Faça Parte

 Heroínas do Futebol: Rosana #09

(Foto: Reprodução/Instagram)

No nono episódio da nossa série “Heroínas do Futebol” que procura trazer visibilidade para a história de atletas do nosso país, mostrando que temos um Brasil além da Rainha Marta, será apresentada a vida e a carreira de uma atleta que lutou muito (e ainda luta) pelo futebol feminino. Mas antes de vocês conhecerem Rosana, cliquem aqui para ler o oitavo episódio

Rosana dos Santos Augusto nasceu no dia 7 de julho de 1982, quando a lei que proibia o futebol feminino já havia sido revogada. Ela não viveu a proibição, mas sofreu com os efeitos dela. Com o atraso da categoria, a falta de estrutura e a não profissionalização da modalidade. Só que nada disso foi o suficiente para pará-la. Rosana, como vocês ainda vão descobrir, nunca deixa de lutar. 

Como a maioria das atletas daquela época, ela também começou cedo e também sofreu preconceito. Com seis anos já jogava nas ruas de São Paulo, onde nasceu e cresceu. Mas bastava alguém gritar “teu pai” que ela voltava correndo para casa, é que o pai não entendia esse amor pelo futebol. Aos 11 anos já chamava atenção nas competições escolares jogando futsal e com 14 foi vista pelo São Paulo. Ela chegou no clube querendo jogar futsal, mas os treinos eram muito longe de casa e, por isso, resolveu se arriscar no futebol. Deu certo. No ano seguinte disputou seu primeiro “Brasileiro”, denominado “Taça Brasil” e dois anos depois foi convocada pela primeira vez para a Seleção. 

Nessa época, Rosana precisou tomar uma decisão: realizar o sonho do pai de ter uma filha médica ou lutar para realizar o seu sonho. Foram 2 semanas de faculdade até a convocação vir. Ela acabou se sentindo obrigada a tomar uma decisão e não poderia ser outra. Mesmo contra a vontade do pai, que até já aceitava que ela jogasse, ela abandonou os estudos e foi em busca de realizar seu sonho de menina: jogar uma Olímpiada. Ela nem podia imaginar que um ano após a primeira convocação, já seria titular nos Jogos Olímpicos. 

Rosana é polivalente, jogava (ainda joga) tanto na lateral como no meio campo, e impressionava nas duas posições por tamanha ofensividade, por isso se tornou titular tão rápido na Seleção Brasileira e ficou tanto tempo vestindo a amarelinha, foram 18 anos no total. E com muitas conquistas. Duas pratas olímpicas, um ouro no Pan-Americano, uma Copa América e até uma vez vice num mundial. 

A segunda da direita para a esquerda, com a bandeira do Brasil no pescoço (Foto: Arquivo Pessoal)

Aí você pensa que parou por aí, né? Mas por clubes ela tem um histórico de impressionar. Ganhou quase tudo que foi possível. Teve Campeonato Paulista pelo Santos, Taça Brasil (que era o Brasileiro da época) pelo São Paulo, 4 Ligas Austríacas e 4 Taças Austríacas pelo SV Neulengbach, uma Liga Americana (Women’s Professional Soccer) pelo Sky Blue, uma Libertadores pelo São José e outra pelo Corinthians, um Mundial de Clubes pelo São José, venceu até uma Champions League pelo gigante Lyon, aliás, no ano que jogou no Lyon, conquistou foi uma tríplice coroa, Copa da França, 1º divisão e Champions. E esses são os títulos que tivemos acesso... já que muitos títulos de times femininos se perdem na história. Típica atleta que fede a título. 

A aposentadoria da Seleção 

Mas ela é mais que “só título”, Rosana não tem medo de usar sua visibilidade para lutar pelo que acredita. Em 2017, no seu último ano pela Seleção, por escolha dela, Rosana se colocou à frente de uma briga entre as atletas da Seleção Feminina e a CBF, por causa de uma demissão. É que a, até então, técnica da equipe, Emily Lima, primeira mulher a assumir este comando na história da CBF, foi demitida depois de 13 jogos (7 vitórias, 1 empate e 5 derrotas). Rosana não concordou, assinou uma carta endereçada a entidade com outras 24 jogadoras pedindo pela permanência de Emily no cargo, ao não acatarem o pedido, ela decidiu pela aposentadoria.

Sempre me posicionei, por vezes, somente internamente, outras em público. Me posicionava, porque sempre pensava no que eu poderia ganhar e não perder. Sim. Sofri retaliação, e o sonho ficou no modo abstrato. Mas deixei de ser conivente com o "errado"! E é por isso, que estou abdicando mais uma vez de um sonho. Não temos força e nem voz. E isso, um dia cansa! 

As quase desistências, a aposentadoria e a volta aos gramados 

Rosana pensou em encerrar a carreira diversas vezes, a primeira vez foi aos 20 anos, estava cansada de trabalhar somente “por amor”. Foi justamente quando o SV Neulengbach ofereceu uma proposta que a fez continuar no esporte. Depois, aos 32 anos, ela voltou ao Brasil para jogar pelo São José, estava certa que se aposentaria esse ano, estava noiva e não pretendia mais perder momentos longe da família. Dois meses antes do casamento, o noivo faleceu ao seu lado, enquanto dormiam. Aquele foi o pior momento da vida de Rosana, ele era o maior apoiador da carreira dela e era contra a aposentadoria, graças a muitos fãs, ela se reergueu. Foi por eles e pelo noivo que decidiu seguir sua carreira, queria agradecer toda o apoio que recebeu e queria fazer aquilo que o seu amor tanto a incentivou. 

No final de 2018, Rosana decidiu se aposentar de vez. Em um texto em suas redes sociais, disse que o ano acabava e sua carreira também, incentivou as meninas e mulheres que estivessem sonhando para não desistir e seguir correndo atrás dos sonhos. A aposentadoria, no entanto, durou pouco, em 2019, a Ferroviária fez uma proposta e ela resolveu “despendurar” as chuteiras para jogar a Libertadores com o time Paulista. 

Seu 2020 e suas projeções para o futuro 

(Foto: ESPN)

Rosana agora está disputando a Série A1 do Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras, sendo uma das poucas atletas a ter jogado nos 4 grandes de São Paulo. Para o futuro, a jogadora ainda não está certa se vai ser treinadora ou trabalhar com gestão na modalidade, a única certeza que ela tem é que não vai abandonar o seu sonho de menina, ela só quer estar no meio do futebol.

Postar um comentário

0 Comentários