher que jogava bola podia sofrer.

Em 1983 a atleta chegou ao Radar, um dos mais lendários times de futebol feminino da história do Brasil. Foi lá que a jogadora encantou Luciano do Valle com seu futebol e recebeu dele o apelido de Michael Jackson, um pouco por causa do cabelo, um pouco por causa da importância de Michael Jackson (o cantor) para a música naquele momento. Mas claro, nem tudo eram flores, encantos ou aplausos. Enquanto vivia um dos seus melhores momentos como atleta, Mariléia ouvia muitos dizendo que ela não deveria estar ali, que seu lugar era na cozinha ou no tanque, com a certeza de que aquilo jamais a impediria, pelo contrário, virou combustível para o seu sucesso. Como com Zagallo anos mais tarde, tiveram que engolir a Michael Jackson.

(Foto: Arquivo pessoal da atleta - divulgação do Museu do Futebol)

E como não “engolir"? Na época em que jogava, o futebol feminino tinha acabado de ser liberado, mas era como se ela tivesse crescido num futuro pós-proibição, tido base e estrutura, era evoluída demais para o seu tempo. Como eu sei? Lembra quando eu disse que Michael Jackson era parada ao Pelé? Pois é, seus 1.574 gols podem explicar por si só o motivo da comparação. Foi artilheira em todas as competições que jogou. Só no Radar foram 800.

Michael Jackson foi excepcional por onde passou (e não foram poucos times, hein? Tupy-SC, América-RJ, Corinthians, Vasco e Internacional são só alguns deles) não atoa que se tornou a primeira brasileira a atuar profissionalmente na Europa, quando jogou no Torino, na Itália. Na seleção ficou por 12 anos, foram duas copas e uma olimpíada vestindo a amarelinha. Jogou futsal também, como a maioria das atletas de futebol feminino. Mariléia então, aos 46 anos, decidiu que era o momento de pendurar as chuteiras, mas isso não a impediu de continuar lutando pela modalidade. Foi tudo, ensinou meninas da sua cidade a jogarem futebol, foi assistente do Vadão em um torneio de Natal, até coordenadora geral de futebol feminino no Ministério do Esporte ela foi e foi responsável por diversos projetos que ajudaram o crescimento do futebol feminino, inclusive a articulação do retorno do Brasileirão Feminino com patrocínio da Caixa. 

(Foto: Arquivo pessoal da atleta - divulgação do Museu do Futebol)

É... Mariléia fez de tudo, até chegou a ser condecorada pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol) como a terceira melhor jogadora do Século XX na América do Sul, a única coisa que Michael Jackson não foi, foi reconhecida de fato. Ainda dá tempo de mudar essa história.


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